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| FILINTO ELÍSIO - O EXILADO | |
| | Autor | Mensagem |
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Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: FILINTO ELÍSIO - O EXILADO Sex Ago 20, 2010 12:58 pm | |
| Filinto Elísio (Lisboa, 23 de Dezembro de 1734 - Paris, 25 de Fevereiro de 1819), foi um poeta, e tradutor, português do Neoclassicismo. O seu verdadeiro nome é Francisco Manuel do Nascimento, e foi sacerdote. O seu pseudónimo, Filinto Elísio, ou também Niceno, foi-lhe atribuído pela Marquesa de Alorna (a quem ensinou latim quando se encontrava reclusa no Convento de Chelas), dado Francisco Manuel do Nascimento ter pertencido a uma sociedade literária - Grupo da Ribeira das Naus -, cujos membros adoptavam nomes simbólicos.
Biografia
Filinto Elísio nasceu em Lisboa, de origens humildes. Os pais, o pescador Manuel Simões e a peixeira Maria Manuel, eram naturais de Ílhavo, mas imigraram para a capital nos na sequência da decadência da faina pesqueira porque passou a região de Aveiro após o fecho do canal do que liga o rio Vouga ao mar, provocando o encerramento do porto.
Foi ordenado padre, em 1754, e influenciado pelo arcadismo, e pelo iluminismo. As suas ideias liberais levaram a que fosse denunciado à Inquisição, em 22 de Junho de 1778, pelo padre José Manuel de Leiva, que o acusou de «afirmações e leituras heréticas proibidas». Disfarçado de vendedor, consegiu fugir de Portugal e exilar-se em Paris, onde chegou a 15 de Agosto desse ano. Na capital francesa conheceu, entre outros, o poeta Alphonse de Lamartine
A vida em Paris foi difícil, e teve que traduzir obras francesas para subsistir. As suas poesias foram publicadas, aínda em sua vida, em Paris, entre 1817 e 1819. Só depois da sua morte, as suas obras seriam publicadas em Lisboa, entre 1836 e 1840. Em 1843 os seus restos mortais foram transladados para Lisboa, onde se encontra sepultado, no cemitério do Alto de São João.
Sua influência é vasta e se deu de forma mais direta no Pré-Romantismo, sobre autores como Almeida Garrett. Tal influência aparece sob a denominação de "filintismo". Foi um autor único em sua visão dos clássicos, pois dava relevo ao maravilhoso e até mesmo ao fantástico, pressentindo tendências modernas em meio ao racionalismo de seu tempo. Filinto tinha simpatia pelas ideias de Rousseau, pelos ideais da Revolução Francesa e por Franklin e George Washington. A queda da Bastilha o trouxe um sentimento possitivo e seu sentimento por sua nação, ao contrário, parecia frequentemente negativo, com resquícios de rancor contra a Inquisição que o exilou. | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: FILINTO ELÍSIO - O EXILADO Ter Ago 24, 2010 12:14 pm | |
| Ode à Amizade
Se depois do infortúnio de nascermos Escravos da Doença e dos Pesares Alvos de Invejas, alvos de Calúnias Mostrando-nos a campa A cada passo aberta o Mar e a Terra; Um raio despedido, fuzilando Terror e morte, no rasgar das nuvens O tenebroso seio A Divina Amizade não viera Com piedosa mão limpar o pranto, Embotar com dulcíssono conforto As lanças da Amargura; O Sábio espedaçara os nós da vida Mal que a Razão no espelho da Experiência Lhe apontasse apinhados inimigos C'o as cruas mãos armadas; Terna Amizade, em teu altar tranquilo Ponho - por que hoje, e sempre arda perene O vago coração, ludíbrio e jogo Do zombador Tirano. Amor me deu a vida: a vida enjeito, Se a Amizade a não doura, a não afaga; Se com mais fortes nós, que a Natureza, Lhe não ata os instantes. Que só ditosos são na aberta liça Dois mortais, que nos braços da Amizade, Estreitos se unem, bebem de teu seio Nectárea valentia. Tu cerceias o mal, o bem dilatas, E as almas que cultivas cuidadosa, Com teu suave alento aformosentam-se Medradas e viçosas. Caia a Desgraça, mais que o raio aguda Rebente sobre a fronte ao mal votada, Mais lenta é a queda, menos cala o golpe No manto da Amizade: E se desce o Prazer, com ledo rosto A alumiar o peito de Filinto, A chama sobe, e vai prender seu lume Na alma do fido Amigo.
