liveira
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o
ARQUIPÉLAGO
P
asseando pelas ruas de Telavive respira-se democracia. A moder¬na metrópole israelita é laica, cosmopolita, multiétnica e tole¬rante. Há liberdade de expressão, uma oposição activa, uma imprensa crítica e uma sociedade civil poderosa. Passean¬do pelas ruas de Jerusalém, de onde es¬crevo, começa-se a duvidar que Israel seja uma democracia de tipo ocidental. Os judeus ultra-ortodoxos tomaram conta da cidade e vão impondo a todos as suas caprichosas regras. Os poucos árabes que não foram expulsos da cida¬de e do país são cidadãos de segunda. Nas ruas, são permanentemente inter¬pelados pela polícia. Para os haredi, só a religião comum faz de Israel o seu país. Pouco lhe dão. Os árabes, só por terem escapado à má sorte dos restan¬tes palestinianos são israelitas. Sem qualquer convicção.
Mas quando se viaja para a Cisjordã¬nia fica-se com a certeza de que Israel não é, de facto, uma democracia. Ape¬sar de qualquer judeu que nunca tenha posto os pés no país poder conquistar facilmente todos os direitos naquele ter¬ritório, incluindo o de roubar terras aos vizinhos árabes, quase tudo está interdi¬to aos palestinianos, que por ali sempre viveram. Incluindo no pequeno territó¬rio que só virtualmente lhes pertence. Uma simples viagem de uma cidade pa¬lestiniana para outra é um privilégio
4.eret ' adopela-decisão de um adolescente armado que chegou maldisposto ao checkpoint.
Passeando pelas ruas de Telavive, Is¬rael parece uma democracia. Se nos esquecermos dos muçulmanos, que por ali quase não existem, será. Se nos esquecermos que os critérios pa¬ra a cidadania são étnicos e religiosos, será. Mas um dia, dizem as previsões demográficas, os árabes israelitas se¬rão mais do que os judeus. Os cida¬dãos de segunda serão mais do que os de primeira. Então, o Estado de Israel e a sua ficção democrática serão insus¬tentáveis. Já o são e os sinais estão à vista: a militarização da política, o crescimento da extrema-direita e dos fanáticos religiosos, a perda de capaci¬dade crítica da sociedade civil. Por¬que ilhas democráticas cercadas de ar¬bitrariedade e violência não são o mes¬mo que uma democracia. E Israel é um arquipélago. À sua volta não estãoapenas inimigos Estao as suas proprias limitaçoes