A LIBERDADE É AMORAL
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 ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO

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Anarca

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MensagemAssunto: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO   ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO EmptyQui Ago 06, 2009 1:52 pm

António Tomás Botto nasceu em Concavada, Abrantes, a 17 de Agosto de 1897 e morreu no Rio de Janeiro, 16 de Março de 1959.

A sua obra mais conhecida, e também a mais polémica, é o livro de poesia Canções que, pelo seu carácter abertamente homossexual, causou grande agitação nos meios religiosamente conservadores da época.

Foi amigo pessoal de Fernando Pessoa que traduziu em 1930 as suas Canções para inglês, e com quem colaborou numa Antologia de Poemas Portugueses Modernos.

Homossexual assumido (apesar de ser casado com Carminda Silva), a sua obra reflete muito da sua orientação sexual e no seu conjunto será, provavelmente, o mais distinto conjunto de poesia homoerótica de língua portuguesa.

Morreu atropelado em 1959 no Brasil, para onde se tinha exilado para fugir às perseguições homófobas de que foi vítima, na mais dolorosa miséria.

Os seus restos mortais foram trasladados para o cemitério do Alto de São João, em Lisboa, em 1966.
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Anarca

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MensagemAssunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO   ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO EmptyQui Ago 06, 2009 4:32 pm

Passei o Dia Ouvindo o que o Mar Dizia

Eu hontem passei o dia
Ouvindo o que o mar dizia.

Chorámos, rimos, cantámos.

Fallou-me do seu destino,
Do seu fado...

Depois, para se alegrar,
Ergueu-se, e bailando, e rindo,
Poz-se a cantar
Um canto molhádo e lindo.

O seu halito perfuma,
E o seu perfume faz mal!

Deserto de aguas sem fim.

Ó sepultura da minha raça
Quando me guardas a mim?...

Elle afastou-se calado;
Eu afastei-me mais triste,
Mais doente, mais cansado...

Ao longe o Sol na agonia
De rôxo as aguas tingia.

«Voz do mar, mysteriosa;
Voz do amôr e da verdade!
- Ó voz moribunda e dôce
Da minha grande Saudade!
Voz amarga de quem fica,
Trémula voz de quem parte...»

E os poetas a cantar
São echos da voz do mar!

António Botto, in 'Canções'
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Anarca

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MensagemAssunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO   ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO EmptySex Ago 07, 2009 2:04 pm

De Saudades vou Morrendo

De Saudades vou morrendo
E na morte vou pensando:
Meu amôr, por que partiste,
Sem me dizer até quando?
Na minha boca tão linda,
Ó alegrias cantae!
Mas, quem se lembra d'um louco?
- Enchei-vos d'agua, meus olhos,
Enchei-vos d'agua, chorae!

António Botto, in 'Canções'
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Vitor mango

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MensagemAssunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO   ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO EmptyDom Ago 09, 2009 10:17 am

Sou um apaqixonado pela prosa e nao digiro bem a puezia
Portanto amigo anarca aki vai Obra pah

Du Sara mago

A Viagem do Elefante – Rota portuguesa - Junho 2009

A Viagem do Elefante: Rota portuguesa

O elefante gostou do que viu e fê-lo saber à companhia, embora em nenhum ponto o itinerário que escolhemos tivesse coincidido com aquele que a sua memória de elefante zelosamente guardava. Que haviam, disse, ele e os soldados de cavalaria, subido para o norte quase a pisar a linha da fronteira, por isso eram os caminhos tão ruins. Comparada com a viagem de então, esta foi um passeio: boas estradas, bons alojamentos, bons restaurantes, o próprio arquiduque, ainda que habituado aos luxos da Europa central, teria ficado surpreendido. A expedição foi para trabalhar, mas disfrutou como se andasse de férias. Até os sofridos câmaras, obrigados a carregar com equipamentos de sete quilos ao ombro, estavam encantados. O interessante é que nem os nossos amigos, nem os jornalistas conheciam os lugares que visitámos. Melhor para eles, que dali levaram muito que contar e recordar. Começámos por Constância, onde se crê que Camões viveu e teve casa, de cujas janelas terá visto mil vezes o abraço do Zêzere e do Tejo, aquele suave remanso da água na água capaz de inspirar os versos mais belos.

