| | ABADE DE JAZENDE - O POETA PADRE | |
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Autor | Mensagem |
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Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: ABADE DE JAZENDE - O POETA PADRE Qua Jul 28, 2010 6:58 pm | |
| Paulino António Cabral, escritor português, nasceu em Amarante, em 1719, tornando-se pároco de Jazente a partir de 1753, cargo ao qual resignou, por doença, em 1783. Estudou em Coimbra e foi uma das presenças da Arcádia Portuense que reuniria por finais de 1760. A sua vida repartiu-se entre esta, as festas conventuais e a solidão rústica.
Como poeta, sobretudo sonetista, cantou os temas horacianos do amor epicurista e da dourada mediania rural. A obra legada fornece-nos preciosos depoimentos históricos e também por ela sabemos dos seus prazeres (a caça, a pesca, o jogo, a boa mesa); das suas fraquezas, do seu triste envelhecer, dos seus amores, pois revela-nos episódios concretos de um relacionamento com Nise (anagrama de Inês da Cunha).
Os sonetos respeitantes a Nise constituem o mais pungente drama de amor do século XVIII português. Além de poesia de circunstância, deixou textos de conteúdo moral e poesia de matiz romântica. | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ABADE DE JAZENDE - O POETA PADRE Qua Jul 28, 2010 7:02 pm | |
| Imitando Camões
Amor é um arder que se não sente; É ferida que dói, e não tem cura; É febre, que no peito faz secura; É mal, que as forças tira de repente.
É fogo, que consome ocultamente; É dor, que mortifica a Criatura; É ânsia, a mais cruel e a mais impura; É frágoa, que devora o fogo ardente.
É um triste penar entre lamentos; É um não acabar sempre penando; É um andar metido em mil tormentos.
É suspiros lançar de quando em quando; É quem me causa eternos sentimentos. É quem me mata e vida me está dando (Abade de Jazente) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ABADE DE JAZENDE - O POETA PADRE Qui Jul 29, 2010 5:15 pm | |
| Amores - I
Olha Nize, vem cá; falemos claro Já agora a tua história está sabida E loucura será mudar de vida Se nunca há-de calar-se o mundo avaro: Inda que, de virtude exemplo raro, Te mostres do passado arrependida, Nada com isso alcanças; que perdida A honra uma só vez, não tem reparo.
Se faltaste ao dever, e a sorte escura Eterna nódoa sobre ti derrama, O afecto ao menos conservar procura.
Torna outra vez de amor á doce chama; Que será duplicar a desventura, Perder o Amante, e não cobrar a fama.
(Abade de Jazente)
Última edição por Anarca em Sex Jul 30, 2010 12:51 pm, editado 1 vez(es) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ABADE DE JAZENDE - O POETA PADRE Sex Jul 30, 2010 12:50 pm | |
| Amores - II
Enquanto to permite a mocidade, Teu Pai disfarça, tua Mãe consente, E enquanto, Nize, a moda o não desmente Nos brincos gasta a flor da tua idade.
Joga, dança, conversa, e a variedade, Que causa tanta prenda, assombre a gente; Deixa-te ver, que o Século presente Hoje chama ao pudor rusticidade.
Os corações de quem te aplaude enlaça: desfruta o tempo: e tem por aforismo Que o gosto é fugitivo, a sorte escassa
Engolfa-te de amor no doce abismo; Busca o prazer; a vida alegre passa; Logra-te enfim; que o mais é fanatismo.
(Abade de Jazente) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ABADE DE JAZENDE - O POETA PADRE Seg Ago 02, 2010 5:46 pm | |
| Amores - III
Ou fosse, Nize, em nós pouca cautela, Ou que alguém pressentisse o nosso enleio, Tudo se sabe já; tudo é já cheio, Qu’algum cuidado há muito nos disvela.
Dizem, qu’eu sou feliz, que tu és bela; E às vezes com satírico rodeio, Um murmura, outro zomba, e sem receio A fama cada qual nos atropela.
