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| BOCAGE - O POETA DA ALMA PORTUGUESA | |
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Autor | Mensagem |
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Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: BOCAGE - O POETA DA ALMA PORTUGUESA Seg Jul 13, 2009 10:15 pm | |
| Se Quereis, bom Monarca, ter Soldados
Se quereis, bom Monarca, ter soldados Para compor lustrosos regimentos, Mandai desentulhar esses conventos Em favor da preguiça edificados:
Nos Bernardos lambões, e asselvajados Achareis mil guerreiros corpulentos; Nos Vicentes, nos Neris, e nos Bentos Outros tantos, não menos esforçados:
Tudo extingui, senhor: fiquem somente Os Franciscanos, Loios, e Torneiros, Do Centimano aspérrima semente:
Existam estes lobos carniceiros, Para não arruinar inteiramente Putas, pívias, cações e alcoviteiros.
(Manuel Maria Barbosa du Bocage) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: BOCAGE - O POETA DA ALMA PORTUGUESA Sáb Jul 18, 2009 7:16 pm | |
| Certo Enfermo, Homem Sisudo
Certo enfermo, homem sisudo, Deixou por condescendência Chamar um doutor, que tinha Entre os mais a preferência.
Manda-lhe o fofo Esculápio Que bote a língua de fora, E envia dez garatujas À botica sem demora.
"Com isto (diz ao doente) A sepultura lhe tapo". Replica o pobre a tremer: "Aposto que não escapo".
(Manuel Maria Barbosa du Bocage) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: BOCAGE - O POETA DA ALMA PORTUGUESA Sex Jul 24, 2009 5:22 pm | |
| O Macaco Declamando
Um mono, vendo-se um dia Entre brutal multidão, Dizem que lhe deu na cabeça Fazer uma pregação.
Creio que seria o tema Indigno de se tratar; Mas isto pouco importava, Porque o ponto era gritar.
Teve mil vivas, mil palmas, Proferindo à boca cheia Sentenças de quinze arrobas, Palavras de légua e meia.
Isto acontece ao poeta, Orador, e outros que tais; Néscios o que entendem menos É o que celebram mais.
(Manuel Maria Barbosa du Bocage) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: BOCAGE - O POETA DA ALMA PORTUGUESA Qui Jul 30, 2009 12:46 pm | |
| A Macaca
Nos serros do Brasil diz certo autor que havia Uma namoradeira, uma sagaz bugia. Milhões de chichisbéus pela taful guinchavam, E por não terem asa, o rabo lhe arrastavam. Qual, caindo-lhe aos pés de amores cego e louco, Nas cabeludas mãos lhe apresentava um coco; Qual do açúcar brilhante a sumarenta cana; E qual um ananás, e qual uma banana. Ela com riso astuto, ela com mil caretas, Lhe entretinha a paixão, lhe ia doirando as petas; Os olhos requebrava ao som de um suspirinho: A todos prometia o mais fiel carinho, E, se algum lhe rogava especial favor, À terna petição dizia: "Sim, senhor." Mas com muita esperança o fruto era nenhum, E os pobres animais ficavam em jejum. Leitores, há mulher tão destra e tão velhaca, Que nisto não ganha inda a melhor macaca.
(Manuel Maria Barbosa du Bocage) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: BOCAGE - O POETA DA ALMA PORTUGUESA Seg Ago 03, 2009 1:12 pm | |
| Saiba morrer o que viver não soube
Meu ser evaporei na lida insana do tropel de paixões que me arrastava. Ah! Cego eu cria, ah! mísero eu sonhava em mim quase imortal a essência humana. De que inúmeros sóis a mente ufana existência falaz me não dourava! Mas eis sucumbe Natureza escrava ao mal, que a vida em sua origem dana. Prazeres, sócios meus e meus tiranos! Esta alma, que sedenta e si não coube, no abismo vos sumiu dos desenganos. Deus, ó Deus!... Quando a morte à luz me roube ganhe um momento o que perderam anos saiba morrer o que viver não soube.
