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 O RENASCIMENTO E OS NOVOS MUNDOS...

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MensagemAssunto: O RENASCIMENTO E OS NOVOS MUNDOS...   O RENASCIMENTO E OS NOVOS MUNDOS... EmptyTer Jan 12, 2010 10:28 pm

O Renascimento e os novos mundos - I

Durante aproximadamente três séculos, do XIV ao XVII, os séculos do Renascimento, um conjunto impressionante de escritores, artistas, aventureiros, marinheiros, políticos, filósofos, cientistas e pensadores italianos, em geral homens de gênio, lançaram as bases do mundo moderno tal como o conhecemos hoje. As razões desse poderoso movimento ter-se iniciado na Itália, apesar da vasta bibliografia existente, ainda é controversa. É claro que o passado de grandeza da Roma Imperial, presente na forma de ruínas e na recordação do povo peninsular, sempre lembrou aos italianos sua ascendência ilustre. Como também foi importante para eles o contato quase que permanente com a cultura grega, que se prolongou mesmo nos tempos bizantinos, quando Roma havia se separado de Constantinopla. Por último, mas não menos importante, o magnífico passado dos italianos de nada lhe serviria se não houvesse naqueles séculos assinalados uma notável expansão mercantil e financeira das suas principais cidades , permitindo que a agitação econômica delas criasse um clima favorável à aventura e ao que veio a chamar-se de Renascimento.

Novos Mundos

A expressão Novos Mundos aqui não é utilizada apenas com referência à descoberta do continente Americano, mas sim, de uma forma mais ampla e generosa. Novos Mundos foram todos aqueles continentes, isto é novos espaços, descobertos por uma série de italianos eminentes que derramaram seu olhar e exerceram sua curiosidade sobre uma vasta gama de artes e ofícios de uma forma até não inigualada.

Dante Alighieri

Nas letras, este Novo Mundo foi aberto pela obra do poeta florentino Dante Alighieri que redigiu um verdadeiro monumento literário em versos: a “Divina Comédia”- de 1313 – 1321. Ao fazê-lo em italiano, de origem toscana, e não no latim como era comum então. Dante abriu caminho para as línguas nacionais começassem a predominar na literatura européia em geral. Depois dele praticamente todos os grandes escritores, fossem ou não italianos, resolveram escrever seus livros nos seus idiomas nacionais.

Os Médicis

Florentinos foram igualmente os Médicis, riquíssima família de banqueiros que graças aos seus negócios diversificados abriram as portas do capitalismo mercantil emergente. Financiando empreendimentos e estados, importando produtos dos mais variados locais e inaugurando filiais em várias cidades européias, os Médicis romperam com as atividades econômicas feudais, limitadas às práticas comunais, tornando-as amplas, cosmopolitas. Devido a atuação deles como grandes mecenas, amparando os artistas, conseguiram tornar Florença numa verdadeira Atenas da Itália, uma das cidades com mais obras- primas por metro quadrado no mundo inteiro.
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MensagemAssunto: Re: O RENASCIMENTO E OS NOVOS MUNDOS...   O RENASCIMENTO E OS NOVOS MUNDOS... EmptyQua Jan 13, 2010 10:07 pm

O Renascimento e os novos mundos - II

Leonardo da Vinci

Coube a Leonardo da Vinci desvendar o continente da pintura para especulação científica. O Tratado della pintura, redigido por ele ao redor do ano de 1500, foi um verdadeiro manual de instrução para os artistas para que eles obedecessem as regras da observação, da perspectiva e da proporção na elaboração das obras de arte, fosse na pintura ou na escultura. O seu gênio estendeu-se para o projeto de uma máquina de voar, um submarino, um veículo autopropulsados e diversos planos urbanísticos.

Pico della Mirandola

A Pico della Mirandola, filósofo neoplatônico, devemos a abertura para a individualidade, auxiliando ao nascente individualismo as condições éticas e psicológicas para que eles conseguissem libertar-se das amarras familiares, herança arcaica do feudalismo, que ainda represavam o homem do Renascimento. Para ele não temos uma natureza fixa determinada por Deus, assegurou na sua Oratio de Hominis Dignitate, o Discurso sobre a dignidade humana, de 1487. Ao contrário, somos uma possibilidade aberta a várias alternativas, cabendo exclusivamente a nós como indivíduos, a nossa própria vontade, que norte dar a nós mesmo e ao nosso caminho. Deus não nos deu o destino, mas sim liberdade para forjar um.