Dali fomos para Castelo Novo para ver a Casa da Câmara, do tempo de D. Dinis, e o chafariz joanino que lhe está pacificamente encostado. Vimos também a lagariça, essa espécie de dorna ao ar livre para a pisa das uvas, cavada na rocha bruta em tempos que se acredita serem os da pré-história.

Dormimos no Fundão, terra de cerejas por excelência, e na manhã seguinte ala para Belmonte onde nasceu Pedro Álvares Cabral, direitos à igreja de S. Tiago, da minha particular devoção. Ali está uma das mais comovedoras esculturas românicas que existem na face da terra, uma pietà de granito toscamente pintado, com um Cristo exangue deitado sobre os joelhos da sua mãe. Ao pé desta estátua, a célebre pietà de Miguel Ângelo que se encontra no Vaticano não passa de um suspiro maneirista. Não foi fácil arrancar o pessoal à extática contemplação em que havia caído, mas lá os conseguimos levar aliciando-os com o enigma arquitectónico de Centum Cellas, essa construção inacabada cuja problemática finalidade foi e continua e ser objecto das mais acaloradas discussões. Seria uma torre de vigia? Uma hospedaria para viajantes de passagem? Uma prisão, embora o neguem as rasgadas janelas que subsistem? Não se sabe.

Saciada a fome de imagens, o destino seguinte seria Sortelha, a das muralhas ciclópicas. Ali nos caiu em cima uma trovoada como poucas, relâmpagos em rajada, trovões a condizer, chuva a cântaros e granizo que era como metralha. Não chegámos a beber o café, a corrente eléctrica sumira-se. Uma hora foi o que demorou o céu a escampar.

Ainda chovia quando entrámos no autocarro, a caminho de Cidadelhe, sobre o qual não escreverei. Remeto o leitor interessado e de boa vontade para as quatro ou cinco páginas que lhe dediquei na Viagem a Portugal. Os companheiros arregalaram os olhos perante o pálio de 1707, depois foram ver a aldeia, os relevos nas portas das casas, os caixotões da igreja matriz com retratos de santos. Vinham transfigurados e felizes.

Agora só faltava Castelo Rodrigo. O presidente da câmara municipal de Figueira de Castelo Rodrigo esperava-nos na ponte sobre o Côa, a pouca distância de Cidadelhe. De Castelo Rodrigo eu conservava a imagem de há trinta anos, quando lá fui pela primeira vez, uma vila velha decadente, em que as ruínas já eram só uma ruína de ruínas, como se tudo aquilo estivesse a desfazer-se em pó. Hoje vivem 140 pessoas em Castelo Rodrigo, as ruas estão limpas e transitáveis, foram recuperadas as fachadas e os interiores, e, sobretudo, desapareceu a tristeza de um fim que parecia anunciado. Há que contar com as aldeias históricas, elas estão vivas. Eis a lição desta viagem.

José Saramago
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MensagemAssunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO   ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO EmptyDom Ago 09, 2009 11:21 am

Detestei este livro, porque me pareceu a escrita de um taralhouco armado em Nobel, convencido que tudo o que diz é muito importante e engraçado...

Certas passagens são mesmo patéticas...

Levei o livro para ler nas minhas últimas férias e deixei-o no caixote de lixo do Hotel...
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Vitor mango

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MensagemAssunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO   ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO EmptyDom Ago 09, 2009 12:42 pm

Anarca escreveu:
Detestei este livro, porque me pareceu a escrita de um taralhouco armado em Nobel, convencido que tudo o que diz é muito importante e engraçado...

Certas passagens são mesmo patéticas...

