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 DUAS FACES DO MERCADO

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MensagemAssunto: DUAS FACES DO MERCADO   DUAS FACES DO MERCADO EmptySeg Abr 05, 2010 10:54 pm

Duas faces do mercado - I

Karl Polanyi e Friedrich Hayek, dois intelectuais austríacos, nascidos nos finais do século XIX, viveram num circuito cultural e ideológico mais ou menos próximo, tanto em Viena como depois, na década dos anos trinta, em Londres. A obra deles, porém, os dois importantíssimos livros que eles publicaram em 1944, sem que tivessem conhecimento das suas respectivas teses, eram francamente opostos, marcando posições bem definidas quando a visão que eles tinham da história e da importância do mercado na sociedade contemporânea.

Mesma geração

“Anteriormente à nossa época, nenhuma economia existiu, mesmo em princípio, que fosse controlada por mercados”.
K.Polanyi - A Grande Transformação”, 1944

“O controle econômico tende a paralisar as forças propulsoras da sociedade livre”
F.Hayek - O Caminho da Servidão, 1944

Se bem que bem mais de dez anos separavam o nascimento de Karl Polanyi do de Friedrich von Hayek, ocorridos em Viena, um em 1886 e outro em 1899, pode-se dizer que ambos fizeram parte da mesma geração daqueles pensadores sociais austríacos que deitaram fama no mundo. Os dois, um de descendência judaica e o outro católico, além de terem a melhor das formações, serviram no exército do império Austro-húngaro durante a Iª Guerra Mundial, experiência da qual guardaram poucas boas lembranças. Enquanto Polanyi freqüentou os grupos radicais, encontrando-se com George Lukács e Karl Mannheim, Hayek logo abandonou suas inclinações de socialista moderado ao ser escolhido para trabalhar com Ludwig von Mises, um dos mais célebres teóricos da chamada Escola Austríaca.

Em Londres e em Vermon

Por motivos diversos, eles terminaram por emigrar para a Grã-Bretanha nos anos trinta. Ao tempo em que Polanyi mostrou-se arredio a levar uma vida acadêmica regular, empregando-se como tutor, Hayek logo integrou-se no alto staff da elite pensante da Inglaterra. Quando a London School of Economics, onde ele era conferencista desde 1931, emigrou em 1940 para Cambridge, para escapar das bombas de Hitler, foi John M. Keynes quem abriu-lhe as portas para acomodá-lo. Os americanos, por sua volta, sempre atentos e generosos com os talentos que vagavam pelo mundo, não tardaram em convidar Polanyi para uma estada em Vermon, onde o Bennington College ofereceu-lhe a preciosa tranqüilidade para que ele escrevesse. Enquanto isso, lá na Inglaterra, Hayek também se mobilizava. Em 1944, os dois, sem saberem um do outro, lançaram dois livros seminais para a nossa época: o The Great Transformation ( A Grande Transformação), de Polanyi, e o Road to Serfdom ( O Caminho para a Servidão), de Hayek. Dificilmente dois intelectuais que viviam mais ou menos no mesmo circuito, o austro-anglo-saxão, aspirando mais ou menos o mesmo clima cultural e ideológico chegaram a conclusões tão divergentes.

O moinho satânico

No entender de Polanyi - ao fazer a reconstrução da expansão da economia de mercado na Grã-Bretanha do século XIX -, um novo tipo de sociedade havia emergido, distinta de tudo o que se conhecera até então. Nos sistemas produtivos anteriores à Revolução Industrial, os interesses econômicos eram mínimos, imperando as relações sociais e familiares. Porém, com a expansão do sistema fabril e os altos custos da sua implantação, foi preciso transformar a sociedade por inteiro tornando-a um imenso mercado regido pelo interesse e pelo lucro, sendo o trabalho um negócio como um outro qualquer. Num levantamento detalhado das leis inglesas daquela época (a privatização das terras, a Lei dos Pobres de 1834, a Lei da Reforma de 1831, que deu enorme poder aos empregadores, a Lei do Trigo em 1846, o estimulo a imigração ou a ampliação do sistema prisional), Polanyi mostrou como o estado, a serviço dos empreendedores, mobilizou-se para criar as condições em que a sociedade fosse submetida ao mercado. Não só isso, gerou-se um novo sistema social – a Grande Transformação - onde todos indivíduos tornaram-se “ átomos dispensáveis”, uma engrenagem que era de fato “ uma máquina... para qual o homem estava condenado a servir”. Para Polanyi deixá-la solta, sem maiores impedimentos e regulações, como pregavam os liberais, era excitá-la a ser um moedor de carne ou um “ moinho satânico” , como ele preferiu, destruindo todas as relações sociais.
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MensagemAssunto: Re: DUAS FACES DO MERCADO   DUAS FACES DO MERCADO EmptyDom Abr 11, 2010 12:15 am

Duas faces do mercado - II

A semente do totalitarismo

Hayek viu tudo ao contrário. Para ele, contemporâneo das engenharias burocráticas do nazismo e do comunismo russo, eficientes opressoras dos indivíduos tornados peões dos macro-planejamentos econômicos, só via a solução em promover ainda mais o mercado. Mesmo o mais róseo dos programas socialistas, assegurou, era portador de sementes totalitárias. Planejar, para ele, era sufocar, era inibir, era constranger, era amestrar. Mesmo o pacífico Welfare State, o Estado de Bem-estar Social, bandeira dos trabalhistas ingleses do após-guerra, parecia-lhe uma temeridade, um risco permanente às liberdades maiores ( o que era um tanto irônico, pois a London School of Economics da qual ele participava, fora fundada pelo casal Webb, uma dupla de socialistas fabianos). Entretanto não era só ela, a liberdade, quem se via ameaçada com a subordinação dos cidadãos aos quesitos do superburocrata. O clima criado pelo controle econômico pareceu-lhe tão nocivo quanto à submissão às regulamentações. Era a inventiva humana quem se via ameaçada, tolhida, bloqueada, senão castrada, pelas ingerências do Estado Interventor. Destaque-se a coragem moral dos dois. Polanyi execrou o mercado vivendo num país, os Estados Unidos, em que ele era quase uma divindade. Hayek celebrou-o exatamente no momento em que a Grã-Bretanha, com a vitória de Attle e dos trabalhistas em 1945, se encaminhava para uma longa experiência de estatizações e programas sociais distributivistas. Hayek, Prêmio Nobel em 1974, foi visto como profeta depois da débâcle soviética e da crise do Estado de Bem-estar Social europeu. Polanyi, por sua vez, volta a ser lembrado agora, com os impasses, limitações e decepções causadas pelas atuais políticas liberais. Mais de meio século depois e os dois vienenses continuam em trincheiras opostas.
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