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 LUIS DE CAMÕES - O POETA DA RENASCENÇA

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Anarca

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MensagemAssunto: Re: LUIS DE CAMÕES - O POETA DA RENASCENÇA   LUIS DE CAMÕES - O POETA DA RENASCENÇA - Página 2 EmptyQua Jul 21, 2010 12:07 pm

Para que quero a Glória Fugitiva?

Já é tempo, já, que minha confiança
Se desça duma falsa opinião;
Mas Amor não se rege por razão,
Não posso perder, logo, a esperança.

A vida sim, que uma áspera mudança
Não deixa viver tanto um coração.
E eu só na morte tenho a salvação?
Sim, mas quem a deseja não a alcança.

Forçado é logo que eu espere e viva.
Ah dura lei de Amor, que não consente
Quietação num'alma que é cativa!

Se hei-de viver, enfim, forçadamente,
Para que quero a glória fugitiva
Duma esperança vã que me atormente?

Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"
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Anarca

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MensagemAssunto: Re: LUIS DE CAMÕES - O POETA DA RENASCENÇA   LUIS DE CAMÕES - O POETA DA RENASCENÇA - Página 2 EmptyQui Jul 22, 2010 5:17 pm

Hei-de Tomar-te

Lindo e subtil trançado, que ficaste
Em penhor do remédio que mereço,
Se só contigo, vendo-te, endoudeço,
Que fora co'os cabelos que apertaste?

Aquelas tranças de ouro que ligaste,
Que os raios de sol têm em pouco preço,
Não sei se para engano do que peço,
Ou para me matar as desataste.

Lindo trançado, em minhas mãos te vejo,
E por satisfação de minhas dores,
Como quem não tem outra, hei-de tomar-te.

E se não for contente o meu desejo,
Dir-lhe-ei que, nesta regra dos amores,
Por o todo também se toma a parte.

Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"
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MensagemAssunto: Re: LUIS DE CAMÕES - O POETA DA RENASCENÇA   LUIS DE CAMÕES - O POETA DA RENASCENÇA - Página 2 EmptySex Jul 23, 2010 1:12 pm

Vos Foi Beijar na Parte Onde se Via

O fogo que na branda cera ardia,
Vendo o rosto gentil, que eu na alma vejo,
Se acendeu de outro fogo do desejo
Por alcançar a luz que vence o dia.

Como de dois ardores se incendia,
Da grande impaciência fez despejo,
E, remetendo com furor sobejo,
Vos foi beijar na parte onde se via.

Ditosa aquela flama que se atreve
A apagar seus ardores e tormentos
Na vista a quem o sol temores deve!

Namoram-se, Senhora, os Elementos
De vós, e queima o fogo aquela neve
Que queima corações e pensamentos.

Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"
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MensagemAssunto: Re: LUIS DE CAMÕES - O POETA DA RENASCENÇA   LUIS DE CAMÕES - O POETA DA RENASCENÇA - Página 2 EmptySeg Jul 26, 2010 12:36 pm

O Mágico Veneno

Um mover de olhos, brando e piedoso,
Sem ver de quê; um riso brando e honesto,
Quase forçado; um doce e humilde gesto,
De qualquer alegria duvidoso;

Um despejo quieto e vergonhoso;
Um repouso gravíssimo e modesto;
Uma pura bondade, manifesto
Indício da alma, limpo e gracioso;

Um encolhido ousar; uma brandura;
Um medo sem ter culpa; um ar sereno;
Um longo e obediente sofrimento;

Esta foi a celeste formosura
Da minha Circe, e o mágico veneno
Que pôde transformar meu pensamento.

Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"
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MensagemAssunto: Re: LUIS DE CAMÕES - O POETA DA RENASCENÇA   LUIS DE CAMÕES - O POETA DA RENASCENÇA - Página 2 EmptyTer Jul 27, 2010 5:07 pm

Pede o Desejo, Dama, que Vos Veja

Pede o desejo, Dama, que vos veja:
Não entende o que pede; está enganado.
É este amor tão fino e tão delgado,
Que quem o tem não sabe o que deseja.

Não há cousa, a qual natural seja,
Que não queira perpétuo o seu estado.
Não quer logo o desejo o desejado,
Só por que nunca falte onde sobeja.

Mas este puro afecto em mim se dana:
Que, como a grave pedra tem por arte
O centro desejar da natureza,

Assim meu pensamento, pela parte
Que vai tomar de mim, terrestre e humana,
Foi, Senhora, pedir esta baixeza.

Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"
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MensagemAssunto: Re: LUIS DE CAMÕES - O POETA DA RENASCENÇA   LUIS DE CAMÕES - O POETA DA RENASCENÇA - Página 2 EmptyQua Jul 28, 2010 12:34 pm

Me Vejo com Memórias Perseguido

Se quando vos perdi, minha esperança,
A memória perdera juntamente
Do doce bem passado e mal presente,
Pouco sentira a dor de tal mudança.

Mas Amor, em quem tinha confiança,
Me representa mui miudamente
Quantas vezes me vi ledo e contente,
Por me tirar a vida esta lembrança.

De cousas de que apenas um sinal
Havia, porque as dei ao esquecimento,
Me vejo com memórias perseguido.

Ah dura estrela minha! Ah grão tormento!
Que mal pode ser mor, que no meu mal
Ter lembranças do bem que é já passado?

Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"
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MensagemAssunto: Re: LUIS DE CAMÕES - O POETA DA RENASCENÇA   LUIS DE CAMÕES - O POETA DA RENASCENÇA - Página 2 EmptyQui Jul 29, 2010 5:18 pm

Cara Minha Inimiga

Cara minha inimiga, em cuja mão
Pôs meus contentamentos a ventura,
Faltou-te a ti na terra sepultura,
Por que me falte a mim consolação.

