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| ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO | |
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Autor | Mensagem |
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Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO Qui Ago 06, 2009 1:52 pm | |
| António Tomás Botto nasceu em Concavada, Abrantes, a 17 de Agosto de 1897 e morreu no Rio de Janeiro, 16 de Março de 1959.
A sua obra mais conhecida, e também a mais polémica, é o livro de poesia Canções que, pelo seu carácter abertamente homossexual, causou grande agitação nos meios religiosamente conservadores da época.
Foi amigo pessoal de Fernando Pessoa que traduziu em 1930 as suas Canções para inglês, e com quem colaborou numa Antologia de Poemas Portugueses Modernos.
Homossexual assumido (apesar de ser casado com Carminda Silva), a sua obra reflete muito da sua orientação sexual e no seu conjunto será, provavelmente, o mais distinto conjunto de poesia homoerótica de língua portuguesa.
Morreu atropelado em 1959 no Brasil, para onde se tinha exilado para fugir às perseguições homófobas de que foi vítima, na mais dolorosa miséria.
Os seus restos mortais foram trasladados para o cemitério do Alto de São João, em Lisboa, em 1966. | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO Qui Ago 06, 2009 4:32 pm | |
| Passei o Dia Ouvindo o que o Mar Dizia
Eu hontem passei o dia Ouvindo o que o mar dizia.
Chorámos, rimos, cantámos.
Fallou-me do seu destino, Do seu fado...
Depois, para se alegrar, Ergueu-se, e bailando, e rindo, Poz-se a cantar Um canto molhádo e lindo.
O seu halito perfuma, E o seu perfume faz mal!
Deserto de aguas sem fim.
Ó sepultura da minha raça Quando me guardas a mim?...
Elle afastou-se calado; Eu afastei-me mais triste, Mais doente, mais cansado...
Ao longe o Sol na agonia De rôxo as aguas tingia.
«Voz do mar, mysteriosa; Voz do amôr e da verdade! - Ó voz moribunda e dôce Da minha grande Saudade! Voz amarga de quem fica, Trémula voz de quem parte...»
E os poetas a cantar São echos da voz do mar!
António Botto, in 'Canções' | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO Sex Ago 07, 2009 2:04 pm | |
| De Saudades vou Morrendo
De Saudades vou morrendo E na morte vou pensando: Meu amôr, por que partiste, Sem me dizer até quando? Na minha boca tão linda, Ó alegrias cantae! Mas, quem se lembra d'um louco? - Enchei-vos d'agua, meus olhos, Enchei-vos d'agua, chorae!
António Botto, in 'Canções' | |
| | | Vitor mango
Mensagens : 440 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO Dom Ago 09, 2009 10:17 am | |
| Sou um apaqixonado pela prosa e nao digiro bem a puezia Portanto amigo anarca aki vai Obra pah Du Sara mago
A Viagem do Elefante – Rota portuguesa - Junho 2009
A Viagem do Elefante: Rota portuguesa
O elefante gostou do que viu e fê-lo saber à companhia, embora em nenhum ponto o itinerário que escolhemos tivesse coincidido com aquele que a sua memória de elefante zelosamente guardava. Que haviam, disse, ele e os soldados de cavalaria, subido para o norte quase a pisar a linha da fronteira, por isso eram os caminhos tão ruins. Comparada com a viagem de então, esta foi um passeio: boas estradas, bons alojamentos, bons restaurantes, o próprio arquiduque, ainda que habituado aos luxos da Europa central, teria ficado surpreendido. A expedição foi para trabalhar, mas disfrutou como se andasse de férias. Até os sofridos câmaras, obrigados a carregar com equipamentos de sete quilos ao ombro, estavam encantados. O interessante é que nem os nossos amigos, nem os jornalistas conheciam os lugares que visitámos. Melhor para eles, que dali levaram muito que contar e recordar. Começámos por Constância, onde se crê que Camões viveu e teve casa, de cujas janelas terá visto mil vezes o abraço do Zêzere e do Tejo, aquele suave remanso da água na água capaz de inspirar os versos mais belos.
Dali fomos para Castelo Novo para ver a Casa da Câmara, do tempo de D. Dinis, e o chafariz joanino que lhe está pacificamente encostado. Vimos também a lagariça, essa espécie de dorna ao ar livre para a pisa das uvas, cavada na rocha bruta em tempos que se acredita serem os da pré-história.