Colombo, Caboto, Vespucci

Aos descobridores, aos grandes marinheiros italianos Cristóforo Colombo, Giovanni Caboto e Américo Vespucci – e sua viagem transatlântica realizadas entre 1492-1504, devemos o Novo Mundo como comumente é entendido. O novo continente, até então desconhecido, que neste último cinco século serviu de refúgio a abrigo seguro para a gente de todos os cantos da terra que para cá vieram em busca de paz e prosperidade, fugindo da servidão e do despotismo das estruturas arcaicas que ainda dominaram a Europa de então.

Maquiavel

Ao tratadista e historiador florentino Niccolo Machiavelli devemos o vislumbre de um outro continente - o da política como uma força independente das convenções morais comuns. Viu-a como algo autônomo, uma força sujeita às regras e normas próprias, dominada por razões que não as determinadas pela vontade moral dos indivíduos. Por mais chocante que “ II Príncipe”, escrito em 1512, mas somente editado em 1521, possa parecer não ninguém retira o mérito de Maquiavel ter descortinado ao público a existência do frio e calculista universo do poder, coisa que ele tão bem conhecera atuando como secretário diplomático da republica de Florença..
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MensagemAssunto: Re: O RENASCIMENTO E OS NOVOS MUNDOS...   O RENASCIMENTO E OS NOVOS MUNDOS... EmptySex Jan 15, 2010 9:37 pm

O Renascimento e os novos mundos - III

A emergência da polifonia

Na música, este Novo Mundo foi construído pelo rompimento com a monocordia do canto medieval, do canto gregoriano, e a crescente aceitação da polifonia introduzida nas cortes por Giovanni Pierluigi Palestrina, novidade consagrada na sua “Missa do Papa Marcelo”, de 1555. Modificação total da arte da composição que permitiu a que Cláudio Monteverdi inaugurasse um gênero radicalmente novo: a Ópera. Ao homenagear “Orfeu” – o apaixonado inventor da lira e do culto Órfico ( incluindo a forma articulada a representação, o cenário, a orquestra e o canto lírico) Monteverdi antecipou, ainda em 1607, o que veio a tornar-se o cinema moderno.

Galileu Galilei

E finalmente, concluímos com aquele que visualizou não só um Novo Mundo mas sim uma nova perspectiva sobre o Cosmo inteiro, o cientista florentino Galileu Galilei. Graça à sua pequena luneta, que ele aperfeiçoou em 1609. Podemos pela primeira vez encantar – nos com a vastidão do espaço celeste, Galilei, apoiada em Copérnico e em Kepler, destruiu com a concepção do espaço fechado e da natureza diferenciada dos astros, herança da física Aristotélica-ptolemaica, que perdurava por 17 séculos. Seu opúsculo chamado de Siderus nuntius, “O Mensageiro das estrelas” de 1610, contendo suas primeiras observações feitas pelo telescópio, foi o percurso das atuis enviadas pelo Huble, o super-telescópio que vaga hoje pelos espaços imagináveis.

A narrativa fantástica de Marco Polo

Numa das tantas refregas entre genoveses e venezianos, Marco Polo, um ex-mercador tornado soldado, foi levado preso para Gênova. Provavelmente para suportar o tedioso tempo em que ficou detido, resolveu relatar suas fantásticas aventuras passadas para um companheiro seu de cela. Felizmente este era para um escritor, Rusticiano de Pisa, carinhosamente chamado de Rustichelo deu forma de um livro a narrativas do encarcerado. Escreveu naquilo que os franceses chamavam de langue d’oil, um francês italianizado. Naquela época, pelo começo do século XIV, não havia ainda uma nítida fronteira entre os dois idiomas, principalmente nas regiões da Itália mais setentrional.
Dificilmente um livro, ora com o título de “ A descrição do Mundo” ora como “ O livro de Marco Polo”, teve tamanho impacto na história. Por mais que desconfiassem das façanhas de Marco Polo que, juntamente com seu tio Mateo, foram legislatários por 17 anos, até 1291, na asiática de Kublai Khan, elas incentivaram a imaginação daqueles que delas ouviram falar.

Impressões da fabulosa Cathay

Era uma corte impressionantemente suntuosa, cujo fausto provocou a cobiça de cada um que dela tomou conhecimento. Não só a descrição das riquezas atraíam os leitores. Kublai Khan também não revelava nenhuma hostilidade aos cristãos, dando a entender que qualquer um que viesse do ocidente seria bem vindo em seu império, a prodigiosa Cathay. Além disso Marco Polo afirmou que mais ou menos 1500 milhas do litoral da China encontrava-se a paradisíaca Ilha de Cipango, o atual Japão, rica em ouro.
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MensagemAssunto: Re: O RENASCIMENTO E OS NOVOS MUNDOS...   O RENASCIMENTO E OS NOVOS MUNDOS... EmptyTer Jan 19, 2010 11:00 pm

