Previsão de Daniel Gros, director do Centre for European Policy Studies, de Bruxelas
Se Espanha pedir ajuda ao fundo do euro “Portugal irá a seguir”
16.06.2010 - 22:31 Por Isabel Arriaga e Cunha, Bruxelas
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« anteriorO recurso da Espanha ao novo fundo de estabilização do euro de 750 mil milhões de euros é “quase inevitável” e se isso acontecer, “Portugal irá a seguir”: o vaticínio foi feito por Daniel Gros, director do Centre for European Policy Studies, de Bruxelas (CEPS).
Uma ajuda a Madrid “é bastante inevitável porque o sistema bancário espanhol está arredado do financiamento externo, e os bancos não conseguem sobreviver muito tempo” nessas condições, afirmou Gros, um dos mais respeitados analistas europeus, a um grupo de jornalistas. “E como neste momento a Espanha não tem outras fontes de financiamento do exterior terá de ser o sector público a fazê-lo, ou seja, o FMI e a Europa”, defende.
O problema dos bancos espanhóis resulta da sua exposição às perdas resultantes do rebentamento da bolha da construção civil espanhola, que Daniel Gros calcula em 300 mil milhões de euros. Não se sabe quais são os bancos mais expostos aos créditos incobráveis dos particulares ou dos empresários da construção que perderam com o fim da bolha, ou se são espanhóis ou de outros países do euro. “Esta falta de conhecimento paralisou o mercado interbancário”, sublinha.
É por esta razão, aliás, que Gros defende a realização de testes aprofundados aos bancos europeus (os chamados “stress tests”) de modo a permitir calcular o grau das suas perdas nos piores cenários, e a publicação dos resultados. Esta publicação não é consensual entre os países da União Europeia (UE) porque “os governos não querem ter de corar, porque muitos dos bancos com problemas são públicos”, ironizou. Aliás, refere, “ao contrário dos Estados Unidos, não houve reestruturação de bancos” na Europa: os problemas mais imediatos foram ultrapassados com as garantias fornecidas pelos Estados, mas não houve uma redução do seu endividamento. É por isso que o sistema financeiro “permanece tão frágil” na Europa: “estamos muito mais expostos que os Estados Unidos.
Neste contexto, “é muito claro que se a Espanha pedir a activação do fundo, os mercados dirão: ‘hum, quanto tempo conseguirão os portugueses sobreviver sozinhos?’, defende. “Tanto mais que uma grande parte do sistema bancário português pertence a bancos espanhóis”. O que, no seu entender, torna mais fácil Portugal accionar logo a seguir a parte especificamente comunitária do fundo de estabilização, que ascende a 60 mil milhões de euros (que complementa os 440 mil milhões de garantias dos países do euro e 250 mil milhões do FMI). Em seu entender, aliás, uma ajuda a Portugal “será relativamente barata”.
Ao invés, em Espanha a ajuda poderá ascender a “algumas centenas de milhar de milhões de euros”. Tudo depende do nível das perdas do sistema bancário espanhol” e de “como o processo for conduzido”. Se demorar muito devido a uma eventual recusa de Madrid em pedir a sua activação “por terem um estigma”, será mais caro como aconteceu com a Grécia, avisa.
“Dez anos de recessão ou estagnação”
O investigador considera, por outro lado, que Portugal e Espanha não conseguirão escapar a “dez anos de recessão ou estagnação” económica. “Em Espanha parece bastante inevitável por causa dos enormes excessos no sector da construção nos últimos anos. Será muito difícil, mesmo nas melhores circunstâncias, que se consiga reintegrar milhões de trabalhadores não qualificados da construção nos sectores exportadores, o que torna muito difícil ver qualquer fonte de crescimento em Espanha na próxima década”.
Portugal seguirá o mesmo padrão, apesar de já ter passado vários anos em estagnação. “Basicamente, Portugal consumiu em excesso nos últimos dez anos e sub-investiu, sobretudo em capital humano, o que faz com que os trabalhadores portugueses não sejam competitivos mesmo com níveis salariais muito baixos. É por isso que é muito difícil ver qualquer crescimento em Portugal”.
Falhanço da Comissão Europeia
Daniel Gros foi por outro lado muito crítico da actuação da Comissão Europeia e do seu presidente, Durão Barroso, na gestão da crise do euro em geral e da Grécia em particular. “A Comissão não está a desempenhar o seu papel, em parte devido a falhanços pessoais”, criticou. “Onde estava a Comissão na crise grega em Outubro, Novembro Dezembro?”, interrogou-se, considerando que Bruxelas “deveria ter dito ao Governo grego que não aceitava a versão pouco credível do seu primeiro programa de estabilidade. O que, refere, fez com que os mercados tivessem perdido toda a confiança na Comissão. É por isso que o analista defende que a gestão do futuro mecanismo de gestão de crises da eurolândia deverá ser entregue a “uma instituição independente” com “gente profissional e independente”. “A Comissão Europeia pode candidatar-se se quiser, mas teve a possibilidade de ter feito algo diferente com a Grécia e de assumir a gestão dos orçamentos”. Em vez disso, assumiu-se como um “molusco por defeito”, ironiza.
Daniel Gros recusa por completo o argumento que tem sido avançado pelo presidente da Comissão de que não serve de nada apresentar propostas que não tenham a garantia de ser aceites pelos governos, a começar pela Alemanha.
“Barroso é pago para tentar resolver os problemas e ter ideias” para esse fim, mas não ficou famoso por isso nos últimos cinco anos”, critica.
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