Dormimos no Fundão, terra de cerejas por excelência, e na manhã seguinte ala para Belmonte onde nasceu Pedro Álvares Cabral, direitos à igreja de S. Tiago, da minha particular devoção. Ali está uma das mais comovedoras esculturas românicas que existem na face da terra, uma pietà de granito toscamente pintado, com um Cristo exangue deitado sobre os joelhos da sua mãe. Ao pé desta estátua, a célebre pietà de Miguel Ângelo que se encontra no Vaticano não passa de um suspiro maneirista. Não foi fácil arrancar o pessoal à extática contemplação em que havia caído, mas lá os conseguimos levar aliciando-os com o enigma arquitectónico de Centum Cellas, essa construção inacabada cuja problemática finalidade foi e continua e ser objecto das mais acaloradas discussões. Seria uma torre de vigia? Uma hospedaria para viajantes de passagem? Uma prisão, embora o neguem as rasgadas janelas que subsistem? Não se sabe.
Saciada a fome de imagens, o destino seguinte seria Sortelha, a das muralhas ciclópicas. Ali nos caiu em cima uma trovoada como poucas, relâmpagos em rajada, trovões a condizer, chuva a cântaros e granizo que era como metralha. Não chegámos a beber o café, a corrente eléctrica sumira-se. Uma hora foi o que demorou o céu a escampar.
Ainda chovia quando entrámos no autocarro, a caminho de Cidadelhe, sobre o qual não escreverei. Remeto o leitor interessado e de boa vontade para as quatro ou cinco páginas que lhe dediquei na Viagem a Portugal. Os companheiros arregalaram os olhos perante o pálio de 1707, depois foram ver a aldeia, os relevos nas portas das casas, os caixotões da igreja matriz com retratos de santos. Vinham transfigurados e felizes.
Agora só faltava Castelo Rodrigo. O presidente da câmara municipal de Figueira de Castelo Rodrigo esperava-nos na ponte sobre o Côa, a pouca distância de Cidadelhe. De Castelo Rodrigo eu conservava a imagem de há trinta anos, quando lá fui pela primeira vez, uma vila velha decadente, em que as ruínas já eram só uma ruína de ruínas, como se tudo aquilo estivesse a desfazer-se em pó. Hoje vivem 140 pessoas em Castelo Rodrigo, as ruas estão limpas e transitáveis, foram recuperadas as fachadas e os interiores, e, sobretudo, desapareceu a tristeza de um fim que parecia anunciado. Há que contar com as aldeias históricas, elas estão vivas. Eis a lição desta viagem.
José Saramago | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO Dom Ago 09, 2009 11:21 am | |
| Detestei este livro, porque me pareceu a escrita de um taralhouco armado em Nobel, convencido que tudo o que diz é muito importante e engraçado...
Certas passagens são mesmo patéticas...
Levei o livro para ler nas minhas últimas férias e deixei-o no caixote de lixo do Hotel... | |
| | | Vitor mango
Mensagens : 440 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO Dom Ago 09, 2009 12:42 pm | |
| - Anarca escreveu:
- Detestei este livro, porque me pareceu a escrita de um taralhouco armado em Nobel, convencido que tudo o que diz é muito importante e engraçado...
Certas passagens são mesmo patéticas...
Levei o livro para ler nas minhas últimas férias e deixei-o no caixote de lixo do Hotel... ahh ahhh e ahhh eu li o conventual ( ou por ai perto e finisj ...ia rebentando os Palimões ...o gajo nao mete virgulas nem Pontso | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO Seg Ago 10, 2009 12:50 pm | |
| A Vossa Carta Commove
A vossa carta commove, Mas, não vos posso acompanhar. Deixae-me viver em penas; - Vou soffrendo e vou sorrindo, O meu destino é chorar!
Sim, é certo; - quem eu amo Zomba e ri do meu amôr... - Que hei-de eu fazer? - Resignar-me, Gentillissimo Senhor!
Depois, quanto mais sabemos, Parece que mais erramos:
- Antes soffrer os males que nos cercam Do que ir em busca de outros que ignoramos.
António Botto, in 'Canções' | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO Sex Ago 14, 2009 1:04 pm | |
| Quem não Ama não Vive
Já na minha alma se apagam As alegrias que eu tive; Só quem ama tem tristezas, Mas quem não ama não vive.
Andam pétalas e fôlhas Bailando no ár sombrío; E as lágrimas, dos meus olhos, Vão correndo ao desafio.
Em tudo vejo Saudades! A terra parece mórta. - Ó vento que tudo lévas, Não venhas á minha pórta!
E as minhas rosas vermelhas, As rosas, no meu jardim, Parecem, assim cahidas, Restos de um grande festim!