Eternamente as águas lograrão
A tua peregrina formosura:
Mas enquanto me a mim a vida dura,
Sempre viva em minha alma te acharão.

E, se meus rudos versos podem tanto,
Que possam prometer-te longa história
Daquele amor tão puro e verdadeiro,

Celebrada serás sempre em meu canto:
Porque, enquanto no mundo houver memória,
Será a minha escritura o teu letreiro.

Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"
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MensagemAssunto: Re: LUIS DE CAMÕES - O POETA DA RENASCENÇA   LUIS DE CAMÕES - O POETA DA RENASCENÇA - Página 2 EmptySex Jul 30, 2010 12:53 pm

Alma Minha Gentil, que te Partiste

Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no Céu eternamente,
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento Etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente,
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
Algũa cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.

Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"
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MensagemAssunto: Re: LUIS DE CAMÕES - O POETA DA RENASCENÇA   LUIS DE CAMÕES - O POETA DA RENASCENÇA - Página 2 EmptySeg Ago 02, 2010 5:48 pm

Vivo em Lembranças, Morro de Esquecido

Doces lembranças da passada glória,
Que me tirou fortuna roubadora,
Deixai-me descansar em paz uma hora,
Que comigo ganhais pouca vitória.

Impressa tenho na alma larga história
Deste passado bem, que nunca fora;
Ou fora, e não passara: mas já agora
Em mim não pode haver mais que a memória.

Vivo em lembranças, morro de esquecido
De quem sempre devera ser lembrado,
Se lhe lembrara estado tão contente.

Oh quem tornar pudera a ser nascido!
Soubera-me lograr do bem passado,
Se conhecer soubera o mal presente.

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MensagemAssunto: Re: LUIS DE CAMÕES - O POETA DA RENASCENÇA   LUIS DE CAMÕES - O POETA DA RENASCENÇA - Página 2 EmptyTer Ago 03, 2010 1:37 pm

Quanto Mais vos pago, Mais vos Devo

Quem vê, Senhora, claro e manifesto
O lindo ser de vossos olhos belos,
Se não perder a vista só com vê-los,
Já não paga o que deve a vosso gesto.

Este me parecia preço honesto;
Mas eu, por de vantagem merecê-los,
Dei mais a vida e alma por querê-los;
Donde já me não fica mais de resto.

Assim que Alma, que vida, que esperança,
E que quanto for meu, é tudo vosso:
Mas de tudo o interesse eu só o levo.

Porque é tamanha bem-aventurança
O dar-vos quanto tenho, e quanto posso,
Que quanto mais vos pago, mais vos devo.

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MensagemAssunto: Re: LUIS DE CAMÕES - O POETA DA RENASCENÇA   LUIS DE CAMÕES - O POETA DA RENASCENÇA - Página 2 EmptyTer Ago 03, 2010 5:29 pm

Sete anos de pastor Jacob servia

Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela,
E a ela só por prémio pretendia.

Os dias, na esperança de um só dia,
Passava, contentando-se com vê-la;
Porém o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe dava Lia.

Vendo o triste pastor que com enganos
Lhe fora assi negada a sua pastora,
Como se a não tivera merecida;

Começa de servir outros sete anos,
Dizendo: – Mais servira, se não fora
Para tão longo amor tão curta a vida!

Camões

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MensagemAssunto: Re: LUIS DE CAMÕES - O POETA DA RENASCENÇA   LUIS DE CAMÕES - O POETA DA RENASCENÇA - Página 2 EmptyTer Ago 03, 2010 5:42 pm

Este poema baseado num episódio da Biblia é um exemplo da riqueza temática dos "Livros sagrados"...

É pena que todos os fanáticos só falem do que lhes interessa...

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MensagemAssunto: Re: LUIS DE CAMÕES - O POETA DA RENASCENÇA   LUIS DE CAMÕES - O POETA DA RENASCENÇA - Página 2 EmptyQua Ago 04, 2010 4:52 pm

Louvado Seja Amor em Meu Tormento

No tempo que de amor viver soía,
Nem sempre andava ao remo ferrolhado;
Antes agora livre, agora atado,
Em várias flamas variamente ardia.

Que ardesse n'um só fogo não queria
O Céu porque tivesse experimentado
Que nem mudar as causas ao cuidado
Mudança na ventura me faria.

E se algum pouco tempo andava isento,
Foi como quem co'o peso descansou
Por tornar a cansar com mais alento.

Louvado seja Amor em meu tormento,
Pois para passatempo seu tomou
Este meu tão cansado sofrimento!

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MensagemAssunto: Re: LUIS DE CAMÕES - O POETA DA RENASCENÇA   LUIS DE CAMÕES - O POETA DA RENASCENÇA - Página 2 EmptyQui Ago 05, 2010 1:42 pm

Lágrimas de Honesta Piedade e Imortal Contentamento

Amor, que o gesto humano na alma escreve,
Vivas faíscas me mostrou um dia,
Donde um puro cristal se derretia
Por entre vivas rosas a alva neve.

A vista, que em si mesma não se atreve,
Por se certificar do que ali via,
Foi convertida em fonte, que fazia
A dor ao sofrimento doce e leve.

Jura Amor, que brandura de vontade
Causa o primeiro efeito; o pensamento
Endoidece, se cuida que é verdade.

Olhai como Amor gera, em um momento,
De lágrimas de honesta piedade
Lágrimas de imortal contentamento.

Luís Vaz de Camoões, in "Sonetos"
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