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| MIGUEL TORGA - O POETA AUTÊNTICO | |
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Autor | Mensagem |
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Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: MIGUEL TORGA - O POETA AUTÊNTICO Qua Set 02, 2009 8:38 pm | |
| Escritor português natural, de São Martinho de Anta, Vila Real. Proveniente de uma família humilde, teve uma infância rural dura, que lhe deu a conhecer a realidade do campo, sem bucolismos, feita de árduo trabalho contínuo. Após uma breve passagem pelo seminário de Lamego, emigrou com 13 anos para o Brasil, onde durante cinco anos trabalhou na fazenda de um tio, em Minas Gerais, como capinador, apanhador de café, vaqueiro e caçador de cobras. De regresso a Portugal, em 1925, concluiu o ensino liceal e frequentou em Coimbra o curso de Medicina, que terminou em 1933. Exerceu a profissão de médico em São Martinho de Anta e em outras localidades do país, fixando-se definitivamente em Coimbra, como otorrinolaringologista, em 1941.
Ligado inicialmente ao grupo da revista Presença, dele se desligou em 1930, fundando nesse mesmo ano, com Branquinho da Fonseca (outro dissidente), a Sinal, de que sairia apenas um número. Em 1936, lançou outra revista, Manifesto, também de duração breve.
A sua saída da Presença reflecte uma característica fundamental da sua personalidade literária, uma individualidade veemente e intransigente, que o manteve afastado, por toda a vida, de escolas literárias e mesmo do contacto com os círculos culturais do meio português. A esta intensa consciência individual aliou-se, no entanto, uma profunda afirmação da sua pertença à natureza humana, com que se solidariza na oposição a todas as forças que oprimam a energia viva e a dignidade do homem, sejam elas as tiranias políticas ou o próprio Deus. Miguel Torga, tendo como homem a experiência dos sofrimentos da emigração e da vida rural, do contacto com as misérias e com a morte, tornou-se o poeta do mundo rural, das forças telúricas, ancestrais, que animam o instinto humano na sua luta dramática contra as leis que o aprisionam. Nessa revolta consiste a missão do poeta, que se afirma tanto na violência com que acusa a tirania divina e terrestre, como na ternura franciscana que estende, de forma vibrante, a todas as criaturas no seu sofrimento. Mas essa revolta, por outro lado, não corresponde a uma arreligiosidade ou recusa da transcendência.
A sua obra, recheada de simbologia bíblica, encontra-se, antes, imersa num sentido divino que transfigura a natureza e dignifica o homem no seu desafio ou no seu desprezo face ao divino. A ligação à terra, à região natal, a Portugal, à própria Península Ibérica e às suas gentes, é outra constante dos textos do autor. Ela justifica o profundo conhecimento que Torga procurou ter de Portugal e de Espanha, unidos no conceito de uma Ibéria comum, pela rudeza e pobreza dos seus meios naturais, pelo movimento de expansão e opressões da história, e por certas características humanas definidoras da sua personalidade. A intervenção cívica de Miguel Torga, na oposição ao Estado Novo e na denúncia dos crimes da guerra civil espanhola e de Franco, valeu-lhe a apreensão de algumas das suas obras pela censura e, mesmo, a prisão pela polícia política portuguesa. | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: MIGUEL TORGA - O POETA AUTÊNTICO Qua Set 02, 2009 8:42 pm | |
| Citações de Miguel Torga:
A maior desgraça que pode acontecer a um artista é começar pela literatura, em vez de começar pela vida Fonte: "Diário" Tema: Artista A vida afectiva é a única que vale a pena. A outra apenas serve para organizar na consciência o processo da inutilidade de tudo Tema: Vida | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: MIGUEL TORGA - O POETA AUTÊNTICO Qua Set 02, 2009 8:43 pm | |
| OS PASSARÕES NÃO PASSARÃO!
Não desesperes, Mãe! O último triunfo é interdito Aos heróis que não o são. Lembra-te do teu grito: Não passarão!
Não passarão! Só mesmo se parasse o coração Que te bate no peito. Só mesmo se pudesse haver sentido Entre o sangue vertido E o sonho desfeito. Só mesmo se a raiz bebesse em lodo De traição e de crime. Só mesmo se não fosse o mudo todo Que na tua tragédia se redime
Não passarão! Arde a seara, mas dum simples grão Nasce o trigal de novo. Morrem filhos e filhas da nação, Não morre um povo!
Não passarão! Seja qual for a fúria da agressão, As forças que te querem jugular Não poderão passar Sobre a dor infinita desse não Que a terra inteira ouviu E repetiu: Não passarão!
