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| LUIS DE CAMÕES - O POETA DA RENASCENÇA | |
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Autor | Mensagem |
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Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: LUIS DE CAMÕES - O POETA DA RENASCENÇA Qua Jul 21, 2010 12:07 pm | |
| Para que quero a Glória Fugitiva?
Já é tempo, já, que minha confiança Se desça duma falsa opinião; Mas Amor não se rege por razão, Não posso perder, logo, a esperança.
A vida sim, que uma áspera mudança Não deixa viver tanto um coração. E eu só na morte tenho a salvação? Sim, mas quem a deseja não a alcança.
Forçado é logo que eu espere e viva. Ah dura lei de Amor, que não consente Quietação num'alma que é cativa!
Se hei-de viver, enfim, forçadamente, Para que quero a glória fugitiva Duma esperança vã que me atormente?
Luís Vaz de Camões, in "Sonetos" | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: LUIS DE CAMÕES - O POETA DA RENASCENÇA Qui Jul 22, 2010 5:17 pm | |
| Hei-de Tomar-te
Lindo e subtil trançado, que ficaste Em penhor do remédio que mereço, Se só contigo, vendo-te, endoudeço, Que fora co'os cabelos que apertaste?
Aquelas tranças de ouro que ligaste, Que os raios de sol têm em pouco preço, Não sei se para engano do que peço, Ou para me matar as desataste.
Lindo trançado, em minhas mãos te vejo, E por satisfação de minhas dores, Como quem não tem outra, hei-de tomar-te.
E se não for contente o meu desejo, Dir-lhe-ei que, nesta regra dos amores, Por o todo também se toma a parte.
Luís Vaz de Camões, in "Sonetos" | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: LUIS DE CAMÕES - O POETA DA RENASCENÇA Sex Jul 23, 2010 1:12 pm | |
| Vos Foi Beijar na Parte Onde se Via
O fogo que na branda cera ardia, Vendo o rosto gentil, que eu na alma vejo, Se acendeu de outro fogo do desejo Por alcançar a luz que vence o dia.
Como de dois ardores se incendia, Da grande impaciência fez despejo, E, remetendo com furor sobejo, Vos foi beijar na parte onde se via.
Ditosa aquela flama que se atreve A apagar seus ardores e tormentos Na vista a quem o sol temores deve!
Namoram-se, Senhora, os Elementos De vós, e queima o fogo aquela neve Que queima corações e pensamentos.
Luís Vaz de Camões, in "Sonetos" | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: LUIS DE CAMÕES - O POETA DA RENASCENÇA Seg Jul 26, 2010 12:36 pm | |
| O Mágico Veneno
Um mover de olhos, brando e piedoso, Sem ver de quê; um riso brando e honesto, Quase forçado; um doce e humilde gesto, De qualquer alegria duvidoso;
Um despejo quieto e vergonhoso; Um repouso gravíssimo e modesto; Uma pura bondade, manifesto Indício da alma, limpo e gracioso;
Um encolhido ousar; uma brandura; Um medo sem ter culpa; um ar sereno; Um longo e obediente sofrimento;
Esta foi a celeste formosura Da minha Circe, e o mágico veneno Que pôde transformar meu pensamento.
Luís Vaz de Camões, in "Sonetos" | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: LUIS DE CAMÕES - O POETA DA RENASCENÇA Ter Jul 27, 2010 5:07 pm | |
| Pede o Desejo, Dama, que Vos Veja
Pede o desejo, Dama, que vos veja: Não entende o que pede; está enganado. É este amor tão fino e tão delgado, Que quem o tem não sabe o que deseja.
Não há cousa, a qual natural seja, Que não queira perpétuo o seu estado. Não quer logo o desejo o desejado, Só por que nunca falte onde sobeja.
Mas este puro afecto em mim se dana: Que, como a grave pedra tem por arte O centro desejar da natureza,
Assim meu pensamento, pela parte Que vai tomar de mim, terrestre e humana, Foi, Senhora, pedir esta baixeza.
Luís Vaz de Camões, in "Sonetos" | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: LUIS DE CAMÕES - O POETA DA RENASCENÇA Qua Jul 28, 2010 12:34 pm | |
| Me Vejo com Memórias Perseguido
Se quando vos perdi, minha esperança, A memória perdera juntamente Do doce bem passado e mal presente, Pouco sentira a dor de tal mudança.
Mas Amor, em quem tinha confiança, Me representa mui miudamente Quantas vezes me vi ledo e contente, Por me tirar a vida esta lembrança.
De cousas de que apenas um sinal Havia, porque as dei ao esquecimento, Me vejo com memórias perseguido.
Ah dura estrela minha! Ah grão tormento! Que mal pode ser mor, que no meu mal Ter lembranças do bem que é já passado?
Luís Vaz de Camões, in "Sonetos" | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: LUIS DE CAMÕES - O POETA DA RENASCENÇA Qui Jul 29, 2010 5:18 pm | |
| Cara Minha Inimiga
Cara minha inimiga, em cuja mão Pôs meus contentamentos a ventura, Faltou-te a ti na terra sepultura, Por que me falte a mim consolação.
Eternamente as águas lograrão A tua peregrina formosura: Mas enquanto me a mim a vida dura, Sempre viva em minha alma te acharão.
E, se meus rudos versos podem tanto, Que possam prometer-te longa história Daquele amor tão puro e verdadeiro,
Celebrada serás sempre em meu canto: Porque, enquanto no mundo houver memória, Será a minha escritura o teu letreiro.