Levei o livro para ler nas minhas últimas férias e deixei-o no caixote de lixo do Hotel...

ahh ahhh e ahhh
eu li o conventual ( ou por ai perto e finisj ...ia rebentando os Palimões ...o gajo nao mete virgulas nem Pontso
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MensagemAssunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO   ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO EmptySeg Ago 10, 2009 12:50 pm

A Vossa Carta Commove

A vossa carta commove,
Mas, não vos posso acompanhar.
Deixae-me viver em penas;
- Vou soffrendo e vou sorrindo,
O meu destino é chorar!

Sim, é certo; - quem eu amo
Zomba e ri do meu amôr...
- Que hei-de eu fazer? - Resignar-me,
Gentillissimo Senhor!

Depois, quanto mais sabemos,
Parece que mais erramos:

- Antes soffrer os males que nos cercam
Do que ir em busca de outros que ignoramos.

António Botto, in 'Canções'
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MensagemAssunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO   ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO EmptySex Ago 14, 2009 1:04 pm

Quem não Ama não Vive

Já na minha alma se apagam
As alegrias que eu tive;
Só quem ama tem tristezas,
Mas quem não ama não vive.

Andam pétalas e fôlhas
Bailando no ár sombrío;
E as lágrimas, dos meus olhos,
Vão correndo ao desafio.

Em tudo vejo Saudades!
A terra parece mórta.
- Ó vento que tudo lévas,
Não venhas á minha pórta!

E as minhas rosas vermelhas,
As rosas, no meu jardim,
Parecem, assim cahidas,
Restos de um grande festim!

Meu coração desgraçado,
Bebe ainda mais licôr!
- Que importa morrer amando,
Que importa morrer d'amôr!

E vem ouvir bem-amado
Senhor que eu nunca mais vi:
- Morro mas levo commigo
Alguma cousa de ti.

António Botto, in 'Canções'
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MensagemAssunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO   ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO EmptySeg Ago 17, 2009 12:02 pm

Tu Mandaste-me Dizer

Tu mandaste-me dizer
Que tornavas novamente
Quando viesse a tardinha;
E eu, para mais te prender,
- N'esse dia...

Pintei de negro os meus olhos
E de rôxo a minha boca.
As rosas eram aos mólhos
Para a noite rubra e louca!

Entornei sobre o meu corpo,
- Que fôra delgado e bello!
O perfume mais extranho e mais subtil;
E um brocado rôxo e verde
Envolveu a minha carne
Macerada e varonil.
Os meus hombros florentinos,
Cobértos de pedraria,
Eram chagas luminosas
Alumiando o meu corpo
Todo em fébre e nostalgia.
Nas minhas mãos de cambraia,
As esmeraldas scintillavam;
E as pérolas nos meus braços,
Murmuravam...
Desmanchado, o meu cabello,
Em ondas largas, cahia,
Na minha fronte
Ligeiramente sombría.

Estava pallido e dir-se-hia
Que a pallidez aumentava
A minha grande belleza!

Na minha boca ondulava
Um sorriso de tristeza.

A noite vinha tombando.

E, como tardasses,
Fiquei-me, sentádo, olhando
O meu vulto reflectido
No espelho de crystal;

E afinal,
Nem frescura, nem belleza,
No meu rôsto descobri!

- Ó morte, não me procures!
E tu, meu amôr, não venhas!...
- Eu já morri.

António Botto, in 'Canções'
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MensagemAssunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO   ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO EmptyQua Ago 19, 2009 12:19 pm

Tenho a Certeza de que Entre Nós Tudo Acabou

Tenho a certeza
De que entre nós tudo acabou.
Deixá-lo!
Bemdita seja a tristesa!
- Não ha bem que sempre dure
E o meu bem pouco durou.

Não levantes os teus braços,
Para de novo cingir
A minha carne de seda;
- Vou deixar-te... vou partir.

E se um dia te lembrares,
Dos meus olhos côr de bronze
E do meu corpo franzino,
Acalma
A tua sensualidade,
Bebendo vinho e cantando
Os versos que te mandei
N'aquella tarde cinzenta...

Adeus!

Quem fica soffre bem sei;
Mas soffre mais quem se ausenta!...