(Manuel Maria Barbosa du Bocage) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: BOCAGE - O POETA DA ALMA PORTUGUESA Qui Ago 06, 2009 11:22 pm | |
| Auto-Retrato
Magro, de olhos azuis, carão moreno, Bem servido de pés, meão na altura, Triste de facha, o mesmo de figura, Nariz alto no meio, e não pequeno:
Incapaz de assistir num só terreno, Mais propenso ao furor do que à ternura, Bebendo em níveas mãos por taça escura De zelos infernais letal veneno:
Devoto incensador de mil deidades, (Digo de moças mil) num só momento Inimigo de hipócritas, e frades:
Eis Bocage, em quem luz algum talento: Saíram dele mesmo estas verdades Num dia, em que se achou cagando ao vento.
(Manuel Maria Barbosa du Bocage) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: BOCAGE - O POETA DA ALMA PORTUGUESA Ter Ago 11, 2009 9:47 pm | |
| Outro soneto ao França
Rapada, amarelenta, cabeleira, Vesgos olhos, que o chá, e o doce engoda, Boca, que à parte esquerda se acomoda, (Uns afirmam que fede, outros que cheira):
Japona, que da ladra andou na feira; Ferrugento faim, que já foi moda No tempo em que Albuquerque fez a poda Ao soberbo Hidalcão com mão guerreira:
Japona, que da ladra andou na feira; Ferrugento faim, que já foi moda No tempo em que Albuquerque fez a poda Ao soberbo Hidalcão com mão guerreira:
Jarra, com apetites de criança; Cara com semelhança de besbelho; Eis o bedel do Pindo, o doutor França.
(Manuel Maria Barbosa du Bocage) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: BOCAGE - O POETA DA ALMA PORTUGUESA Sex Ago 14, 2009 1:07 pm | |
| Soneto (des) Pejado
Num capote embrulhado, ao pé de Armia, Que tinha perto a mãe o chá fazendo, Na linda mão lhe fui (oh céus) metendo O meu caralho, que de amor fervia:
Entre o susto, entre o pejo a moça ardia; E eu solapado os beijos remordendo, Pela fisga da saia a mão crescendo A chamada sacana lhe fazia:
Entra a vir-se a menina... Ah! que vergonha! "Que tens?" - lhe diz a mãe sobressaltada: Não pode ela encobrir na mão langonha:
Sufocada ficou, a mãe corada: Finda a partida, e mais do que medonha A noite começou de bofetada.
(Manuel Maria Barbosa du Bocage) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: BOCAGE - O POETA DA ALMA PORTUGUESA Qua Ago 19, 2009 12:23 pm | |
| Soneto Anal
"Ora deixe-me, então... faz-se criança? Olhe que eu grito, pela mãe chamando!" Pois grite (então lhe digo, amarrotando Saiote, que em baixá-lo irada cansa):
Na quente luta lhe desgrenho a trança A anágua lhe levanto, e fumegando, As estreitadas bimbas separando Lhe arrimo o caralhão, que não se amansa:
Tanto a ser gíria, não gritava a bela: Que a cada grito se escorvava a porra, Fazendo-lhe do cu saltante pela!
- Há de pagar-me as mangações de borra, Basta de cono, ponha o sesso à vela, Que nele ir quero visitar Gomorra.
(Manuel Maria Barbosa du Bocage) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: BOCAGE - O POETA DA ALMA PORTUGUESA Sex Ago 28, 2009 6:21 pm | |
| Soneto da Cagada
Vai cagar o mestiço e não vai só; Convida a algum, que esteja no Gará, E com as longas calças na mão já Pede ao cafre canudo e tambió:
Destapa o banco, atira o seu fuscó, Depois que ao liso cu assento dá, Diz ao outro: "Oh amigo, como está A Rita? O que é feito da Nhonhó?
"Vieste do Palmar? Foste a Pangin? Não me darás notícias da Russu, Que desde o outro dia inda a não vi?"
Assim prossegue, e farto já de gu, O branco, e respeitável canarim Deita fora o cachimbo, e lava o cu.
(Manuel Maria Barbosa du Bocage) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: BOCAGE - O POETA DA ALMA PORTUGUESA Dom Set 06, 2009 10:59 am | |
| Soneto da Donzela Ansiosa
Arreitada donzela em fofo leito, Deixando erguer a virginal camisa, Sobre as roliças coxas se divisa Entre sombras subtis pachocho estreito.
