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 FICHTE - Vida, época, pensamento e obra

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Anarca

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MensagemAssunto: FICHTE - Vida, época, pensamento e obra    FICHTE - Vida, época, pensamento e obra   EmptyQui Set 23, 2010 12:13 pm

O primeiro e maior discípulo de Kant, que encaminhou decididamente o criticismo pela senda do idealismo imanentista, é Fichte. Resolve ele o mundo kantiano da sensibilidade, perante o qual, no dizer de Kant, o espírito seria passivo, no mundo da natureza, criado pelo espírito para se realizar a si mesmo como eticidade e liberdade, pois Fichte mantém o conceito kantiano do primado da razão prática, precisamente no conceito do espírito como eticidade.

João Amadeu Fichte nasceu em 1762, em Rommenau. Primeiro estudou teologia na universidade de Jena, depois dedicou-se entusiasticamente à filosofia kantiana, e conheceu pessoalmente Kant. Em 1794 foi convidado a lecionar na universidade de Jena.

Aí teve que enfrentar a oposição das autoridades religiosas e políticas, que - protestantes embora - tiveram intuição do seu anticristianismo e ateísmo. Apesar das suas desculpas, Fichte teve que deixar o ensino universitário. Depois de ter peregrinado por várias universidades, e ter travado relações com um círculo romântico, estabeleceu-se definitivamente, em 1810, na universidade de Berlim, onde pronunciou os famosos Discursos à Nação Alemã, para incitar os seus patrícios contra Napoleão que humilhara e vencera a Alemanha. Faleceu em Berlim, em 1814. Entre as suas obras, a principal é Fundamentos da doutrina da ciência, onde expõe sistematicamente o seu pensamento.

Sustenta Fichte que o motivo fundamental, pelo qual se decide em favor do idealismo e não em favor do dogmatismo, isto é, do realismo, seria prático, moral, em suma, uma questão de caráter. Dogmatismo significa passividade, acomodação, fraqueza, debilidade; ao passo que idealismo, isto é, imanentismo, significaria atividade, independência, liberdade, posse de si mesmo. E, de fato, este motivo prático, moral, ficou sendo a base do idealismo posterior, que, portanto, procurou a sua justificação teorética em uma metafísica monista-imanentista, e não em uma metafísica transcendente e teísta.

Assentado isto, Fichte concebe idealisticamente toda a realidade, tanto espiritual quanto material, como uma produção do eu. Trata-se, naturalmente, de um eu universal, absoluto, transcendental, isto é, Eu puro, de que o eu empírico, os diversos "eus empíricos" seriam concretizações particulares, no tempo e no espaço. Nesses eus empíricos, e unicamente neles, o Eu puro vive, opera, desenvolve-se, em um processo infinito, ético, em que está a sua divindade infinita.
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MensagemAssunto: Re: FICHTE - Vida, época, pensamento e obra    FICHTE - Vida, época, pensamento e obra   EmptySex Set 24, 2010 12:00 pm

Desenvolvendo a doutrina kantiana do primado da razão prática, Fichte pensa que a natureza íntima, profunda, originária do eu seja atividade, moralidade. Para realizá-la, o eu criaria o mundo da natureza, oporia a si mesmo o não-eu. Este seria precisamente como que o campo da sua atividade, o obstáculo a superar para realizar a sua eticidade, a antítese que ele põe como tese, a fim de que seja possível a síntese ética. Tal processo ascendente, pois, não tem fim, porque, se terminasse, apagar-se-ia a vida do espírito, a qual é atividade, eticidade, e a realidade cairia do nada.

Naturalmente, tal produção do não-eu por parte do eu, tal produção da natureza por parte do espírito é inconsciente. Mas, destarte, julga Fichte ter justificado, deduzido do eu o mundo da matéria, da natureza; mundo que, para Kant, era um dado e inexplicável. Fica, todavia, racionalmente indeduzível o conteúdo desse mundo da natureza, minerais, vegetais, animais, e cada indivíduo e cada ação sua, porquanto em um sistema de idealismo absoluto deveria ser tudo racionalmente justificado - como mais tarde, procurará fazer Hegel.

Mas, para que seja superado e vencido esse mundo natural, para que o espírito possa aplicar a ele a sua atividade, é necessário que a natureza seja conhecida pelo espírito. Daí uma terceira duplicação do eu, a dualidade do eu teorético e do eu prático, do eu cognoscitivo e do eu ativo. Temos o eu teorético, quando, na antítese eu não-eu, prevalece o segundo elemento; temos, pelo contrário, o eu prático quando prevalece o primeiro elemento, isto é, o espírito, que é precisamente eticidade. No conhecimento começa a manifestar-se aquela atividade consciente do espírito, do eu (reflexão), que era, ao invés, inconsciente no momento da produção da natureza, do não-eu (imaginação produtora), bem como na multiplicação do "eu puro" nos "eus empíricos".

Tal série ideal da atividade do espírito, do eu, consciente e inconsciente, teorética e prática, tem por fim a sempre mais perfeita realização do próprio espírito, isto é, a sua liberdade, a consciência da sua natureza absoluta e divina. Consciência e liberdade que encontram um progresso na sociedade humana, em uma sociedade de seres livres, no estado. Fichte tem uma concepção ética do estado, das nações, dos povos, deva ser guiada e ensinada por um povo, uma nação, um estado ideal. Segundo ele, esse estado seria a Alemanha. É um mito romântico da Alemanha, em que o povo alemão é considerado como o povo puro e originário, encarnando a idéia da humanidade.
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MensagemAssunto: Re: FICHTE - Vida, época, pensamento e obra    FICHTE - Vida, época, pensamento e obra   EmptySeg Set 27, 2010 12:23 pm

Daqui se pode compreender a ação política exercida por Fichte na Prússia, em Berlim - durante a ocupação, a dominação de Napoleão, causa de humilhação para o povo germânico - com os Discursos à Nação Alemã. Nestes discursos esforça-se Fichte para despertar no povo alemão, despedaçado e dominado, uma consciência de unidade e autonomia nacionais, que deveriam ter culminado em um estado alemão, superestado em face de outros estados.

Essa atividade utópica-política de Fichte tem certa semelhança com a atividade desenvolvida alguns anos depois na Itália, por Gioberti que escreveu o famoso livro Primato morale e civile degli Italiani. Nesta obra Gioberti não somente quer dar à Itália unidade e independência nacional e política, mas também procura evidenciar o seu primado no mundo; primado moral e civil, isto é, religioso e cultural, que indiscutivelmente ela possui, como herdeira da cultura clássica e sede do cristianismo católico romano.

Não é preciso lembrar que o Deus de Fichte não é transcendente, pessoa, criador, como o Deus do teísmo e do cristianismo, isto é, não é Deus no sentido verdadeiro e próprio; mas é imanente, impessoal e gerador do mundo, de sorte que o verdadeiro conceito de Deus é logicamente anulado, como justamente observa Schopenhauer. Compreendem-se, assim, as acusações de ateísmo levantadas contra Fichte. O Deus de Fichte é apenas ordo ordinans, isto é, deveria ser a ordem moral do mundo. Entretanto, em um sistema imanentista - como é o de Fichte - acaba por coincidir com a ordem real, natural, do mundo, em que o "deve ser" é reduzido ao "ser".

O próprio Fichte notou essa grave deficiência, essa demolição de Deus. E, em uma segunda fase do seu pensamento, volta ele para uma concepção de Deus absoluto e imutável, ideal para o qual tende o afanoso evolucionar humano, que aspira aos valores espirituais e morais.
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