António Botto, in 'Canções'
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MensagemAssunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO   ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO EmptyTer Ago 25, 2009 12:46 pm

Quem é que Abraça o meu Corpo

Quem é que abraça o meu corpo
Na penumbra do meu leito?
Quem é que beija o meu rosto,
Quem é que morde o meu peito?
Quem é que falla da morte,
Docemente, ao meu ouvido?

És tu, Senhor dos meus olhos,
E sempre no meu sentido.

António Botto, in 'Canções'
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MensagemAssunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO   ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO EmptySex Ago 28, 2009 6:28 pm

Ouve, Meu Anjo

Ouve, meu anjo:
Se eu beijásse a tua pél?
Se eu beijásse a tua boca
Onde a saliva é um mél?...

Quiz afastar-se mostrando
Um sorriso desdenhoso;
Mas ai!
- A carne do assassino
É como a do virtuoso.

N'uma attitude elegante,
Mysteriosa, gentil,
Deu-me o seu corpo doirado
Que eu beijei quase febríl.

Na vidraça da janella,
A chuva, léve, tinia...

Elle apertou-me, cerrando
Os olhos para sonhar...
E eu, lentamente, morria
Como um perfume no ar!

António Botto, in 'Canções'
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MensagemAssunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO   ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO EmptySex Set 04, 2009 9:20 pm

Deram-se as bocas...

Andava a lua nos céus
Com o seu bando de estrelas

Na minha alcova
Ardiam velas
Em candelabros de bronza

Pelo chão em desalinho
Os veludos pareciam
Ondas de sangue e ondas de vinho

Ele, olhava-me cismando;
E eu,
Plácidamente, fumava,
Vendo a lua branca e nua
Que pelos céus caminhava.

Aproximou-se; e em delírio
Procurou avidamente
E avidamente beijou
A minha boca de cravo
Que a beijar se recusou.

Arrastou-me para ele,
E encostado ao meu hombro
Falou-me de um pagem loiro
Que morrera de saudade
À beira-mar, a cantar...

Olhei o céu!

Agora, a lua, fugia,
Entre nuvens que tornavam
A linda noite sombria.

Deram-se as bocas num beijo,
Um beijo nervoso e lento...
O homem cede ao desejo
Como a nuvem cede ao vento

Vinha longe a madrugada.

Por fim,
Largando esse corpo
Que adormecera cansado
E que eu beijara, loucamente,
Sem sentir,
Bebia vinho, perdidamente
Bebia vinha..., até cair.

(Antonio Botto)
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MensagemAssunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO   ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO EmptySeg Set 14, 2009 1:12 pm

Passei o Dia Ouvindo o que o Mar Dizia

Eu hontem passei o dia
Ouvindo o que o mar dizia.

Chorámos, rimos, cantámos.

Fallou-me do seu destino,
Do seu fado...

Depois, para se alegrar,
Ergueu-se, e bailando, e rindo,
Poz-se a cantar
Um canto molhádo e lindo.

O seu halito perfuma,
E o seu perfume faz mal!

Deserto de aguas sem fim.

Ó sepultura da minha raça
Quando me guardas a mim?...

Elle afastou-se calado;
Eu afastei-me mais triste,
Mais doente, mais cansado...

Ao longe o Sol na agonia
De rôxo as aguas tingia.

«Voz do mar, mysteriosa;
Voz do amôr e da verdade!
- Ó voz moribunda e dôce
Da minha grande Saudade!
Voz amarga de quem fica,
Trémula voz de quem parte...»

E os poetas a cantar
São echos da voz do mar!

António Botto, in 'Canções'
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MensagemAssunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO   ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO EmptyQua Set 16, 2009 12:10 pm

De Saudades vou Morrendo

De Saudades vou morrendo
E na morte vou pensando:
Meu amôr, por que partiste,
Sem me dizer até quando?
Na minha boca tão linda,
Ó alegrias cantae!
Mas, quem se lembra d'um louco?
- Enchei-vos d'agua, meus olhos,
Enchei-vos d'agua, chorae!