Mas se nunca se tapa a boca à gente, E se amor sempre activo nos devora, Porque aquela é mordaz, porque este ardente;
Adoremo-nos pois como até agora: Siga-se amor; arraste-se a corrente; E se o mundo falar, que fale embora.
(Abade de Jazente) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ABADE DE JAZENDE - O POETA PADRE Ter Ago 03, 2010 1:36 pm | |
| Amores - IV
Ora Nize se ri, ora lamenta, Ora se of’rece, ora se dificulta Ora em nada me aceita, ora me multa Ora me anima, ora me desalenta:
Ora gostos me dá, ora atormenta; Ora se deixa ver, ora se oculta; Ora mimos me faz, ora me insulta; Ora toda é bonança, ora tormenta:
Ora me faz gelar, ora me acende; Ora aleito me dá, ora me espanta, Ora solto me traz, ora me prende:
Ora triste me tem, ora me encanta; Ora sim, ora não; ninguém a entende, Ora é um Diabo, ora é uma Santa.
(Abade de Jazente) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ABADE DE JAZENDE - O POETA PADRE Qua Ago 04, 2010 4:50 pm | |
| Amores - V
Se tanto gosto a tua tirania Recebe, ó Fera, em ver um desgraçado, Põe os olhos em mim; vê se te agrado, Que eu te farei constante companhia.
Não precisas, que à bárbara Turquia Vás ver sobre as galés algum forçado, Pois eu, mais infeliz, junto ao teu lado Avivarei a tua rebeldia.
Se o teu prazer enfim, cruel, consiste Em teres por objecto um descontente, A quem a desventura sempre assiste;
No vás mais longe, não; porque presente Tem feito o teu rigor de mim um triste, O mais triste, que cobre o Sol luzente.
(Abade de Jazente) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ABADE DE JAZENDE - O POETA PADRE Qui Ago 05, 2010 1:41 pm | |
| Amores, o Fim – I
Nize, eu não sou de ferro, e atenuado, Ainda que o fora, o uso me teria; Porque enfim do trabalho na porfia Se consome o metal mais obstinado.
Instrumento não há tão reforçado, Que resista do tempo à bataria: Gasta o martelo a safra, e a terra fria Pouco a pouco consome o curvo arado.
Tudo assim é: o amor o mais ardente, No contínuo incêndio se evapora; E o mesmo me acontece ultimamente.
Outro procura pois; e te melhora De amante, ou mais afouto, ou mais valente; Que eu já não posso mais; fica-te embora.
(Abade de Jazente) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ABADE DE JAZENDE - O POETA PADRE Sex Ago 06, 2010 5:09 pm | |
| Amores, o Fim – II
Nize, deixa-me em paz; porque já agora No mar de Amor, por mais que á vela saia, Carcaça velha sou, que junto á praia, Por não poder surgir se desarvora.
Adeus, que quem me vir da barra fora, É capaz de me dar alguma vaia: E ao menos quero, antes que ao fundo caia, Inda salvar-me: adeus; fica-te embora.
Bem sei que pouco é já; mas por vanglória (Porque às vezes se faz do próprio dano) A mesma falta hei-de fazer notória.
E no público altar do Desengano, Deixarei dos estragos por memória O destroçado leme, e o roto pano.
(Abade de Jazente) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ABADE DE JAZENDE - O POETA PADRE Seg Ago 09, 2010 4:48 pm | |
| Amores, o Fim – III
Nize, eu não posso mais, e a minha idade Já não resiste à tua gentileza, Porque em mim já desmaia a natureza, E em ti inda te alenta a mocidade.
Enquanto eu pude, e tive actividade, Nenhuma exp’rimentou em mim tibieza; E se queres saber esta certeza, Tua avó te dirá toda a verdade.