De louro pêlo um círculo imperfeito Os papudos beicinhos lhe matiza; E a branda crica nacarada e lisa, Em pingos verte alvo licor desfeito.
A voraz porra, as guelras encrespando, Arruma a focinheira, e entre gemidos A moça treme, os olhos requebrando.
Como é inda boçal, perder os sentidos; Porém vai com tal ânsia trabalhando, Que os homens é que vêm a ser fodidos.
(Manuel Maria Barbosa du Bocage) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: BOCAGE - O POETA DA ALMA PORTUGUESA Sáb Set 12, 2009 12:14 am | |
| A Mocetona Pudibunda
Levanta Alzira os olhos pudibunda Para ver onde a mão lhe conduzia; Vendo que nela a porra lhe metia Fez-se mais do que o nácar rubicunda:
Toco o pentelho seu, toco a rotunda Lisa bimba, onde Amor seu trono erguia; Entretanto em desejos ardia, Brando licor o pássaro lhe inunda:
C'o dedo a greta sua lhe coçava; Ela, maquinalmente a mão movendo, Docemente o caralho embalava:
"mais depressa" - lhe digo então morrendo, Enquanto ela sinais do mesmo dava; Mística pívia assim fomos comendo.
(Manuel Maria Barbosa du Bocage) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: BOCAGE - O POETA DA ALMA PORTUGUESA Qua Set 16, 2009 12:13 pm | |
| A Puta Assombrosa
Pela rua da Rosa eu caminhava Eram sete da noite, e a porra tesa; Eis puta, que indicava assaz pobreza, Co'um lencinho à janela me acenava:
Quais conselhos? A porra fumegava; "Hei de seguir a lei da natureza!" Assim dizia e efeituou-se a empresa; Prepúcio para trás a porta entrava:
Sem que saúde a moça prazenteira Se arrima com furor não visto à crica, E a bela a mole-mole o cu peneira:
Ninguém me gabe o rebolar d'Anica; Esta puta em foder excede à Freira, Excede o pensamento, assombra a pica!
(Manuel Maria Barbosa du Bocage) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: BOCAGE - O POETA DA ALMA PORTUGUESA Qui Set 17, 2009 1:46 pm | |
| A Puta Novata
Dizendo que a costura não dá nada, Que não sabe servir quem foi senhora, A impulsos da paixão fornicadora Sobe d'alcoviteira a moça a escada.
Seus desejos lhe pinta a malfadada, E a tabaquanta velha sedutora Diz-lhe: "Veio menina, em bela hora, Que essas, que aí tenho, já não ganham nada".
Matricula-se aqui a tal pateta, Em punhetas e fodas se industria, Enquanto a mestra lhe não rifa a greta:
Chega, por fim, o fornicário dia; E em pouco a menina de muleta Passeia do hospital na enfermaria.
(Manuel Maria Barbosa du Bocage) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: BOCAGE - O POETA DA ALMA PORTUGUESA Sex Set 18, 2009 12:37 pm | |
| O Coito Interrompido
"Mas se o pai acordar!..." (Márcia dizia A mim, que à meia-noite a trombicava) "Hoje não..." (continua, mas deixava Levantar o saiote, e não queria!)
Sempre em pé a dizer: "Então, avia..." Sesso à parede, a porra me agüentava: Uma coisa notei, que me arreitava, Era o calçado pé, que então rangia:
Vim-me, e assentado num degrau da escada, Dando alimpa ao caralho, e mais à greta Nos preparamos para mais porrada:
Por variar, nas mãos meti-lhe a teta; Tosse o pai, foge a filha... Oh vida errada! Lá me ficou em meio uma punheta!
(Manuel Maria Barbosa du Bocage) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: BOCAGE - O POETA DA ALMA PORTUGUESA Dom Set 20, 2009 4:43 pm | |
| O Corno Interesseiro
Uma noite o Scopezzi mui contente (Depois de borrifar a sacra espada Que traz de rubra fita pendurada Com cuspo, e vinho, que vomita quente):
Conversava co'a esposa em voz tremente Sobre a grande ventura inesperada De ser a sua Plácida adorada Por um Marquês tão rico, e tão potente:
A velha lhe replica: Isso é verdade; Enquanto moça for, nunca o dinheiro Faltará nesta casa em quantidade.
