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| ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO | |
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Autor | Mensagem |
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Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO Sex Out 16, 2009 4:55 pm | |
| Bendito Sejas
Bendito sejas, Meu verdadeiro conforto E meu verdadeiro amigo!
Quando a sombra, quando a noite Dos altos céus vem descendo, A minha dôr, Estremecendo, acórda...
A minha dôr é um leão Que lentamente mordendo Me devora o coração.
Canto e chóro amargamente; Mas a dôr, indiferente, Continúa...
Então, Febríl, quase louco, Corro a ti, vinho louvado! - E a minha dôr adormece, E o leão é socegado.
Quanto mais bêbo mais dórme: Vinho adorado, O teu poder é enorme!
E eu vos digo, almas em chaga, Ó almas tristes sangrando: Andarei sempre Em constante bebedeira!
Grande vida!
- Ter o vinho por amante E a morte por companheira!
António Botto, in 'Canções' | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO Seg Out 19, 2009 1:55 pm | |
| Andáva a Lua nos Céus
Andáva a lua nos céus Com o seu bando de estrellas.
Na minha alcova, Ardiam vellas, Em candelabros de bronze.
Pelo chão, em desalinho, Os velludos pareciam Ondas de sangue e ondas de vinho.
Elle olhava-me scismado; E eu, Placidamente, fumava, Vendo a lua branca e núa Que pelos céus caminhava.
Aproximou-se; e em delirio Procurou ávidamente, E ávidamente beijou A minha boca de cravo Que a beijar se recusou.
Arrastou-me para Elle, E, encostado ao meu hombro, Fallou-me d'um pagem loiro Que morrêra de Saudade, Á beira-mar, a cantar...
Olhei o céu! Agora, a lua, fugia, Entre nuvens que tornavam A linda noite sombría.
Déram-se as bocas n'um beijo, - Um beijo nervoso e lento... O homem cede ao desejo Como a nuvem cede ao vento.
Vinha longe a madrugada.
Por fim, Largando esse corpo Que adormecêra cansado E que eu beijára loucamente Sem sentir, Bebia vinho, perdidamente, Bebia vinho... até cahir.
António Botto, in 'Canções' | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO Ter Out 20, 2009 4:36 pm | |
| Por uma Noite de Outomno
Por uma noite de outomno Lá n'essa nave sombría, Hei-de contigo deitar-me, Mulher branca e muda e fria!
Hei-de possuir na morte O teu corpo de marfim, Mulher que nunca me olhaste, Que nunca pensaste em mim...
E quando, no fim do mundo, A trombêta, além, se ouvir, Apertar-te-hei mais ainda, - Não te deixarei partir!
A tua boca formosa Será sempre dos meus beijos; E o teu corpo a minha patria, A patria dos meus desejos.
António Botto, in 'Canções' | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO Qua Out 21, 2009 1:28 pm | |
| A Noite Suavemente Descia
A noite Suavemente descia; E eu nos teus braços deitádo Até sonhei que morria.
E via Goivos e cravos aos mólhos; Um Christo crucificado; Nos teus olhos, Suavidade e frieza; Damasco rôxo, cinzento, Rendas, velludos puídos, Perfumes caros entornados, Rumôr de vento em surdina, Insenso, rézas, brocados; Penumbra, sinos dobrando; Vellas ardendo; Guitarras, soluços, pragas, E eu... devagar morrendo.
O teu rosto moreninho, Eu achei-o mais formoso, Mas, sem lagrimas, enxuto; E o teu corpo delgado, O teu corpo gracioso, Estava todo coberto de lucto.
Depois, anciosamente, Procurei a tua boca, A tua boca sadía; Beijámo-nos doidamente... - Era dia!
E os nossos corpos unidos, Como corpos sem sentidos, No chão rolaram... e assim ficaram!...
António Botto, in 'Canções' | |
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| Assunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO | |
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