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MensagemAssunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO   ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO EmptyQui Set 17, 2009 1:42 pm

A Vossa Carta Commove

A vossa carta commove,
Mas, não vos posso acompanhar.
Deixae-me viver em penas;
- Vou soffrendo e vou sorrindo,
O meu destino é chorar!

Sim, é certo; - quem eu amo
Zomba e ri do meu amôr...
- Que hei-de eu fazer? - Resignar-me,
Gentillissimo Senhor!

Depois, quanto mais sabemos,
Parece que mais erramos:

- Antes soffrer os males que nos cercam
Do que ir em busca de outros que ignoramos.

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MensagemAssunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO   ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO EmptySex Set 18, 2009 12:34 pm

Quem não Ama não Vive

Já na minha alma se apagam
As alegrias que eu tive;
Só quem ama tem tristezas,
Mas quem não ama não vive.

Andam pétalas e fôlhas
Bailando no ár sombrío;
E as lágrimas, dos meus olhos,
Vão correndo ao desafio.

Em tudo vejo Saudades!
A terra parece mórta.
- Ó vento que tudo lévas,
Não venhas á minha pórta!

E as minhas rosas vermelhas,
As rosas, no meu jardim,
Parecem, assim cahidas,
Restos de um grande festim!

Meu coração desgraçado,
Bebe ainda mais licôr!
- Que importa morrer amando,
Que importa morrer d'amôr!

E vem ouvir bem-amado
Senhor que eu nunca mais vi:
- Morro mas levo commigo
Alguma cousa de ti.

António Botto, in 'Canções'
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MensagemAssunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO   ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO EmptySeg Set 21, 2009 12:54 pm

Tu Mandaste-me Dizer

Tu mandaste-me dizer
Que tornavas novamente
Quando viesse a tardinha;
E eu, para mais te prender,
- N'esse dia...

Pintei de negro os meus olhos
E de rôxo a minha boca.
As rosas eram aos mólhos
Para a noite rubra e louca!

Entornei sobre o meu corpo,
- Que fôra delgado e bello!
O perfume mais extranho e mais subtil;
E um brocado rôxo e verde
Envolveu a minha carne
Macerada e varonil.
Os meus hombros florentinos,
Cobértos de pedraria,
Eram chagas luminosas
Alumiando o meu corpo
Todo em fébre e nostalgia.
Nas minhas mãos de cambraia,
As esmeraldas scintillavam;
E as pérolas nos meus braços,
Murmuravam...
Desmanchado, o meu cabello,
Em ondas largas, cahia,
Na minha fronte
Ligeiramente sombría.

Estava pallido e dir-se-hia
Que a pallidez aumentava
A minha grande belleza!

Na minha boca ondulava
Um sorriso de tristeza.

A noite vinha tombando.

E, como tardasses,
Fiquei-me, sentádo, olhando
O meu vulto reflectido
No espelho de crystal;

E afinal,
Nem frescura, nem belleza,
No meu rôsto descobri!

- Ó morte, não me procures!
E tu, meu amôr, não venhas!...
- Eu já morri.

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MensagemAssunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO   ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO EmptyQui Set 24, 2009 3:54 pm

Tenho a Certeza de que Entre Nós Tudo Acabou

Tenho a certeza
De que entre nós tudo acabou.
Deixal-o!
Bemdita seja a tristesa!
- Não ha bem que sempre dure
E o meu bem pouco durou.

Não levantes os teus braços,
Para de novo cingir
A minha carne de seda;
- Vou deixar-te... vou partir.

E se um dia te lembrares,
Dos meus olhos côr de bronze
E do meu corpo franzino,
Acalma
A tua sensualidade,
Bebendo vinho e cantando
Os versos que te mandei
N'aquella tarde cinzenta...

Adeus!

Quem fica soffre bem sei;
Mas soffre mais quem se ausenta!...

António Botto, in 'Canções'
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MensagemAssunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO   ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO EmptySex Set 25, 2009 1:28 pm

Quem é que Abraça o meu Corpo

Quem é que abraça o meu corpo
Na penumbra do meu leito?
Quem é que beija o meu rosto,
Quem é que morde o meu peito?
Quem é que falla da morte,
Docemente, ao meu ouvido?