(Miguel Torga) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: MIGUEL TORGA - O POETA AUTÊNTICO Sáb Set 12, 2009 11:44 pm | |
| Frustração
Foi bonito O meu sonho de amor. Floriram em redor Todos os campos em pousio. Um sol de Abril brilhou em pleno estio, Lavado e promissor. Só que não houve frutos Dessa primavera. A vida disse que era Tarde demais. E que as paixões tardias São ironias Dos deuses desleais.
Miguel Torga, in 'Diário XV' | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: MIGUEL TORGA - O POETA AUTÊNTICO Qui Set 17, 2009 2:05 pm | |
| Depoimento...
Deponho no processo do meu crime. Sou testemunha E réu E vítima E juiz Juro Que havia um muro, E na face do muro uma palavra a giz. MERDA! – lembro-me bem. – Crianças... – disse alguém que ia a passar. Mas voltei novamente a soletar O vocábulo indecente, E de repente Como quem adivinha, Numa tristeza já de penitente Vi que a letra era minha...
(Miguel Torga) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: MIGUEL TORGA - O POETA AUTÊNTICO Qui Set 17, 2009 2:10 pm | |
| Liberdade
- Liberdade, que estais no céu... Rezava o padre-nosso que sabia, A pedir-te, humildemente, O pio de cada dia. Mas a tua bondade omnipotente Nem me ouvia.
- Liberdade, que estais na terra... E a minha voz crescia De emoção. Mas um silêncio triste sepultava A fé que ressumava Da oração.
Até que um dia, corajosamente, Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado, Saborear, enfim, O pão da minha fome. - Liberdade, que estais em mim, Santificado seja o vosso nome.
Miguel Torga, in 'Diário XII' | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: MIGUEL TORGA - O POETA AUTÊNTICO Sex Set 18, 2009 12:31 pm | |
| Viagem
É o vento que me leva. O vento lusitano. É este sopro humano Universal Que enfuna a inquietação de Portugal. É esta fúria de loucura mansa Que tudo alcança Sem alcançar. Que vai de céu em céu, De mar em mar, Até nunca chegar. E esta tentação de me encontrar Mais rico de amargura Nas pausas da ventura De me procurar...
Miguel Torga, in 'Diário XII' | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: MIGUEL TORGA - O POETA AUTÊNTICO Sex Set 18, 2009 9:27 pm | |
| Poema Melancólico a não sei que Mulher
Dei-te os dias, as horas e os minutos Destes anos de vida que passaram; Nos meus versos ficaram Imagens que são máscaras anónimas Do teu rosto proibido; A fome insatisfeita que senti Era de ti, Fome do instinto que não foi ouvido.
Agora retrocedo, leio os versos, Conto as desilusões no rol do coração, Recordo o pesadelo dos desejos, Olho o deserto humano desolado, E pergunto porquê, por que razão Nas dunas do teu peito o vento passa Sem tropeçar na graça Do mais leve sinal da minha mão...
Miguel Torga, in 'Diário VII' | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: MIGUEL TORGA - O POETA AUTÊNTICO Sáb Set 19, 2009 5:46 pm | |
| Quase um Poema de Amor
Há muito tempo já que não escrevo um poema De amor. E é o que eu sei fazer com mais delicadeza! A nossa natureza Lusitana Tem essa humana Graça Feiticeira De tornar de cristal A mais sentimental E baça Bebedeira.
Mas ou seja que vou envelhecendo E ninguém me deseje apaixonado, Ou que a antiga paixão Me mantenha calado O coração Num íntimo pudor, - Há muito tempo já que não escrevo um poema De amor.
Miguel Torga, in 'Diário V' | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: MIGUEL TORGA - O POETA AUTÊNTICO Dom Set 20, 2009 4:40 pm | |
| Mãe
Mãe: Que desgraça na vida aconteceu, Que ficaste insensível e gelada? Que todo o teu perfil se endureceu Numa linha severa e desenhada?
Como as estátuas, que são gente nossa Cansada de palavras e ternura, Assim tu me pareces no teu leito. Presença cinzelada em pedra dura, Que não tem coração dentro do peito.
Chamo aos gritos por ti - não me respondes. Beijo-te as mãos e o rosto - sinto frio. Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes Por detrás do terror deste vazio.
Mãe: Abre os olhos ao menos, diz que sim! Diz que me vês ainda, que me queres. Que és a eterna mulher entre as mulheres. Que nem a morte te afastou de mim!
Miguel Torga, in 'Diário IV'
Última edição por Anarca em Qui Out 08, 2009 6:22 pm, editado 1 vez(es) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: MIGUEL TORGA - O POETA AUTÊNTICO Qua Set 23, 2009 9:45 pm | |
| Identidade
Matei a lua e o luar difuso. Quero os versos de ferro e de cimento. E em vez de rimas, uso As consonâncias que há no sofrimento.
Universal e aberto, o meu instinto acode A todo o coração que se debate aflito. E luta como sabe e como pode: Dá beleza e sentido a cada grito.
