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 LORD ACTON E A MARCHA DA LIBERDADE

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MensagemAssunto: LORD ACTON E A MARCHA DA LIBERDADE   LORD ACTON E A MARCHA DA LIBERDADE EmptyQui Mar 11, 2010 4:37 pm

Lord Acton e a marcha da liberdade - I

Lord Acton, o eminente historiador liberal inglês do século 19, falecido em junho de 1902, elegeu como os principais inimigos da individualidade e das minorias, o Estado e as multidões. Sua obra concentrou-se basicamente num conjunto de ensaios onde defendeu o principio de que a História deveria ser entendida na perspectiva da liberdade, dela progredir ou regredir. Celebrizou-se igualmente por sua frases, quase todas elas repudiando a concentração do poder, adversário da liberdade, tornando-o um precursor do pensamento neoliberal dos dias de hoje.

Da rejeição à consagração

“E, lembre-se, quando se tem uma concentração de poder em poucas mãos, freqüentemente homens com mentalidade de gangsters detêm o controle. A história provou isso. Todo o poder corrompe: o poder absoluto corrompe absolutamente.”
(Lord Acton, em carta ao Bispo M.Creighton, 1887)

O jovem John Emerich Edward Dalberg, o futuro historiador Lord Acton, teve sua matricula rejeitada em Cambridge em 1850 por ser católico (ser da “Velha Fé”, como denominavam o catolicismo na Inglaterra daquela época, era, quase sempre, condenar-se ao ostracismo ou à marginalidade). Situação que o obrigou a uma vida diferente dos demais letrados da aristocracia inglesa , indo estudar na Bavária, terra dos seus antepassados pelo lado materno. Deve, pois, ter saboreado bem o momento quando, quase quarenta anos depois, agraciaram-lhe com um doutorado e, em seguida, deram-lhe a cadeira de História Moderna naquela mesma universidade que antes o rejeitara.

Ter sido tratado como se fosse um estranho no seu próprio meio, de sentir-se um outsider entre a elite imperial britânica, vocacionou-o para desprezar o nacionalismo, a desconfiar das autoridades estatais e a temer a presença das massas. Tanto é assim que sua tão comentada definição de liberdade, constante no seu The History of Freedom in Antiquity, como sendo o direito à certeza de estar-se protegido em relação as suas crenças, mesmo que elas desagradem as autoridades, as maiorias, os costumes e as opiniões dos outros, tornou-se até hoje um lema das minorias. Lord Acton, ao longo da sua vida, converteu-se num militante dos direitos do individualismo, sonhando algum dia poder escrever uma “História da Liberdade” voltada para denunciar a concentração do poder como o seu inimigo mortal. Ocorre que o que ele concebia como “minoria” estava bem longe do que hoje se entende por tal.

A defesa da minoria

Para Lord Acton, minoria era a ínfima parcela da sociedade composta por gente sofisticada e culta, a levedura da nata, extremamente consciente da sua proeminência social e da sua exuberância intelectual e financeira, que tinha ojeriza a qualquer controle estatal sobre suas vidas, costumes ou patrimônio. Se bem que entendesse a democracia, que avançava célere no século 19, como legítima expressão do repúdio à monarquia dinástica e à tirania, temia que a maré montante da massas viesse a afogar os direitos de exclusividade de alguns poucos eleitos.

O momento pior de Lord Acton deu-se quando lamentou a derrota do Sul escravista na Guerra de Secessão de 1861-5 . Mesmo concorde de que a manutenção da escravidão era algo que feria sua visão da história – pautada pela slow evolution, a evolução vagarosa - como marcha da liberdade, ele posicionou-se a favor dos estados confederados terem todo o direito de separam-se da União. Imaginou, erroneamente, que o Sul , por si mesmo, lenta e gradualmente, encontraria um caminho para a emancipação dos seus negros, sem que fosse preciso ser “estimulado” pelos canhões do General Grandt e pela cavalaria do General Sherman. No seu raciocínio, quanto mais poder o estado centralizado e unificado acumulasse - o que dera-se com a vitória da União em 1865 - , pior seriam as condições para a expansão do individualismo. Deu-se ao revés. Nunca as liberdades nos Estados Unidos prosperaram tanto quando desde aquele momento, ampliando ainda mais os direitos individuais (as Emendas Constitucionais triplicaram: saltaram de 12 para 27).