Pergunta-lhe o que fiz, e a valentia Com que do ardente amor acompanhado Nas campanhas de Vénus combatia:
Mas já hoje da guerra estropiado, Só conservo na vaga fantasia Estas tristes memórias do passado.
(Abade de Jazente) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ABADE DE JAZENDE - O POETA PADRE Ter Ago 10, 2010 12:22 pm | |
| Velhice, Solidão, Morte - I
Eu como, eu bebo, eu durmo e a vida passo Ora bem, ora mal, como sucede: Tomo tabaco, e chá; e se mo pede O génio alguma vez, eu Nize abraço:
As vezes jogo, as vezes versos faço, Que mais que a arte a natureza mede: E talvez por saber como procede Em se mover o Sol círculos traço.
Alguma vez me agrada a soledade, Outras vezes a nobre companhia; E desta sorte vou passando a idade:
E espero assim que venha a morte fria Com o manto da eterna escuridade Encobrir-me de todo a luz do dia.
(Abade de Jazente) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ABADE DE JAZENDE - O POETA PADRE Qua Ago 11, 2010 11:55 am | |
| Velhice, Solidão, Morte - II
Esta vida infeliz que me não larga, Só por dar ao meu mal maior aumento, Parece que igualando o meu tormento, Quanto mais ele cresce, ela se alarga.
Tenaz não quer deixar-me; e tanto amarga Me rouba o gosto, e esgota o sofrimento, Que multas vezes sacudir intento Dos ombros fracos meus tão longa carta.
A Parca invoco então; e a Parca dura Os votos me rejeita, as costas vira, E vai ferir a quem a não procura. Porque quando a morrer um triste aspira, Como a morte lhe serve de ventura, A morte encosta a fouce, e se retira.
(Abade de Jazente) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ABADE DE JAZENDE - O POETA PADRE Qui Ago 12, 2010 4:37 pm | |
| Velhice, Solidão, Morte - III
Aqui onde me trouxe o duro fado A passar o melhor da minha idade, Não tenho mais que a bruta sociedade De algum tosco Vilão, que tange o gado.
Tudo o mais é deserto inabitado, Despenhos, precipícios, soledade, Que só pode oferecer comodidade Para algum infeliz desesperado.
Aqui sobre uma penha esmorecido Fico um dia talvez, e em tal segredo, Que até nem de mim mesmo sou sentido.
E, então, estupefactos mudo, e quedo Assi’estou de males aturdido; Qual junto de um penedo, outro penedo.
(Abade de Jazente) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ABADE DE JAZENDE - O POETA PADRE Sex Ago 13, 2010 12:30 pm | |
| Velhice, Solidão, Morte - IV
Aqui, onde me trouxe o fado duro Para passar da vida o triste resto, É tudo um espectáculo funesto, Em que a vista apascento, o peito apuro.
Do Marão carregado o forte muro, E dos penhascos o medonho gesto, Um me prende, outro faz com que molesto Seja aos meus passos este albergue escuro.
Aqui só por instinto se governa A gente bruta: aqui feroz me avisa Da brenha a fera, a serpe da caverna.
Aqui todo o meu mal me martiriza; Que até, para fazer-me mágoa eterna, O aspecto de mim mesmo me horroriza.
(Abade de Jazente) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ABADE DE JAZENDE - O POETA PADRE Seg Ago 16, 2010 5:24 pm | |
| (Ao seu Amigo)
Deixa, Moreira, o mundo; é tempo agora De ver da praia firme o golfo insano, As velas colhe, e o tarde desengano Com levantadas mãos devoto adora.
Repousa pois: o mundo hoje devora Com enganos cruéis o peito humano; E rindo-te de ver o antigo engano, As antigas paixões sábio melhora.
Deixa Amor, deixa as Musas, e somente Do Ilustre Baco o copo à boca arrima; Pois alegra a quem vive descontente:
Louva o homem discreto, o Sábio estima; Ama a virtude; mostra-te prudente; Toma tabaco, fala à tua Prima.