"Mas tu sempre és o tafulão primeiro: Pois tendo cabrão sido noutra idade, És agora o maior alcoviteiro!"
(Manuel Maria Barbosa du Bocage) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: BOCAGE - O POETA DA ALMA PORTUGUESA Seg Set 21, 2009 12:58 pm | |
| Diálogo Conjugal
Não chores, cara esposa, que o Destino Manda que parta, à guerra me convida; A honra prezo mais que a própria vida, E se assim não fizera, fora indigno.
"Eu te acho, meu Conde, tão menino Que receio..." - Ah! Não temas, não, querida; A francesa nação será batida, Este peito, que vês, é diamantino.
"Como é crível que sejas tão valente?..." Eu herdei o valor de avós, e pais, Que essa virtude tem a ilustre gente.
"Porém se as forças desiguais...?" Irra, Condessa! És muito impertinente! Tornarei a fugir, que queres mais?
(Manuel Maria Barbosa du Bocage) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: BOCAGE - O POETA DA ALMA PORTUGUESA Qui Set 24, 2009 3:59 pm | |
| O Gozador Coçador
"Apre! não metas todo... Eu mais não posso..." Assim Márcia formosa me dizia; - Não sou bárbaro (à moça eu respondia) Brandamente verás como te coço:
"Ai! por Deus, não... não mais, que é grande! e grosso!" Quem resistir ao seu falar podia Meigamente o coninho lhe batia; Ela diz "Ah meu bem! meu peito é vosso!"
O rebolar do cu (ah!) não te esqueça Como és bela, meu bem! (então lhe digo) Ela em suspiros mil a ardência expressa:
Por te unir fazer muito ao meu umbigo; Assim, assim... menina, mais depressa!... Eu me venho... ai Jesus!... vem-te comigo!
(Manuel Maria Barbosa du Bocage) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: BOCAGE - O POETA DA ALMA PORTUGUESA Sex Set 25, 2009 1:32 pm | |
| O Juramento
Eu foder putas?... Nunca mais, caralho! Hás de jurar-mo aqui, sobre estas Horas: E vamos, vamos já!... Porém tu choras? "Não senhor (me diz ele) eu não, não ralho":
Batendo sobre as Horas como um malho, "Juro (diz ele) só foder senhoras, Das que abrem por amor as tentadoras Pernas àquilo, que arde mais que o alho".
Co'a força do jurar esfolheando O sacro livro foi, e a ardente sede O fez em mar de ranho ir soluçando...
Ah! que fizeste? O céu teus passos mede! Anda, herético filho miserando, Levanta o dedo a Deus, perdão lhe pede!
(Manuel Maria Barbosa du Bocage) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: BOCAGE - O POETA DA ALMA PORTUGUESA Seg Set 28, 2009 9:33 pm | |
| O Membro Monstruoso
Esse disforme, e rígido porraz Do semblante me faz perder a cor; E assombrado d'espanto, e de terror Dar mais de cinco passos para trás;
A espada do membrudo Ferrabraz Decerto não metia mais horror: Esse membro é capaz até de pôr A amotinada Europa toda em paz
Creio que nas fodais recreações Não te hão-de a rija máquina sofre Os mais corridos, sórdidos cações:
De Vénus não desfrutas o prazer: Que esse monstro, que alojas nos calções É porra para mostrar, não de foder.
(Manuel Maria Barbosa du Bocage) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: BOCAGE - O POETA DA ALMA PORTUGUESA Qua Set 30, 2009 11:43 pm | |
| O Mouro Desmoralizado
Veio Muley Achmet marroquino Com duros trigos entulhar Lisboa; Pagava bem, não houve moça boa Que não provasse o casco adamantino:
Passou a um seminário feminino, Dos que mais bem providos se apregoa, Onde a um frade bem fornida ilhoa Dava d'esmola cada dia um pino:
Tinha o mouro fodido largamente, E já bazofiando com desdouro Tratava a nação lusa d'impotente:
Entra o frade, e ao ouvi-lo, como um touro Passou tudo a caralho novamente, E o triunfo acabou no cu do mouro.