Mas como as inscrições nas penedias Têm maior duração, Gasto as horas e os dias A endurecer a forma da emoção.
Miguel Torga, in 'Penas do Purgatório' | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: MIGUEL TORGA - O POETA AUTÊNTICO Qui Set 24, 2009 3:53 pm | |
| Esperança
Tantas formas revestes, e nenhuma Me satisfaz! Vens às vezes no amor, e quase te acredito. Mas todo o amor é um grito Desesperado Que apenas ouve o eco... Peco Por absurdo humano: Quero não sei que cálice profano Cheio de um vinho herético e sagrado.
Miguel Torga, in 'Penas do Purgatório' | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: MIGUEL TORGA - O POETA AUTÊNTICO Sex Set 25, 2009 1:27 pm | |
| Inocência
Vou aqui como um anjo, e carregado De crimes! Com asas de poeta voa-se no céu... De tudo me redimes, Penitência De ser artista! Nada sei, Nada valho, Nada faço, E abre-se em mim a força deste abraço Que abarca o mundo!
Tudo amo, admiro e compreendo. Sou como um sol fecundo Que adoça e doira, tendo Calor apenas. Puro, Divino E humano como os outros meus irmãos, Caminho nesta ingénua confiança De criança Que faz milagres a bater as mãos.
Miguel Torga, in 'Penas do Purgatório' | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: MIGUEL TORGA - O POETA AUTÊNTICO Sáb Set 26, 2009 6:47 pm | |
| Princípio
Não tenho deuses. Vivo Desamparado. Sonhei deuses outrora, Mas acordei. Agora Os acúleos são versos, E tacteiam apenas A ilusão de um suporte. Mas a inércia da morte, O descanso da vide na ramada A contar primaveras uma a uma, Também me não diz nada. A paz possível é não ter nenhuma.
Miguel Torga, in 'Penas do Purgatório' | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: MIGUEL TORGA - O POETA AUTÊNTICO Qua Set 30, 2009 12:03 am | |
| Conquista
Livre não sou, que nem a própria vida Mo consente. Mas a minha aguerrida Teimosia É quebrar dia a dia Um grilhão da corrente.
Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino. E vão lá desdizer o sonho do menino Que se afogou e flutua Entre nenúfares de serenidade Depois de ter a lua!
Miguel Torga, in 'Cântico do Homem' | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: MIGUEL TORGA - O POETA AUTÊNTICO Qua Set 30, 2009 6:31 pm | |
| Tempo
Tempo - definição da angústia. Pudesse ao menos eu agrilhoar-te Ao coração pulsátil dum poema! Era o devir eterno em harmonia. Mas foges das vogais, como a frescura Da tinta com que escrevo. Fica apenas a tua negra sombra: - O passado, Amargura maior, fotografada.
Tempo... E não haver nada, Ninguém, Uma alma penada Que estrangule a ampulheta duma vez!
Que realize o crime e a perfeição De cortar aquele fio movediço De areia Que nenhum tecelão É capaz de tecer na sua teia!
Miguel Torga, in 'Cântico do Homem' | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: MIGUEL TORGA - O POETA AUTÊNTICO Ter Out 06, 2009 4:38 pm | |
| Cântico de Humanidade
Hinos aos deuses, não. Os homens é que merecem Que se lhes cante a virtude. Bichos que lavram no chão, Actuam como parecem, Sem um disfarce que os mude.
Apenas se os deuses querem Ser homens, nós os cantemos. E à soga do mesmo carro, Com os aguilhões que nos ferem, Nós também lhes demonstremos Que são mortais e de barro.
Miguel Torga, in 'Nihil Sibi' | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: MIGUEL TORGA - O POETA AUTÊNTICO Qua Out 07, 2009 4:24 pm | |
| Da Realidade
Que renda fez a tarde no jardim, Que há cedros que parecem de enxoval? Como é difícil ver o natural Quando a hora não quer! Ah! não digas que não ao que os teus olhos Colham nos dias de irrealidade. Tudo então é verdade, Toda a rama parece Um tecido que tece A eternidade.
Miguel Torga, in 'Nihil Sibi' | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: MIGUEL TORGA - O POETA AUTÊNTICO Qui Out 08, 2009 6:23 pm | |
| O que importa é o partir...
Aparelhei o barco da ilusão E reforcei a fé de marinheiro Era longe o meu sonho, e traiçoeiro O mar…
(Só nos é concedida esta vida Que temos; E é nela que é preciso Procurar O velho paraíso Que perdemos.)
Prestes, larguei a vela E disse adeus ao cais, à paz tolhida. Desmedida, A revolta imensidão Transforma dia a dia a embarcação Numa errante e alada sepultura... Mas corto as ondas sem desanimar. Em qualquer aventura O que importa é o partir, não o chegar.