És tu, Senhor dos meus olhos,
E sempre no meu sentido.

António Botto, in 'Canções'
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MensagemAssunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO   ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO EmptyQua Set 30, 2009 6:34 pm

Se Me Deixares, Eu Digo

Se me deixares, eu digo
O contrario a toda a gente;
E, n'este mundo de enganos,
Falla verdade quem mente.
Tu dizes que a minha boca
Já não acorda desejos,
Já não aquece outra boca,
Já não merece os teus beijos;
Mas, tem cuidado commigo,
Não procures ser ausente:
- Se me deixares, eu digo
O contrario a toda a gente.

António Botto, in 'Canções'
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MensagemAssunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO   ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO EmptyTer Out 06, 2009 4:42 pm

Anda, Vem

Anda, vem... por que te négas,
Carne morêna, toda perfume?
Por que te cálas,
Por que esmoreces
Boca vermêlha, - rosa de lume!

Se a luz do dia
Te cóbre de pêjo,
Esperemos a noite presos n'um beijo.

Dá-me o infinito goso
De contigo adormecer,
Devagarinho, sentindo
O arôma e o calôr
Da tua carne, - meu amôr!

E ouve, mancebo aládo,
Não entristeças, não penses,
- Sê contente,
Porque nem todo o prazer
Tem peccado...

Anda, vem... dá-me o teu corpo
Em troca dos meus desejos;

Tenho Saudades da vida!

Tenho sêde dos teus beijos!

António Botto, in 'Canções'
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MensagemAssunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO   ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO EmptyQua Out 07, 2009 4:28 pm

Quanto, Quanto me Queres?

Quanto, quanto me queres? - perguntaste
Olhando para mim mas distrahida;
E quando nos meus olhos te encontraste,
Eu vi nos teus a luz da minha vida.

Nas tuas mãos, as minhas, apertaste.
Olhando para mim como vencida,
«...quanto, quanto...» - de novo murmuraste
E a tua boca deu-se-me rendida!

Os nossos beijos longos e anciosos,
Trocavam-se frementes! - Ah! ninguem
Sabe beijar melhor que os amorosos!

Quanto te quero?! - Eu posso lá dizer!...
- Um grande amôr só se avalia bem
Depois de se perder.

António Botto, in 'Canções'
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MensagemAssunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO   ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO EmptyQua Out 14, 2009 4:39 pm

Quanto, Quanto me Queres?

Quanto, quanto me queres? - perguntaste
Olhando para mim mas distrahida;
E quando nos meus olhos te encontraste,
Eu vi nos teus a luz da minha vida.

Nas tuas mãos, as minhas, apertaste.
Olhando para mim como vencida,
«...quanto, quanto...» - de novo murmuraste
E a tua boca deu-se-me rendida!

Os nossos beijos longos e anciosos,
Trocavam-se frementes! - Ah! ninguem
Sabe beijar melhor que os amorosos!

Quanto te quero?! - Eu posso lá dizer!...
- Um grande amôr só se avalia bem
Depois de se perder.

António Botto, in 'Canções'
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MensagemAssunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO   ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO EmptyQui Out 15, 2009 4:29 pm

Foi n'uma Tarde de Julho

Foi n'uma tarde de Julho.
Conversávamos a mêdo,
- Receios de trahir
Um tristissimo segrêdo.

Sim, duvidávamos ambos:
Elle não sabia bem
Que o amava loucamente
Como nunca amei ninguem.
E eu não acreditava
Que era por mim que o seu olhar
De lagrimas se toldava...

Mas, a duvida perdeu-se;
Fallou alto o coração!
- E as nossas taças
Foram erguidas
Com infinita perturbação!

Os nossos braços
Formaram laços.

E, aos beijos, ébrios, tombámos;
- Cheios d'amôr e de vinho!

(Uma suplica soáva:)

«Agora... morre commigo,
Meu amôr, meu amôr... devagarinho!...»

António Botto, in 'Canções'
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