(Manuel Maria Barbosa du Bocage) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: BOCAGE - O POETA DA ALMA PORTUGUESA Qui Out 01, 2009 4:22 pm | |
| O Padre Patife
Aquele semi-clérigo patife, Se eu no mundo fizera ainda apostas, Apostara contigo que nas costas O grande Pico tem de Tenerife:
Célebre traste! É justo que se rife; Eu também pronto estou, se disso gostas; Não haja mais perguntas, nem respostas; Venha, antes que algum taful o bife:
Parece hermafrodita o corcovado; Pela rachada parte (que apeteço) Parece que emprenhou, pois anda opado!
Mas desta errada opinião me desço; Pois que traz a criança no costado, Deve ter emprenhado pelo sesso.
(Manuel Maria Barbosa du Bocage) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: BOCAGE - O POETA DA ALMA PORTUGUESA Ter Out 06, 2009 4:45 pm | |
| O Pau Decifrado
É pau, e rei dos paus, não marmeleiro, Bem que duas gamboas lhe lobrigo; Dá leite, sem ser árvore de figo, Da glande o fruto tem, sem ser sobreiro:
Verga, e não quebra, como zambujeiro; Oco, qual sabugueiro tem o umbigo; Brando às vezes, qual vime, está consigo; Outras vezes mais rijo que um pinheiro:
À roda da raiz produz carqueja: Todo o resto do tronco é calvo e nu; Nem cedro, nem pau-santo mais negreja!
Para carualho ser falta-lhe um U; Adivinhem agora que pau seja, E quem adivinhar meta-o no cu.
(Manuel Maria Barbosa du Bocage) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: BOCAGE - O POETA DA ALMA PORTUGUESA Qua Out 07, 2009 4:31 pm | |
| O Velho Escandaloso
Tu, oh demente velho descarado, Escândalo do sexo masculino, Que por alta justiça do Destino Tens o impotente membro decepado:
Tu, que, em torpe furor incendiado Sofres d'ímpia paixão ardor maligno, E a consorte gentil, de que és indigno, Entregas a infrutífero castrado:
Tu, que tendo bebido o méstruo imundo, Esse amor indiscreto te não gasta D'ímpia mulher o orgulho furibundo;
Em castigo do vício, que te arrasta, Saiba a ínclita Lísia, e todo o mundo Que és vil por gênio, que és cabrão, e basta.
(Manuel Maria Barbosa du Bocage) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: BOCAGE - O POETA DA ALMA PORTUGUESA Sáb Out 24, 2009 2:54 pm | |
| Bocage e os Médicos...
O pai enfermo e o doutor
Um velho caiu na cama; Tinha um filho esculapino, Que para adivinhações Campava de ter bom tino. O pulso paterno apalpa, E receitar depois vai; Diz-lhe o velho, suspirando: "Repara que sou teu pai."
A moléstia e a receita
Para curar febres podres Um doutor se foi chamar, Que feitas as cerimónias, Começou a receitar. A cada penada sua O enfermo arrancava um ai! – "Não se assuste (diz Galeno), Que inda desta se não vai." – Ah! senhor! (torna o coitado, Como quem seu fado espreita) Da moléstia não me assusto, "Assusto-me da receita."
Conselho a um impaciente
Homem de génio impaciente, Tendo uma dor infernal, Pedia, para matar-se, Um veneno, ou um punhal. – "Não há (lhe disse um vizinho Velho que pensava bem), Não há punhal, nem veneno; Mas o médico aí vem."
A parca e o médico
– "Morte! (Clamava o doente) Este mísero socorre." Surge a Parca de repente, E diz de longe: – "Recorre Ao teu médico assistente."
Vingança do médico
Um médico ressentido De certo seu ofensor, Ante um amigo exclamava, Todo abrasado em furor: – "Para punir este indigno, Este vil, tomara um raio." Acode o outro: – "Há um meio Muito mais fácil; curai-o".
O récipe
Pôs-se médico eminente Em voz alta a receitar. – "Récipe" (diz)... de repente Grita da cama o doente: – "Basta, que mais é matar."
O adeus do doutor
Um médico receitou: Súbito o récipe veio. Do qual no bucho do enfermo Logo embutiu copo e meio, – "Adeus até à manhã" (Diz o fofo professor). Responde o doente: – "Adeus Para sempre meu doutor". | |
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