O Renascimento e os novos mundos - IV

O mapa de Toscanelli

Uma das edições do livro chegou às mãos de Paolo dal Pozzo Toscanelli, astrônomo e geógrafo, nomeado astrólogo judicial pela Signoria, o governo de Florença. Consta que teria sido dele a idéia de assinalar numa carta, portulano ou mapa, as possibilidades de se chegar-se à China não pelos caminhos terrestres convencionais, percorridos anteriormente por Polo, mas sim dirigindo-se ao Ocidente, enfrentando o Oceano Atlântico, ou o Mar Oceano como então era chamado. Esta especulação de Toscanelli teria chegado ao conhecimento de Cristóforo Colombo(*). Nela a largura do Atlântico estava escandalosamente subestimada, mas a possibilidade de tal viagem ser realizada nunca mais abandonou Colombo.
(*) Umas fontes apontam que Toscanelli, um ex-professor de Pádua, foi em algum momento mestre de Colombo. Outras apenas indicam que o geógrafo sabendo da curiosidade do navegador, fez chegar as suas mãos a carta onde assinalava a hipótese de atingir-se a Ásia navegando pelo Ocidente.

O Ulisses de Dante

“Noi oi allegramo e tosto tornó in pianto: chi de la nova terra um turbo nacque, e percose del legno il primo canto.
Ulisses e Dante (Inferno, canto XXVI)

É difícil saber se Dante Alighieri chegou a tomar conhecimento das narrativas de Marco Polo. Há indícios de que aquele fantástico livro de viagens tenha começado a circular em latim por volta de 1312-1316, mais ou menos à época em que Dante deu início a primeira parte da “comédia”. Seja como for, ali também encontra-se um conciso registro de uma possível viagem feita por Ulisses para além das colunas de Hércules (Inferno, canto XXVI)

Dante na companhia de Virgílio, seu cicerone na grande aventura pelo outro mundo, depara-se num lugar qualquer do Inferno com algumas almas completamente envolta em chamas eternas, que jamais esmaecem. Uma delas era a de Ulisses, o herói grego, que ali estava punido por ter enganado os troianos com o falso presente do cavalo de madeira que desgraço a cidade. Envolto pela fumaça, aquela alma danada confessou ao poeta que nem o amor que sentia por sua mulher, a fiel Penélope, nem a piedade que lhe despertava o pai ancião, foram capazes de fazer com que ele resolvesse ficar na ilha de Ítaca, o seu reino, evitando que ele voltasse ao mar para novas aventuras. Não puderam, ninguém da sua família, disse ele, “vencer em mim ânsia que sentia de conhecer bem o mundo, os vícios e os valores humanos pelo que lancei-me em amplo mar aberto. Só, num barco com poucos companheiros que não me abandonaram nunca”.

O desastre de Ulisses

Em seguida, Ulisses narrou a Dante como, logo após contornar a costa da Espanha e do Marrocos, enfrentou o mar aberto seguindo sempre o destino do Sol. Depois de viajar pelo tempo de cinco luas terem aparecido e se apagado, ele e seus companheiros depararam-se com um monte escuro encravado numa grande ilha que viram no horizonte. O mais alto dos montes que jamais tinham visto. Desgraçadamente, ao se aproximarem dele, foram envolvidos por violentas ondas e naufragaram ao chegarem na nova terra. Agora ele ali estavam naquele Inferno, condenado a ser apenas um espectro abrasado.

A história de que o bravo Ulisses teria feito mais uma viagem, a derradeira, depois do seu regresso à Ítaca, circulava como uma lenda na Idade Média. A versificação daquele suposto feito pelo grande nome da língua italiana que era Dante, porém, deu-lhe um foro de verdade. Foi a primeira vez na literatura ocidental que encontrou-se uma descrição, ainda que imaginária, de uma vigem feita a um “novo mundo”.

Desta forma os elementos reais ou imaginários que darão impulso as grandes navegações dos século XV e XVI, de Colombo e de Caboto, estavam por assim dizer sedimentando-se na mente da maioria dos marinheiros italianos.

Da vida contemplativa à vida ativa

Até a época do Renascimento era lugar comum de preferir- se a vida contemplativa à vida ativa: o bios teorétikos ao bios pratikos, tão discutido bem antes por Aristóteles. Quase todos os grandes pensadores, fossem gregos ou cristãos, enalteciam a vida ociosa e manifestavam seu desconforto para com as coisas práticas, úteis e mecânicas, que envolviam a vida cotidiana. Em larga medida concordavam com aquela passagem de Aristóteles que diz: “Parece, pois, que a sabedoria traz consigo prazeres maravilhosos, tanto por sua pureza como por sua solidez, é e evidente que a vida, para aqueles que sabem, resulta mais agradável do que aqueles que ainda buscam o saber”.