Meu coração desgraçado, Bebe ainda mais licôr! - Que importa morrer amando, Que importa morrer d'amôr!
E vem ouvir bem-amado Senhor que eu nunca mais vi: - Morro mas levo commigo Alguma cousa de ti.
António Botto, in 'Canções' | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO Seg Ago 17, 2009 12:02 pm | |
| Tu Mandaste-me Dizer
Tu mandaste-me dizer Que tornavas novamente Quando viesse a tardinha; E eu, para mais te prender, - N'esse dia...
Pintei de negro os meus olhos E de rôxo a minha boca. As rosas eram aos mólhos Para a noite rubra e louca!
Entornei sobre o meu corpo, - Que fôra delgado e bello! O perfume mais extranho e mais subtil; E um brocado rôxo e verde Envolveu a minha carne Macerada e varonil. Os meus hombros florentinos, Cobértos de pedraria, Eram chagas luminosas Alumiando o meu corpo Todo em fébre e nostalgia. Nas minhas mãos de cambraia, As esmeraldas scintillavam; E as pérolas nos meus braços, Murmuravam... Desmanchado, o meu cabello, Em ondas largas, cahia, Na minha fronte Ligeiramente sombría.
Estava pallido e dir-se-hia Que a pallidez aumentava A minha grande belleza!
Na minha boca ondulava Um sorriso de tristeza.
A noite vinha tombando.
E, como tardasses, Fiquei-me, sentádo, olhando O meu vulto reflectido No espelho de crystal;
E afinal, Nem frescura, nem belleza, No meu rôsto descobri!
- Ó morte, não me procures! E tu, meu amôr, não venhas!... - Eu já morri.
António Botto, in 'Canções' | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO Qua Ago 19, 2009 12:19 pm | |
| Tenho a Certeza de que Entre Nós Tudo Acabou
Tenho a certeza De que entre nós tudo acabou. Deixá-lo! Bemdita seja a tristesa! - Não ha bem que sempre dure E o meu bem pouco durou.
Não levantes os teus braços, Para de novo cingir A minha carne de seda; - Vou deixar-te... vou partir.
E se um dia te lembrares, Dos meus olhos côr de bronze E do meu corpo franzino, Acalma A tua sensualidade, Bebendo vinho e cantando Os versos que te mandei N'aquella tarde cinzenta...
Adeus!
Quem fica soffre bem sei; Mas soffre mais quem se ausenta!...
António Botto, in 'Canções' | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO Ter Ago 25, 2009 12:46 pm | |
| Quem é que Abraça o meu Corpo
Quem é que abraça o meu corpo Na penumbra do meu leito? Quem é que beija o meu rosto, Quem é que morde o meu peito? Quem é que falla da morte, Docemente, ao meu ouvido?
És tu, Senhor dos meus olhos, E sempre no meu sentido.
António Botto, in 'Canções' | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO Sex Ago 28, 2009 6:28 pm | |
| Ouve, Meu Anjo
Ouve, meu anjo: Se eu beijásse a tua pél? Se eu beijásse a tua boca Onde a saliva é um mél?...
Quiz afastar-se mostrando Um sorriso desdenhoso; Mas ai! - A carne do assassino É como a do virtuoso.
N'uma attitude elegante, Mysteriosa, gentil, Deu-me o seu corpo doirado Que eu beijei quase febríl.
Na vidraça da janella, A chuva, léve, tinia...
Elle apertou-me, cerrando Os olhos para sonhar... E eu, lentamente, morria Como um perfume no ar!
António Botto, in 'Canções' | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO Sex Set 04, 2009 9:20 pm | |
| Deram-se as bocas...
Andava a lua nos céus Com o seu bando de estrelas
Na minha alcova Ardiam velas Em candelabros de bronza
Pelo chão em desalinho Os veludos pareciam Ondas de sangue e ondas de vinho
Ele, olhava-me cismando; E eu, Plácidamente, fumava, Vendo a lua branca e nua Que pelos céus caminhava.
Aproximou-se; e em delírio Procurou avidamente E avidamente beijou A minha boca de cravo Que a beijar se recusou.
Arrastou-me para ele, E encostado ao meu hombro Falou-me de um pagem loiro Que morrera de saudade À beira-mar, a cantar...
Olhei o céu!
Agora, a lua, fugia, Entre nuvens que tornavam A linda noite sombria.
Deram-se as bocas num beijo, Um beijo nervoso e lento... O homem cede ao desejo Como a nuvem cede ao vento
Vinha longe a madrugada.
Por fim, Largando esse corpo Que adormecera cansado E que eu beijara, loucamente, Sem sentir, Bebia vinho, perdidamente Bebia vinha..., até cair.