(Abade de Jazente) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ABADE DE JAZENDE - O POETA PADRE Ter Ago 17, 2010 1:39 pm | |
| Bucólico
Aqui sobre esta penha, que defronte Me fica do Marão, sentar-me intento, Para lançar ao mundo o pensamento Antes que o Sol se meta no Horizonte.
Acolá vejo ao pé daquele monte De uma pobre corrente o nascimento, Que apenas deve á chuva um breve aumento Já quer ser rio, e deixa de ser fonte. á tal estrondo faz, e tal balborda, Que tudo atroa; e assim que o vale ganha Logo se espalha, e toda se tresborda.
Enxada, submergir quer a campanha, Soberba quer ser mar; e não se acorda Que a mijou ainda há pouco uma montanha.
(Abade de Jazente) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ABADE DE JAZENDE - O POETA PADRE Qua Ago 18, 2010 5:21 pm | |
| Filosofia de vida
Não desejo chegar a tal grandeza, Que aduladores vis cerquem meus lados, Nem palácios magníficos doirados, Ricas alfaias, nem polida mesa.
Não me lembram heranças, nem riqueza, Que me obrigue a pôr nela meus cuidados; Não ocupar honrosos magistrados, Nem outras coisas vãs, que o mundo preza.
Quisera só fugir de tanta estima, Livrar-me deste pélago profundo, Mudar da natureza que me anima;
Subir da lua ao globo alto e rotundo, E depois de apanhar-me lá de cima, Desatar os calções, cagar no mundo
(Abade de Jazente) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ABADE DE JAZENDE - O POETA PADRE Qui Ago 19, 2010 1:35 pm | |
| Sátira
Se magro como um cão alguém me visse Em terra estranha roto, e desprezado, E do pobre vestido esfrangalhado Cardumes de piolhos sacudisse:
Se doença maligna perseguisse Meu corpo de ossos só organizado; Se em terrível prisão, no chão deitado De fria cama a terra me servisse:
Se feito objecto ascoso a toda a gente, Aquele, que me visse a vez primeira, Ou fugisse, ou pasmasse de repente:
Se meu corpo por fim visse a lazeira De cego, surdo, e mudo juntamente; Antes tudo sofrera que ter F...
(Abade de Jazente) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ABADE DE JAZENDE - O POETA PADRE Sex Ago 20, 2010 12:19 pm | |
| Crítica social
A trinta e cinco réis custa a pescada: O triste bacalhau a quatro e meio: A dezasseis vinténs corre o centeio: De verde a trinta réis custa a canada.
A sete, e oito tostões custa a carrada Da torta lenha, que do monte veio: Vende as sardinhas o galego feio Cinco ao vintém; e seis pela calada.
O cujo regatão vai com excesso, Revendendo as pequenas iguarias, Que da. pobreza são todo o regresso.
Tudo está caro: só em nossos dias, Graças ao Céu! Temos em bom preço Os tremoços, o arroz e as Senhorias.
(Abade de Jazente) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ABADE DE JAZENDE - O POETA PADRE Seg Ago 23, 2010 12:07 pm | |
| Louvando o Marquês de Pombal e desfazendo nos Jesuítas - I
(Ao enterro do Excelentíssimo Marquês de Pombal)
Marcha em paz, ó Marquês, e afronta ousado Da fria sepultura a escuridade; Que a ser do Elíseo, o que se diz verdade, Inda nele o teu Rei te of’rece o lado.
Tu lhe guardaste a vida, o Trono, o Estado; Tu lhe assististe enfim com tal lealdade, Que se o Letes não muda de vontade, Terás inda além dele o Régio agrado.
Marcha, torno a dizer, sem que a vanglória Deixe as tuas acções em bronze escritas, Ou forme delas volumosa história:
Pois te basta sem frases esquisitas, Que mostre o teu sepulcro esta memória: Aqui jaz quem deu fim aos Jesuítas.