(Miguel Torga) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: MIGUEL TORGA - O POETA AUTÊNTICO Qui Out 08, 2009 9:53 pm | |
| À Beleza
Não tens corpo, nem pátria, nem família, Não te curvas ao jugo dos tiranos. Não tens preço na terra dos humanos, Nem o tempo te rói. És a essência dos anos, O que vem e o que foi.
És a carne dos deuses, O sorriso das pedras, E a candura do instinto. És aquele alimento De quem, farto de pão, anda faminto.
És a graça da vida em toda a parte, Ou em arte, Ou em simples verdade. És o cravo vermelho, Ou a moça no espelho, Que depois de te ver se persuade.
És um verso perfeito Que traz consigo a força do que diz. És o jeito Que tem, antes de mestre, o aprendiz.
És a beleza, enfim. És o teu nome. Um milagre, uma luz, uma harmonia, Uma linha sem traço... Mas sem corpo, sem pátria e sem família, Tudo repousa em paz no teu regaço.
Miguel Torga, in 'Odes' | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: MIGUEL TORGA - O POETA AUTÊNTICO Sáb Out 10, 2009 12:06 am | |
| Aos Poetas
Somos nós As humanas cigarras. Nós, Desde o tempo de Esopo conhecidos... Nós, Preguiçosos insectos perseguidos.
Somos nós os ridículos comparsas Da fábula burguesa da formiga. Nós, a tribo faminta de ciganos Que se abriga Ao luar. Nós, que nunca passamos, A passar...
Somos nós, e só nós podemos ter Asas sonoras. Asas que em certas horas Palpitam. Asas que morrem, mas que ressuscitam Da sepultura. E que da planura Da seara Erguem a um campo de maior altura A mão que só altura semeara.
Por isso a vós, Poetas, eu levanto A taça fraternal deste meu canto, E bebo em vossa honra o doce vinho Da amizade e da paz. Vinho que não é meu, Mas sim do mosto que a beleza traz.
E vos digo e conjuro que canteis. Que sejais menestréis Duma gesta de amor universal. Duma epopeia que não tenha reis, Mas homens de tamanho natural.
Homens de toda a terra sem fronteiras. De todos os feitios e maneiras, Da cor que o sol lhes deu à flor da pele. Crias de Adão e Eva verdadeiras. Homens da torre de Babel.
Homens do dia-a-dia Que levantem paredes de ilusão. Homens de pés no chão, Que se calcem de sonho e de poesia Pela graça infantil da vossa mão.
Miguel Torga, in 'Odes' | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: MIGUEL TORGA - O POETA AUTÊNTICO Sáb Out 10, 2009 12:07 am | |
| Citações de Miguel Torga:
A maior desgraça que pode acontecer a um artista é começar pela literatura, em vez de começar pela vida Tema: Artista A vida afectiva é a única que vale a pena. A outra apenas serve para organizar na consciência o processo da inutilidade de tudo Tema: Vida | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: MIGUEL TORGA - O POETA AUTÊNTICO Sáb Out 10, 2009 10:45 pm | |
| Amor
A jovem deusa passa Com véus discretos sobre a virgindade; Olha e não olha, como a mocidade; E um jovem deus pressente aquela graça.
Depois, a vide do desejo enlaça Numa só volta a dupla divindade; E os jovens deuses abrem-se à verdade, Sedentos de beber na mesma taça.
É um vinho amargo que lhes cresta a boca; Um condão vago que os desperta e toca De humana e dolorosa consciência.
E abraçam-se de novo, já sem asas. Homens apenas. Vivos como brasas, A queimar o que resta da inocência.
Miguel Torga, in 'Libertação' | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: MIGUEL TORGA - O POETA AUTÊNTICO Dom Out 11, 2009 7:15 pm | |
| Sei um ninho
Sei um ninho. E o ninho tem um ovo. E o ovo, redondinho, Tem lá dentro um passarinho Novo.
Mas escusam de me atentar: Nem o tiro, nem o ensino. Quero ser um bom menino E guardar Este segredo comigo. E ter depois um amigo Que faça o pino A voar...
(Miguel Torga) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: MIGUEL TORGA - O POETA AUTÊNTICO Ter Out 13, 2009 11:13 pm | |
| Quase um poema de amor
Há muito tempo já que não escrevo um poema De amor. E é o que eu sei fazer com mais delicadeza! A nossa natureza Lusitana Tem essa humana Graça Feiticeira De tornar de cristal A mais sentimental E baça Bebedeira.
Mas ou seja que vou envelhecendo E ninguém me deseje apaixonado, Ou que a antiga paixão Me mantenha calado O coração Num íntimo pudor, - Há muito tempo já que não escrevo um poema De amor
(Miguel Torga) | |
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