(Antonio Botto) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO Seg Set 14, 2009 1:12 pm | |
| Passei o Dia Ouvindo o que o Mar Dizia
Eu hontem passei o dia Ouvindo o que o mar dizia.
Chorámos, rimos, cantámos.
Fallou-me do seu destino, Do seu fado...
Depois, para se alegrar, Ergueu-se, e bailando, e rindo, Poz-se a cantar Um canto molhádo e lindo.
O seu halito perfuma, E o seu perfume faz mal!
Deserto de aguas sem fim.
Ó sepultura da minha raça Quando me guardas a mim?...
Elle afastou-se calado; Eu afastei-me mais triste, Mais doente, mais cansado...
Ao longe o Sol na agonia De rôxo as aguas tingia.
«Voz do mar, mysteriosa; Voz do amôr e da verdade! - Ó voz moribunda e dôce Da minha grande Saudade! Voz amarga de quem fica, Trémula voz de quem parte...»
E os poetas a cantar São echos da voz do mar!
António Botto, in 'Canções' | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO Qua Set 16, 2009 12:10 pm | |
| De Saudades vou Morrendo
De Saudades vou morrendo E na morte vou pensando: Meu amôr, por que partiste, Sem me dizer até quando? Na minha boca tão linda, Ó alegrias cantae! Mas, quem se lembra d'um louco? - Enchei-vos d'agua, meus olhos, Enchei-vos d'agua, chorae!
António Botto, in 'Canções' | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO Qui Set 17, 2009 1:42 pm | |
| A Vossa Carta Commove
A vossa carta commove, Mas, não vos posso acompanhar. Deixae-me viver em penas; - Vou soffrendo e vou sorrindo, O meu destino é chorar!
Sim, é certo; - quem eu amo Zomba e ri do meu amôr... - Que hei-de eu fazer? - Resignar-me, Gentillissimo Senhor!
Depois, quanto mais sabemos, Parece que mais erramos:
- Antes soffrer os males que nos cercam Do que ir em busca de outros que ignoramos.
António Botto, in 'Canções' | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO Sex Set 18, 2009 12:34 pm | |
| Quem não Ama não Vive
Já na minha alma se apagam As alegrias que eu tive; Só quem ama tem tristezas, Mas quem não ama não vive.
Andam pétalas e fôlhas Bailando no ár sombrío; E as lágrimas, dos meus olhos, Vão correndo ao desafio.
Em tudo vejo Saudades! A terra parece mórta. - Ó vento que tudo lévas, Não venhas á minha pórta!
E as minhas rosas vermelhas, As rosas, no meu jardim, Parecem, assim cahidas, Restos de um grande festim!
Meu coração desgraçado, Bebe ainda mais licôr! - Que importa morrer amando, Que importa morrer d'amôr!
E vem ouvir bem-amado Senhor que eu nunca mais vi: - Morro mas levo commigo Alguma cousa de ti.
António Botto, in 'Canções' | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO Seg Set 21, 2009 12:54 pm | |
| Tu Mandaste-me Dizer
Tu mandaste-me dizer Que tornavas novamente Quando viesse a tardinha; E eu, para mais te prender, - N'esse dia...
Pintei de negro os meus olhos E de rôxo a minha boca. As rosas eram aos mólhos Para a noite rubra e louca!
Entornei sobre o meu corpo, - Que fôra delgado e bello! O perfume mais extranho e mais subtil; E um brocado rôxo e verde Envolveu a minha carne Macerada e varonil. Os meus hombros florentinos, Cobértos de pedraria, Eram chagas luminosas Alumiando o meu corpo Todo em fébre e nostalgia. Nas minhas mãos de cambraia, As esmeraldas scintillavam; E as pérolas nos meus braços, Murmuravam... Desmanchado, o meu cabello, Em ondas largas, cahia, Na minha fronte Ligeiramente sombría.
Estava pallido e dir-se-hia Que a pallidez aumentava A minha grande belleza!
Na minha boca ondulava Um sorriso de tristeza.
A noite vinha tombando.
E, como tardasses, Fiquei-me, sentádo, olhando O meu vulto reflectido No espelho de crystal;
E afinal, Nem frescura, nem belleza, No meu rôsto descobri!
- Ó morte, não me procures! E tu, meu amôr, não venhas!... - Eu já morri.
António Botto, in 'Canções' | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO Qui Set 24, 2009 3:54 pm | |
| Tenho a Certeza de que Entre Nós Tudo Acabou
Tenho a certeza De que entre nós tudo acabou. Deixal-o! Bemdita seja a tristesa! - Não ha bem que sempre dure E o meu bem pouco durou.