(Abade de Jazente) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ABADE DE JAZENDE - O POETA PADRE Ter Ago 24, 2010 12:17 pm | |
| Louvando o Marquês de Pombal e desfazendo nos Jesuítas - II
É tal, Marquês preclaro, é tal o aumento, Que às Armas tens, que tens às letras dado, Que o lustre, que se deve ao teu cuidado, Te dobra, e não distingue o luzimento.
Da muda habitação do esquecimento As soubeste extrair, e afortunado Logra com elas o florente Estado Numas defesa, e noutras ornamento.
Tu com progresso igual na concorrência Lhe fizeste recíproca a vitória, Sem que ceda nenhuma a preferência.
E tanto que inda as Filhas da Memória Se lembram nesta nobre competência De dous triunfos teus, uma só glória.
(Abade de Jazente) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ABADE DE JAZENDE - O POETA PADRE Qui Ago 26, 2010 1:44 pm | |
| Louvando o Marquês de Pombal e desfazendo nos Jesuítas - III
(Ao Excelentíssimo Marquês de Pombal)
Marquês tinhas razão; e o Mundo agora Da tua persistência a valentia Por prudência feliz tanto avalia, Que de eterno louvor te condecora.
A mesma Roma em seu triunfo arvora O Decreto, que extingue a Companhia: Tarde teu grito ouviu, mas todavia Te deu maior abono na demora.
Persististe, venceste, e um monumento A teu nome já célebre prepara, Capaz de resistir ao esquecimento.
A acção toda foi tua, e tão preclara, Que a faltar-te das mais o luzimento A fazer-te imortal esta bastara.
(Abade de Jazente) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ABADE DE JAZENDE - O POETA PADRE Sex Ago 27, 2010 4:56 pm | |
| Dedicação do cão Mondego
Tó, Mondego, vem cá; pois tu somente Alivias um pouco o meu cuidado; Que em parte se consola um desgraçado, Quando tem quem lhe escute o mal que sente.
Tu firme; tu leal; tu finalmente Te tens na minha ausência acompanhado: Raro impulso de amor! Porque ao seu lado Ninguém quer suportar um descontente.
Ora deixa, que em prémio da piedade, Com que o teu zelo ao meu tormento assiste, Farei teu nome emblema da amizade.
E os versos meus que um tempo alegre ouviste Cantarão, para exemplo da lealdade, Um Rafeiro fiel de um Pastor triste.
(Abade de Jazente) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ABADE DE JAZENDE - O POETA PADRE Seg Ago 30, 2010 12:25 pm | |
| Fidelidade do Cão “Diamante”
Se parto, tu, “Diamante” descontente Ficas guardando o solitário assento; Mas bem que triste, com robusto alento Vibras contra o ladrão o agudo dente.
Se volto, tu me esperas diligente, Mostrando-me um fiel contentamento; Pois logo com festivo movimento És em casa o primeiro que me sente.
Se caço, com gentil velocidade De um salto abocas a ligeira presa, E a trazes com leal docilidade.
Oh! Como eu fora descansado à mesa! Se pudesse encontrar tanta lealdade No António, no José, e na Teresa.
(Abade de Jazente) | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ABADE DE JAZENDE - O POETA PADRE Ter Ago 31, 2010 11:37 am | |
| Saudades do Cão “Mondego”
Pastor um tempo e agora pegureiro, Vivo o mais infeliz deste montado, Sem Pátria, sem cabana, e sem mais gado, Que as feras que me cercam neste outeiro.
Tudo o mais me roubou o derradeiro Dia em que fui feliz: que o duro fado Até por me deixar mais desgraçado, A vida me arrancou do meu rafeiro.
Ele por toda a parte me assistia, E com tanta lealdade, que comigo, Se acaso eu fosse à morte, à morte iria.
A fome, a sede, a calma, o desabrigo, Só por me não deixar, fiel sofria; Eu perdi nele o mais leal amigo.
(Abade de Jazente) | |
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