Filinto Elísio, in "Odes" | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: FILINTO ELÍSIO - O EXILADO Sex Ago 27, 2010 4:52 pm | |
| Usos Deste Mundo
Nas praças uns perguntam novidades; Outros dão volta às ruas, ao namoro; Este usuras cobrar, esse as demandas Lembrar corre ao Juiz que se diverte. Ir de Jano aprender a ser bifronte, De Mercúrio, no trato, a ser bilingue, Franco no prometer, no dar escasso. C'os olhos fitos no ávido interesse Ser consigo leal, com todos falso É ser homem capaz, home' entendido. Assim, que vemos nós por este esconso Mundo? Vemos logrões, vemos logrados; Ninguém vês ir com cândido desejo Aos Sénecas, aos Sócrates de agora Perguntar as lições tão necessárias De ser honrado, ser com todos justo. Tão sobejos se crêem de honra e virtude, Que cuida cada um poder de sobra Mostrar na Ocasião virtude a rodo, E chega a Ocasião, falha a virtude.
Filinto Elísio, in "Miscelânia" | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: FILINTO ELÍSIO - O EXILADO Seg Ago 30, 2010 12:18 pm | |
| Saudade Extrema
Gentil Rola, que sobre o ramo seco, Desse viúvo freixo, brandas queixas Espalhas toda a noite, e escutas o eco Repetir-te mavioso iguais endechas:
Não chores. Ouve a meu saudoso canto, Que excede quanta mágoa arroja a sorte: Ninguém, como eu padece extremo tanto, Que a ninguém roubou tanto a crua Morte,
Tu viste Márcia: a Márcia, oh Rola, ouviste, Quanta beleza, oh Céus! quanta doçura! Tem coração de bronze quem resiste À dor de a ver no horror da sepultura.
Tu podes ter formosa companhia Terna e fiel. Filinto desgraçado Te perdeu a sperança lisonjeira De achar Márcia em transunto inanimado.
Filinto Elísio, in "Miscelânia" | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: FILINTO ELÍSIO - O EXILADO Ter Ago 31, 2010 11:32 am | |
| Que Mimoso Prazer!
Que mimoso prazer! Teu rosto amado Me raiou na alma! Oh astro meu luzente! Desfez-se em continente O negrume cerrado, Que me assombrava o coração aflito, Em saudades tristíssimas sopito.
Bem, como quando aponta o sol radiante Pelos ervosos cumes dos outeiros; Fogem bruscos nevoeiros, Da roxa luz brilhante; Assim, mal vi teu rosto, assim fugiam As Mágoas, que de luto a alma cobriam
Quem sempre assim de amor nos brandos laços! Doces queixas de amor absorto ouvira! Da idade não sentira O voo. Entre os teus braços Me corte o fio, com a fouce, a Morte; Que perco a vida, sem sentir o corte!
Se a meiga Vénus, se o gentil Cupido Cede a meus votos, cede à minha Amada: Se esta união prezada Não rompe um Nume infido... Não dou por mais feliz o vil Mineiro Sobre montes de sórdido dinheiro.
Não dou por mais feliz o Rei no trono Lisonjado de Cortesãos astutos. Já meus olhos enxutos, Já alegres dão abono Do gosto, em que se engolfa o peito, ao ver-te, Dos sustos, que se afastam, de perder-te.
Amor quanto é maior, mais é medroso: Descora, que lhe fuja o bem ganhado. Quase vejo roubado O Bem mais precioso... Das mãos m'o arrancam!... Márcia! e tu - consentes? Ah! Não digas, que me amas... Márcia... Ai... Mentes.