Não levantes os teus braços, Para de novo cingir A minha carne de seda; - Vou deixar-te... vou partir.
E se um dia te lembrares, Dos meus olhos côr de bronze E do meu corpo franzino, Acalma A tua sensualidade, Bebendo vinho e cantando Os versos que te mandei N'aquella tarde cinzenta...
Adeus!
Quem fica soffre bem sei; Mas soffre mais quem se ausenta!...
António Botto, in 'Canções' | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO Sex Set 25, 2009 1:28 pm | |
| Quem é que Abraça o meu Corpo
Quem é que abraça o meu corpo Na penumbra do meu leito? Quem é que beija o meu rosto, Quem é que morde o meu peito? Quem é que falla da morte, Docemente, ao meu ouvido?
És tu, Senhor dos meus olhos, E sempre no meu sentido.
António Botto, in 'Canções' | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO Qua Set 30, 2009 6:34 pm | |
| Se Me Deixares, Eu Digo
Se me deixares, eu digo O contrario a toda a gente; E, n'este mundo de enganos, Falla verdade quem mente. Tu dizes que a minha boca Já não acorda desejos, Já não aquece outra boca, Já não merece os teus beijos; Mas, tem cuidado commigo, Não procures ser ausente: - Se me deixares, eu digo O contrario a toda a gente.
António Botto, in 'Canções' | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO Ter Out 06, 2009 4:42 pm | |
| Anda, Vem
Anda, vem... por que te négas, Carne morêna, toda perfume? Por que te cálas, Por que esmoreces Boca vermêlha, - rosa de lume!
Se a luz do dia Te cóbre de pêjo, Esperemos a noite presos n'um beijo.
Dá-me o infinito goso De contigo adormecer, Devagarinho, sentindo O arôma e o calôr Da tua carne, - meu amôr!
E ouve, mancebo aládo, Não entristeças, não penses, - Sê contente, Porque nem todo o prazer Tem peccado...
Anda, vem... dá-me o teu corpo Em troca dos meus desejos;
Tenho Saudades da vida!
Tenho sêde dos teus beijos!
António Botto, in 'Canções' | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO Qua Out 07, 2009 4:28 pm | |
| Quanto, Quanto me Queres?
Quanto, quanto me queres? - perguntaste Olhando para mim mas distrahida; E quando nos meus olhos te encontraste, Eu vi nos teus a luz da minha vida.
Nas tuas mãos, as minhas, apertaste. Olhando para mim como vencida, «...quanto, quanto...» - de novo murmuraste E a tua boca deu-se-me rendida!
Os nossos beijos longos e anciosos, Trocavam-se frementes! - Ah! ninguem Sabe beijar melhor que os amorosos!
Quanto te quero?! - Eu posso lá dizer!... - Um grande amôr só se avalia bem Depois de se perder.
António Botto, in 'Canções' | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO Qua Out 14, 2009 4:39 pm | |
| Quanto, Quanto me Queres?
Quanto, quanto me queres? - perguntaste Olhando para mim mas distrahida; E quando nos meus olhos te encontraste, Eu vi nos teus a luz da minha vida.
Nas tuas mãos, as minhas, apertaste. Olhando para mim como vencida, «...quanto, quanto...» - de novo murmuraste E a tua boca deu-se-me rendida!
Os nossos beijos longos e anciosos, Trocavam-se frementes! - Ah! ninguem Sabe beijar melhor que os amorosos!
Quanto te quero?! - Eu posso lá dizer!... - Um grande amôr só se avalia bem Depois de se perder.
António Botto, in 'Canções' | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ANTÓNIO BOTTO - O EXILADO Qui Out 15, 2009 4:29 pm | |
| Foi n'uma Tarde de Julho
Foi n'uma tarde de Julho. Conversávamos a mêdo, - Receios de trahir Um tristissimo segrêdo.
Sim, duvidávamos ambos: Elle não sabia bem Que o amava loucamente Como nunca amei ninguem. E eu não acreditava Que era por mim que o seu olhar De lagrimas se toldava...
Mas, a duvida perdeu-se; Fallou alto o coração! - E as nossas taças Foram erguidas Com infinita perturbação!
Os nossos braços Formaram laços.
E, aos beijos, ébrios, tombámos; - Cheios d'amôr e de vinho!
(Uma suplica soáva:)
«Agora... morre commigo, Meu amôr, meu amôr... devagarinho!...»
António Botto, in 'Canções' | |
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