| VERGÍLIO FERREIRA - O POETA DA SOLIDÃO | |
|
|
Autor | Mensagem |
---|
Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: VERGÍLIO FERREIRA - O POETA DA SOLIDÃO Seg Jan 25, 2010 9:52 pm | |
| Filho de António Augusto Ferreira e de Josefa Ferreira. Em 1920, os pais de Vergílio Ferreira emigram para os Estados Unidos, deixando-o, com seus irmãos, ao cuidado de suas tias maternas. Esta dolorosa separação é descrita em Nitido Nulo. A neve - que virá a ser um dos elementos fundamentais do seu imaginário romanesco é o pano de fundo da infância e adolescência passadas na zona da Serra da Estrela. Aos 10 anos, após uma peregrinação a Lourdes, entra no seminário do Fundão, que frequentará durante seis anos. Esta vivência será o tema central de Manhã Submersa.
Em 1932, deixa o seminário e acaba o Curso Liceal no Liceu da Guarda. Entra para a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, continuando a dedicar-se à poesia, nunca publicada, salvo alguns versos lembrados em Conta-Corrente e, em 1939, escreve o seu primeiro romance, O Caminho Fica Longe. Licenciou-se em Filologia Clássica em 1940. Concluiu o Estágio no Liceu D.João III (1942), em Coimbra. Começa a leccionar em Faro. Publica o ensaio "Teria Camões lido Platão?" e, durante as férias, em Melo, escreve "Onde Tudo Foi Morrendo". Em 1944, passa a leccionar no Liceu de Bragança, publica "Onde Tudo Foi Morrendo" e escreve "Vagão "J"". Vergílio Ferreira morre em Lisboa, a 1 de Março de 1996 e é sepultado em Melo. | |
|
| |
Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: VERGÍLIO FERREIRA - O POETA DA SOLIDÃO Seg Jan 25, 2010 9:54 pm | |
| Pretextos para o Holocausto…
“Vi o fim do fascismo.Foi bom. Vejo o fim do comunismo. É bom. E vi durante toda a vida como um e outro foram úteis para o ódio se cumprir. Mas finda a utilidade desses pretextos, que outro pretexto vai ser? Curamos os efeitos da doença, guardamos a doença para outra vez. É a reserva maior do homem, essa, a do mal que lhe é inevitável, mas não lhe basta. Cataclismos, traições do irmão corpo. Não chega. E a própria morte, que é a sua fatalidade, ele não a desperdiça e aproveita-a para ir matando mais cedo. Como a um animal do seu sustento. O homem. Que enormidade.”
(Vergílio Ferreira) | |
|
| |
Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: VERGÍLIO FERREIRA - O POETA DA SOLIDÃO Qua Jan 27, 2010 11:51 pm | |
| Cai a Chuva Abandonada
Cai a chuva abandonada à minha melancolia, a melancolia do nada que é tudo o que em nós se cria.
Memória estranha de outrora não a sei e está presente. Em mim por si se demora e nada em mim a consente
do que me fala à razão. Mas a razão é limite do que tem ocasião
de negar o que me fite de onde é a minha mansão que é mansão no sem-limite. Ao longe e ao alto é que estou e só daí é que sou.
Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 1' | |
|
| |
Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: VERGÍLIO FERREIRA - O POETA DA SOLIDÃO Qui Jan 28, 2010 11:35 pm | |
| Veio Ter Comigo Hoje a Poesia
Veio ter comigo hoje a poesia. Há quantos anos? Desde a juventude. Veio num raio de sol, num murmúrio de vento. E a ilusão que me trouxe de uma antiga alegria reinventou-me a antiga plenitude que já não invento.
Fazia-lhe outrora poemas verdadeiros em fornicações rápidas de galo. Hoje não sou eu nunca por inteiro e há sempre no que faço um intervalo.
Estamos ambos tão velhos - que vens fazer? - a cama entre nós da nossa antiga função. Nublado o olhar só de a ver. E tomo-lhe em silêncio a mão.
Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 1' | |
|
| |
Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: VERGÍLIO FERREIRA - O POETA DA SOLIDÃO Ter Fev 02, 2010 10:46 pm | |
| Joga Todo o Teu Ser na Breve Ideia
Joga todo o teu ser na breve ideia que incerta entre o corrente te procura pra lá do que banal te prende e enleia e pelo destacá-la emerge pura.
Fazê-lo é dar-lhe já o que perdura. Porque a banalidade que a medeia como à pedra vulgar por entre a areia esquece o que em tomá-la a rareia.
Ser homem é escolher o que o oriente e ser-lhe o mais a margem que lhe mente.
Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 1' | |
|
| |
Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: VERGÍLIO FERREIRA - O POETA DA SOLIDÃO Sex Fev 05, 2010 11:04 pm | |
| Só nos Pertence o Gesto que Fizemos
Só nos pertence o gesto que fizemos não o fazê-lo como, iludida, a divindade que em nós já trouxemos supõe errada (e não) por convencida.
Porque o traçado nosso em breve cessa, para que outro o recomece e não progrida; que um gesto em ser gesto real se meça, não está em nós fazê-lo, mas na Vida.
Assim o nada a sagra quando finda porque o que é, só é o não ainda.
Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 1' | |
|
| |
Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: VERGÍLIO FERREIRA - O POETA DA SOLIDÃO Dom Fev 07, 2010 4:29 pm | |
| Fímbria de Melancolia
Fímbria de melancolia, memória incerta da dor, ouço-a no gravador, no fado que não se ouvia quando ouvia o seu clamor.
Porque era já no passado o presente dessa hora e que me ressoa agora a um outro mais alongado.
Assim a dor que se sente no outro obscuro de nós nunca fala a nossa voz mas de quem de nós ausente, só a nós próprios consente quando não estamos nós mas mais sós do que ao estar sós.
Onde então estamos nós?
Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 1' | |
|
| |
Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: VERGÍLIO FERREIRA - O POETA DA SOLIDÃO Ter Fev 09, 2010 10:24 pm | |
| Sinto na Angústia o Quem me Lembrasse
Sinto na angústia o quem me lembrasse e do lembrar a mim como uma ponte onde de noite já ninguém passasse viesse a notícia desse outro horizonte
em que o meu grito preso na garganta dissesse à voz que não ouvi e veio quanto vansaço inverosímil, quanta fadiga me enternece como um seio.
Vibrátil voga vaga pela tarde que em cigarros distrai o eu estar só a chama obscura que visível arde quando arde ao sol o pó.
Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 1' | |
|
| |
Conteúdo patrocinado
| Assunto: Re: VERGÍLIO FERREIRA - O POETA DA SOLIDÃO | |
| |
|
| |
| VERGÍLIO FERREIRA - O POETA DA SOLIDÃO | |
|