| ZECA AFONSO - O POETA DE ABRIL | |
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Autor | Mensagem |
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Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ZECA AFONSO - O POETA DE ABRIL Qui Jan 21, 2010 4:17 pm | |
| Por trás daquela janela
Por trás daquela janela Faz anos o meu amigo / E irmão
Não pôs cravos na lapela Por trás daquela janela Nem se ouve nenhuma estrela Por trás daquele portão
Se aquela parede andasse Eu não sei o que faria / Não sei
Se a minha faca cortasse Se aquela parede andasse E grito enorme se ouvisse Duma criança ao nascer
Talvez o tempo corresse E a tua voz me ajudasse / A cantar
Mais dura a pedra moleira E a fé, tua companheira Mais pode a flecha certeira E os rios que vão pró mar
Por trás daquela janela Faz anos o meu amigo / E irmão
Na noite que segue o dia O meu amigo lá dorme / De pé
E o seu perfil anuncia Naquela parede fria Uma canção de alegria No vai e vem da maré
Por trás daquela janela Faz anos o meu amigo / E irmão
Não pôs cravos na lapela Por trás daquela janela Nem se ouve nenhuma estrela Por trás daquele portão
(Zeca Afonso) | |
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Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ZECA AFONSO - O POETA DE ABRIL Sex Jan 22, 2010 11:06 pm | |
| Rainha
Quem diz que é pela rainha Nem precisa de mais nada Embora seja ladrão Pode roubar à vontade Todos lhe apertam a mão É homem de sociedade
Acima da pobre gente Subiu quem tem bons padrinhos De colarinhos gomados Perfumando os ministérios É dono dos homens sérios Ninguém lhe vai aos costados
(Zeca Afonso) | |
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Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ZECA AFONSO - O POETA DE ABRIL Sáb Jan 23, 2010 10:46 pm | |
| Já o tempo se habitua
Já o tempo Se habitua A estar alerta Não há luz Que não resista À noite cega Já a rosa Perde o cheiro E a cor vermelha Cai a flor Da laranjeira À cova incerta
Água mole Água bendita Fresca serra Lava a língua Lava a lama Lava a guerra Já o tempo Se acostuma À cova funda Já tem cama E sepultura Toda a terra
Nem o voo Do milhano Ao vento leste Nem a rota Da gaivota Ao vento norte Nem toda A força do pano Todo o ano Quebra a proa Do mais forte Nem a morte
Já o mundo Se não lembra De cantigas Tanta areia Suja tanta Erva daninha A nenhuma Porta aberta Chega a lua Cai a flor Da laranjeira À cova incerta
Nem o voo Do milhano ...
Entre as vilas E as muralhas Da moirama Sobre a espiga E sobre a palha Que derrama Sobre as ondas Sobre a praia Já o tempo Perde a fala E perde o riso Perde o amor
(Zeca Afonso) | |
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Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ZECA AFONSO - O POETA DE ABRIL Seg Jan 25, 2010 9:23 pm | |
| Teresa Torga
No centro a da Avenida No cruzamento da rua Às quatro em ponto perdida Dançava uma mulher nua
A gente que via a cena Correu para junto dela No intuito de vesti-la Mas surge António Capela
Que aproveitando a barbuda Só pensa em fotografá-la Mulher na democracia Não é biombo de sala
Dizem que se chama Teresa Seu nome e Teresa Torga Muda o pick-up em Benfica Atura a malta da borga
Aluga quartos de casa Mas já foi primeira estrela Agora é modelo à força Que a diga António Capela
T'resa Torga T'resa Torga Vencida numa fornalha Não há bandeira sem luta Não há luta sem batalha
(Zeca Afonso) | |
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Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ZECA AFONSO - O POETA DE ABRIL Qui Jan 28, 2010 11:42 pm | |
| Traz outro amigo também
Amigo maior que o pensamento Por essa estrada amigo vem Por essa estrada amigo vem Não percas tempo que o vento É meu amigo também Não percas tempo que o vento É meu amigo também
Em terras Em todas as fronteiras Seja benvindo quem vier por bem Se alguém houver que não queira Trá-lo contigo também
Aqueles Aqueles que ficaram (Em toda a parte todo o mundo tem) Em sonhos me visitaram Traz outro amigo também
(Zeca Afonso) | |
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Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ZECA AFONSO - O POETA DE ABRIL Ter Fev 02, 2010 10:49 pm | |
| Utopia
Cidade Sem muros nem ameias Gente igual por dentro Gente igual por fora Onde a folha da palma afaga a cantaria Cidade do homem Não do lobo, mas irmão Capital da alegria
Braço que dormes nos braços do rio Toma o fruto da terra É teu a ti o deves lança o teu desafio
Homem que olhas nos olhos que não negas o sorriso, a palavra forte e justa Homem para quem o nada disto custa Será que existe lá para os lados do oriente Este rio, este rumo, esta gaivota Que outro fumo deverei seguir na minha rota?
(Zeca Afonso) | |
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Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ZECA AFONSO - O POETA DE ABRIL Sex Fev 05, 2010 11:06 pm | |
| Vampiros No céu cinzento Sob o astro mudo Batendo as asas Pela noite calada Vêm em bandos Com pés veludo Chupar o sangue Fresco da manada
Se alguém se engana Com seu ar sisudo E lhes franqueia As portas à chegada Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada
A toda a parte Chegam os vampiros Poisam nos prédios Poisam nas calçadas Trazem no ventre Despojos antigos Mas nada os prende Às vidas acabadas
São os mordomos Do universo todo Senhores à força Mandadores sem lei Enchem as tulhas Bebem vinho novo Dançam a ronda No pinhal do rei
Eles comem tudo Eles comem tudo Eles comem tudo E não deixam nada
No chão do medo Tombam os vencidos Ouvem-se os gritos Na noite abafada Jazem nos fossos Vítimas dum credo E não se esgota O sangue da manada
Se alguém se engana Com seu ar sisudo E lhe franqueia As portas à chegada Eles comem tudo Eles comem tudo Eles comem tudo E não deixam nada
Eles comem tudo Eles comem tudo Eles comem tudo E não deixam nada
(Zeca Afonso) | |
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Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ZECA AFONSO - O POETA DE ABRIL Dom Fev 07, 2010 4:31 pm | |
| Vejam bem
Vejam bem que não há só gaivotas em terra quando um homem se põe a pensar quando um homem se põe a pensar
Quem lá vem dorme à noite ao relento na areia dorme à noite ao relento no mar dorme à noite ao relento no mar
E se houver uma praça de gente madura e uma estátua e uma estátua de de febre a arder
Anda alguém pela noite de breu à procura e não há quem lhe queira valer e não há quem lhe queira valer
Vejam bem daquele homem a fraca figura desbravando os caminhos do pão desbravando os caminhos do pão
E se houver uma praça de gente madura ninguém vai ninguém vai levantá-lo do chão
(Zeca Afonso) | |
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