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 DAVID MOURÃO-FERREIRA - O POETA DO EROTISMO

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Anarca

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MensagemAssunto: Re: DAVID MOURÃO-FERREIRA - O POETA DO EROTISMO   DAVID MOURÃO-FERREIRA - O POETA DO EROTISMO - Página 2 EmptyQui Dez 02, 2010 10:28 pm

Labirinto ou não Foi Nada

Talvez houvesse uma flor
aberta na tua mão.
Podia ter sido amor,
e foi apenas traição.

É tão negro o labirinto
que vai dar à tua rua ...
Ai de mim, que nem pressinto
a cor dos ombros da Lua!

Talvez houvesse a passagem
de uma estrela no teu rosto.
Era quase uma viagem:
foi apenas um desgosto.

É tão negro o labirinto
que vai dar à tua rua...
Só o fantasma do instinto
na cinza do céu flutua.

Tens agora a mão fechada;
no rosto, nenhum fulgor.
Não foi nada, não foi nada:
podia ter sido amor.

David Mourão-Ferreira, in "À Guitarra e à Viola"
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Anarca

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MensagemAssunto: Re: DAVID MOURÃO-FERREIRA - O POETA DO EROTISMO   DAVID MOURÃO-FERREIRA - O POETA DO EROTISMO - Página 2 EmptySex Dez 03, 2010 10:59 pm

Noite Apressada

Era uma noite apressada
depois de um dia tão lento.
Era uma rosa encarnada
aberta nesse momento.
Era uma boca fechada
sob a mordaça de um lenço.
Era afinal quase nada,
e tudo parecia imenso!

Imensa, a casa perdida
no meio do vendaval;
imensa, a linha da vida
no seu desenho mortal;
imensa, na despedida,
a certeza do final.

Era uma haste inclinada
sob o capricho do vento.
Era a minh'alma, dobrada,
dentro do teu pensamento.
Era uma igreja assaltada,
mas que cheirava a incenso.
Era afinal quase nada,
e tudo parecia imenso!

Imensa, a luz proibida
no centro da catedral;
imensa, a voz diluída
além do bem e do mal;
imensa, por toda a vida,
uma descrença total!

David Mourão-Ferreira, in "À Guitarra e à Viola"
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MensagemAssunto: Re: DAVID MOURÃO-FERREIRA - O POETA DO EROTISMO   DAVID MOURÃO-FERREIRA - O POETA DO EROTISMO - Página 2 EmptySáb Dez 04, 2010 2:22 pm

Elegia do Ciúme

A tua morte, que me importa,
se o meu desejo não morreu?
Sonho contigo, virgem morta,
e assim consigo (mas que importa?)
possuir em sonho quem morreu.

Sonho contigo em sobressalto,
não vás fugir-me, como outrora.
E em cada encontro a que não falto
inda me turbo e sobressalto
à tua mínima demora.

Onde estiveste? Onde? Com quem?
- Acordo, lívido, em furor.
Súbito, sei: com mais ninguém,
ó meu amor!, com mais ninguém
repartirás o teu amor.

E se adormeço novamente
vou, tão feliz!, sem azedume
- agradecer-te, suavemente,
a tua morte que consente
tranquilidade ao meu ciúme.

David Mourão-Ferreira, in "Tempestade de Verão"
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MensagemAssunto: Re: DAVID MOURÃO-FERREIRA - O POETA DO EROTISMO   DAVID MOURÃO-FERREIRA - O POETA DO EROTISMO - Página 2 EmptySeg Dez 06, 2010 10:34 pm

A Guerra

E tropeçavam todos nalgum vulto,
quantos iam, febris, para morrer:
era o passado, o seu passado - um vulto
de esfinge ou de mulher.

Caíam como heróis os que não o eram,
pesados de infortúnio e solidão.
(Arma secreta em cada coração:
a tortura de tudo o que perderam.)

Inimigos não tinham a não ser
aquela nostalgia que era deles.
Mas lutavam!, sonâmbulos, imbeles,
só na esp'rança de ver, de ver e ter
de novo aquele vulto
- imponderável e oculto -
de esfinge, ou de mulher.

David Mourão-Ferreira, in "Tempestade de Verão"
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MensagemAssunto: Re: DAVID MOURÃO-FERREIRA - O POETA DO EROTISMO   DAVID MOURÃO-FERREIRA - O POETA DO EROTISMO - Página 2 EmptyQua Dez 08, 2010 7:46 pm

Silêncio

Já o silêncio não é de oiro: é de cristal;
redoma de cristal este silêncio imposto.
Que lívido museu! Velado, sepulcral.
Ai de quem se atrever a mostrar bem o rosto!

Um hálito de medo embaciando o vidrado
dá-nos um estranho ar de fantasmas ou fetos.
Na silente armadura, e sobre si fechado,
ninguém sonha sequer sonhar sonhos completos.

Tão mal consegue o luar insinuar-se em nós
que a própria voz do mar segue o risco de um disco...
Não cessa de tocar; não cessa a sua voz.
Mas já ninguém pretende exp'rimentar-lhe o risco!

David Mourão-Ferreira, in "Tempestade de Verão"
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MensagemAssunto: Re: DAVID MOURÃO-FERREIRA - O POETA DO EROTISMO   DAVID MOURÃO-FERREIRA - O POETA DO EROTISMO - Página 2 EmptySex Dez 10, 2010 1:25 am

Canção Amarga

Que importa o gesto não ser bem
o gesto grácil que terias?
- Importa amar, sem ver a quem...
Ser mau ou bom, conforme os dias.

Agora, tu, só entrevista,
quantas imagens me trouxeste!
Mas é preciso que eu resista
e não acorde um sonho agreste.

Que passes tu! Por mim, bem sei
que hei-de aceitar o que vier,
pois tarde ou cedo deverei
de sonho e pasmo apodrecer.

Que importa o gesto não ser bem
o gesto grácil que terias?
- Importa amar, sem ver a quem...
Ser infeliz, todos os dias!

David Mourão-Ferreira, in "A Secreta Viagem"
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MensagemAssunto: Re: DAVID MOURÃO-FERREIRA - O POETA DO EROTISMO   DAVID MOURÃO-FERREIRA - O POETA DO EROTISMO - Página 2 EmptySex Dez 10, 2010 3:37 pm

Paisagem

Desejei-te pinheiro à beira-mar
para fixar o teu perfil exacto.

Desejei-te encerrada num retrato
para poder-te contemplar.

Desejei que tu fosses sombra e folhas
no limite sereno dessa praia.

E desejei: «Que nada me distraia
dos horizontes que tu olhas!»

Mas frágil e humano grão de areia
não me detive à tua sombra esguia.

(Insatisfeito, um corpo rodopia
na solidão que te rodeia.)

David Mourão-Ferreira, in "A Secreta Viagem"
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