Quero deixar-te. - Antes que tu te enlaces Nos braços desse, que de Ti me priva. Resgato a alma cativa, Antes, que a eles passes. Não quero ver, em teus grilhões atado, Lograr-se outrem dum Bem, a mim roubado.
Irei vertendo lágrimas iradas Por essas nuas praias arenosas: Às Naiadas piedosas Minhas queixas magoadas Irei contar. Irei cravar no peito Um punhal, vingador de meu despeito.
Não, linda glória desta vida tua; Despe os temores de eu querer deixar-te Eu! - Que jurei amar-te! - A sorte amarga e crua Não fará que perjure a sã vontade De amar em Ti a minha Divindade.
Não Inconstância, não os Desfavores Menos puro farão meu canto amante. Que eu falte a ser constante Aos olhos roubadores, Às faces de carmim, madeixas de ouro, Em quem Vénus, e Amor põem seu tesouro!
Vivas ausente, ou vivas sempre à vista, O teu Filinto há-de adorar-te puro. Tens meu peito seguro, Tens segura a conquista: Nem doutra sorte esses teus olhos rendem, Nem estes meus outra adorar pretendem. Jurei a Amor em teu altar sagrado De agasalhar no seio a Lealdade. Não temas falsidade Num coração honrado. Não quebrarei o juramento amante, Que fiz ao Deus, que fiz ao teu semblante.
Filinto Elísio, in "Miscelânia" | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: FILINTO ELÍSIO - O EXILADO Qua Set 01, 2010 12:32 pm | |
| Uns Lindos Olhos, Vivos, Bem Rasgados
Uns lindos olhos, vivos, bem rasgados, Um garbo senhoril, nevada alvura; Metal de voz que enleva de doçura, Dentes de aljôfar, em rubi cravados:
Fios de ouro, que enredam meus cuidados, Alvo peito, que cega de candura; Mil prendas; e (o que é mais que formosura) Uma graça, que rouba mil agrados.
Mil extremos de preço mais subido Encerra a linda Márcia, a quem of'reço Um culto, que nem dela inda é sabido:
Tão pouco de mim julgo que a mereço, Que enojá-la não quero de atrevido Co' as penas, que por ela em vão padeço.
Filinto Elísio, in "Sonetos" | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: FILINTO ELÍSIO - O EXILADO Qui Set 02, 2010 11:56 am | |
| À Minha Morte
Sei, que um dia fatal me espera, e talha A minha vida o estame: Nem Prosérpina evita uma só frente. Sei que vivi: mas quando Tem de soltar-se, ignoro, o vivo laço; E se claros, ou turvos Se hão-de erguer para mim os sóis vindouros. - Pois, que ao sevo Destino Me é vedado fugir, fugi ao longe Roazes Amarguras, Que estes permeios anos minar vínheis. Rir quero - e mui folgado, De vos ver ir correndo, de encolhidas, Escondendo na fuga, As caudas dos medonhos ameaços. Quero, entre mil saúdes, De vermelha, faustíssima alegria Ir passando em resenha, Taça após taça, a lista dos amigos, E o coro das formosas, Que a vida me entreteram com agrado. E reforçado e lesto C'o néctar da videira, as mãos travando Co'as engraçadas Musas, Em dança festival, com pé ligeiro, Na matizada relva, Cansar de tanto júbilo o meu sp'rito, Que se vá (sem que o sinta) Continuar o baile nos Elísios) Entre o Garção e Horácio. De lá, em novas Odes, que mais valham Que quantas fiz tégora, (Pois que emendadas pelo douto Mestre) Darei pasto à mania De versejar, que me tomou bem tenro, Que zombou de remédios. E de lá mandarei guapos modelos, Onde ávidos alunos Bebam largas lições; - se achar Correio; Que deles se encarregue, E refretando a barca de Caronte, Cá lhas recove ao Mundo.
Filinto Elísio, in "Odes" | |
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