Uma revolução permanente

A concepção de história dele centrou-se na importância das idéias e o papel revolucionário que elas tinham nos tempos modernos – foi ele quem cunhou a expressão “ revolução permanente” . Bem ao contrário da escola alemã, especialmente a hegeliana que via o estado como a única garantia da liberdade, Lord Acton pregava, para que ela fosse conquistada, a luta contra o estado e contra as maiorias. Via o pensamento alemão, em geral, atrelado a uma celebração da Idade Média, como hostil ao otimismo do Iluminismo, com sua fé infalibilidade da consciência, a metafísica da lei natural, e a confiança na mecânica newtoniana. Lord Acton, porém, apesar de alinhar-se a muitos do propósitos do Iluminismo, continuou sendo um católico. Discordava do costume, tão comum entre os historiadores, de enxergarem o passado pelas idéias do presente, assegurando, tal como Ranke, a quem ele admirava, que “cada período da história deve ser visto sobre sua própria luz natural” (History of Progress in Britain). A ênfase dele nas história das idéias é porque, dentro da tradição idealista, as acreditava responsável pelos acontecimentos, na medida em que, especialmente nos Tempos Modernos, elas encontravam maior e mais rápida difusão.
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MensagemAssunto: Re: LORD ACTON E A MARCHA DA LIBERDADE   LORD ACTON E A MARCHA DA LIBERDADE EmptyDom Mar 14, 2010 9:09 pm

Lord Acton e a marcha da liberdade - II

Clio, a musa da Historia

Entendendo que vivia numa época excepcional, diferente do que tudo que houvera antes, estabeleceu alguns pontos que, para ele, representavam os principais desafios para o historiador dos novos tempos:

1 – devido a estarmos perante um verdadeiro dilúvio de documentos, novos materiais e informações diversas, jamais conhecidas antes, isto tudo impedia de uma só mente ter um domínio completo, universal.

2 – A grande tarefa não era somente “acumular material”, mas desenvolver a arte da investigação, procurando discernir o falso do verdadeiro, e a certeza da dúvida. A descoberta de material novo não era tão importante quanto a prática da analise critica sobre a massa dos documentos descobertos.

3 – a Doutrina da Imparcialidade. Se a historia era dependente dos documentos as opiniões não o eram. Mesmo reconhecendo a influência das idéias na política e na religião (a força da ideologia), devemos entender que elas não são necessariamente verdadeiras, o que não implica elas não serem respeitadas. Para ele Clio, a musa da história, deveria vir sempre com a venda da imparcialidade amarrada sobre os olhos.

A História Moderna de Cambridge

Em 1896, convidaram-no para, com pela autonomia, encarregar-se da organização de um grande projeto de história moderna a ser editado pela Universidade de Cambridge, exatamente a cadeira em que ele era Regius Professorship. Lord Acton tratou então de mobilizar o que havia de melhor entre os historiadores da época. Numa lista juntou 120 nomes, todos eles grandes especialistas. Lord Acton porém era convicto de que um bom historiador, alguém de primeira classe, era capaz de escrever sobre qualquer período histórico, desde que sua condição preliminar fosse a imparcialidade e que privilegiassem a função das idéias nos destinos das sociedades. Rejeitando a história feita pelos Grandes Homens (em carta a H.M.Buttler, um colega, disse que “ os grandes homens da História não eram homens bons”), entendeu-a como um fenômeno somente explicado aos olhos da marcha universal da liberdade. Como ponto de partida desta grande aventura intelectual que tornou-se a Modern History of Cambridge, ele fixou como o primeiro volume da vastíssima obra, o Renascimento, pois foi naquela época que surgiram Colombo, Maquiavel, Erasmo, Lutero e Copérnico, os titãs que inauguraram os nossos tempos, rompendo com as amarras impostas pelas distâncias náuticas, com a enganosa sacralização do poder e dos evangelhos, com o predomínio da Igreja e com o imobilismo da ciência geocêntrica. Eles foram “os catalisadores da libertação da sociedade do passado” (Inaugural Lecture on the Study of History, 1895).
Em abril de 1901, aos 67 anos, Lord Acton sofreu seu primeiro ataque que fez com que seu filho, em carta, o descomprometesse da organização dos tomos seguintes. Em 1902, justo no ano em que ele faleceu, o primeiro volume da série deixou o prelo. Desde então, faz um século, grandes coleções de história, reunindo especialistas de países cada vez mais diferentes, multiplicaram-se em todas as línguas, espalhando assim o desejo de Lord Acton de reunir erudição, especialização, e liberdade de pensamento num só movimento universal, celebrando o que ele denominou de a Lei da Inovação, isto é, o mundo moderno.
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