Luís Vaz de Camões, in "Sonetos" | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: LUIS DE CAMÕES - O POETA DA RENASCENÇA Sex Jul 30, 2010 12:53 pm | |
| Alma Minha Gentil, que te Partiste
Alma minha gentil, que te partiste Tão cedo desta vida descontente, Repousa lá no Céu eternamente, E viva eu cá na terra sempre triste.
Se lá no assento Etéreo, onde subiste, Memória desta vida se consente, Não te esqueças daquele amor ardente, Que já nos olhos meus tão puro viste.
E se vires que pode merecer-te Algũa cousa a dor que me ficou Da mágoa, sem remédio, de perder-te,
Roga a Deus, que teus anos encurtou, Que tão cedo de cá me leve a ver-te, Quão cedo de meus olhos te levou.
Luís Vaz de Camões, in "Sonetos" | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: LUIS DE CAMÕES - O POETA DA RENASCENÇA Seg Ago 02, 2010 5:48 pm | |
| Vivo em Lembranças, Morro de Esquecido
Doces lembranças da passada glória, Que me tirou fortuna roubadora, Deixai-me descansar em paz uma hora, Que comigo ganhais pouca vitória.
Impressa tenho na alma larga história Deste passado bem, que nunca fora; Ou fora, e não passara: mas já agora Em mim não pode haver mais que a memória.
Vivo em lembranças, morro de esquecido De quem sempre devera ser lembrado, Se lhe lembrara estado tão contente.
Oh quem tornar pudera a ser nascido! Soubera-me lograr do bem passado, Se conhecer soubera o mal presente.
Luís Vaz de Camões, in "Sonetos" | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: LUIS DE CAMÕES - O POETA DA RENASCENÇA Ter Ago 03, 2010 1:37 pm | |
| Quanto Mais vos pago, Mais vos Devo
Quem vê, Senhora, claro e manifesto O lindo ser de vossos olhos belos, Se não perder a vista só com vê-los, Já não paga o que deve a vosso gesto.
Este me parecia preço honesto; Mas eu, por de vantagem merecê-los, Dei mais a vida e alma por querê-los; Donde já me não fica mais de resto.
Assim que Alma, que vida, que esperança, E que quanto for meu, é tudo vosso: Mas de tudo o interesse eu só o levo.
Porque é tamanha bem-aventurança O dar-vos quanto tenho, e quanto posso, Que quanto mais vos pago, mais vos devo.
Luís Vaz de Camões, in "Sonetos" | |
| | | The Great Mexican Virus
Mensagens : 69 Data de inscrição : 07/06/2009
| Assunto: Re: LUIS DE CAMÕES - O POETA DA RENASCENÇA Ter Ago 03, 2010 5:29 pm | |
| Sete anos de pastor Jacob servia
Sete anos de pastor Jacob servia Labão, pai de Raquel, serrana bela; Mas não servia ao pai, servia a ela, E a ela só por prémio pretendia.
Os dias, na esperança de um só dia, Passava, contentando-se com vê-la; Porém o pai, usando de cautela, Em lugar de Raquel lhe dava Lia.
Vendo o triste pastor que com enganos Lhe fora assi negada a sua pastora, Como se a não tivera merecida;
Começa de servir outros sete anos, Dizendo: – Mais servira, se não fora Para tão longo amor tão curta a vida!
Camões
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| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: LUIS DE CAMÕES - O POETA DA RENASCENÇA Ter Ago 03, 2010 5:42 pm | |
| Este poema baseado num episódio da Biblia é um exemplo da riqueza temática dos "Livros sagrados"...
É pena que todos os fanáticos só falem do que lhes interessa...
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| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: LUIS DE CAMÕES - O POETA DA RENASCENÇA Qua Ago 04, 2010 4:52 pm | |
| Louvado Seja Amor em Meu Tormento
No tempo que de amor viver soía, Nem sempre andava ao remo ferrolhado; Antes agora livre, agora atado, Em várias flamas variamente ardia.
Que ardesse n'um só fogo não queria O Céu porque tivesse experimentado Que nem mudar as causas ao cuidado Mudança na ventura me faria.
E se algum pouco tempo andava isento, Foi como quem co'o peso descansou Por tornar a cansar com mais alento.
Louvado seja Amor em meu tormento, Pois para passatempo seu tomou Este meu tão cansado sofrimento!
Luís Vaz de Camões, in "Sonetos" | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: LUIS DE CAMÕES - O POETA DA RENASCENÇA Qui Ago 05, 2010 1:42 pm | |
| Lágrimas de Honesta Piedade e Imortal Contentamento
Amor, que o gesto humano na alma escreve, Vivas faíscas me mostrou um dia, Donde um puro cristal se derretia Por entre vivas rosas a alva neve.
A vista, que em si mesma não se atreve, Por se certificar do que ali via, Foi convertida em fonte, que fazia A dor ao sofrimento doce e leve.
Jura Amor, que brandura de vontade Causa o primeiro efeito; o pensamento Endoidece, se cuida que é verdade.
Olhai como Amor gera, em um momento, De lágrimas de honesta piedade Lágrimas de imortal contentamento.
Luís Vaz de Camoões, in "Sonetos" | |
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| Assunto: Re: LUIS DE CAMÕES - O POETA DA RENASCENÇA | |
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