Ora, para atingir a tal dimensão de sabedoria era necessário o autoconfinamento. Uma existência dedicada integralmente à contemplação, explorando as capacidades meditativas de cada um, enfurnando-se em meio aos livros, cegado pela escassez de luz. Desta forma, tanto os antigos filósofos como os grandes teólogos da igreja, como S. Agostinho e S. Tomas de Aquino, identificam-se e uniram-se no elogio e na celebração daquele tipo de vida.

Evidentemente que essa inclinação, essa paixão pelo isolamento das coisas do mundo, igualmente denunciava um preconceito social, fruto de um arraigado aristocratismo. Naquela época o homem ativo, que não parava de trabalhar, era muitas vezes um escravo ou um servo, um camponês que empregava as mãos na lavoura. Ou ainda um artesão ou um comerciante que exercia uma profissão considerada vil pelos homens cultos. O ser contemplativo, ao contrário, era um membro do patriciado, um intelectual ou um membro do clero dedicado às lides humanistas, um tipo que jamais sujava as mãos e que podia dedicar-se ao auto-aperfeiçoamento numa academia de filosofia, num liceu ou num mosteiro, concentrado nos exercícios espirituais. Foi isso que levou S. Gregório a afirmar que “ a vida ativa é servidão, a contemplativa, liberdade” e de que “existem homens de alma tão tranqüila, que se lhes fora preciso trabalhar, sucumbiriam ao começo mesmo do trabalho”.

Testemunho das desavenças, ainda que muito educadas, entre os partidários da vida contemplativa e os que enalteciam a excelência da vida ativa, encontra-se a obra humanista Cristóforo Landino, intitulada “ Disputationes Camaldunenses”, datada de 1474, onde reproduz uma série de encontros entre intelectuais florentinos que debatiam os problemas daqueles tempos. Numa dessas tertúlias estavam presentes Pedro e Lourenço de Médici, os patrícios mais poderosos e influentes da cidade; o filósofo, Marcilio Ficino, tradutor de Platão; e o arquiteto e humanista Leone Battista Alberdi. Alberdi, que também descendia de família patrícia, defendia que a solidão e a meditação eram os únicos caminhos conhecidos para chegar-se à verdade superior, racional, intelectual...eram as exclusivas garantias da posse completa das faculdades mentais. Já Lourenço, afinal filho de um ativíssimo banqueiro que tinha filiais espalhadas pelas principais cidades européias, contrapunha-se dizendo que a verdade obtida no claustro de nada servia. O filósofo, seguiu ele na argumentação, deve imiscuir-se entre as gentes para difundir seus talentos afim de ajudar seus semelhantes. “O homem que possuía talentos e bondade” disse ele “deve submeter-se regularmente a duas disciplinas : a teórica e a prática”.
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MensagemAssunto: Re: O RENASCIMENTO E OS NOVOS MUNDOS...   O RENASCIMENTO E OS NOVOS MUNDOS... EmptyQui Jan 21, 2010 4:34 pm

O Renascimento e os novos mundos - V

A mudança de mentalidade

A proeminência da ação sobre a contemplação, que afinal acabou por impor-se a partir do Renascimento, deveu-se a causas materiais relativamente simples de serem determinadas. Desde o século XIII, as cidades-estados italianas vinham conhecendo uma crescente prosperidade propiciada por seu intercâmbio mercantil com os portos do Levante e de outras partes do Mediterrâneo.

Veneza e Gênova mantinham importantes feitorias comerciais em Constantinopla, nas ilhas gregas do Egeu e nos portos da Síria, enquanto Florença, a beira do rio Arno, tornava-se um grande centro de tecelagem e das finanças da Europa medieval. Somente nela existiam, por volta de1400, mais de 70 casas bancárias, destacando-se a dos Médici como a mais importante e famosa. As operações de crédito envolviam não só a sustentação do crédito nas grandes cidades-feiras como também no apoio de monarquias, do papado e demais reinos espalhados por todo continente europeu.

Uma nova geração de novos mercadores, ativos , empreendedores, arrojados, brotou dos poros da sociedade feudal, organizando-se em grandes guildas, comerciando com produtos das mais diversas procedências e latitudes. Inventou-se a letra de cambio, a nota promissória e o cheque, fazendo do florim de ouro, a partir de 1252, uma das moedas mais cobiçadas do mundo de então.

O declínio do poder feudal, impulsionado pela vida urbana e pela difusão da artilharia e do arcabuz, cujos petardos destruíam as muralhas e as armaduras, fazia-se lentamente, enquanto o panorama cultural alterava-se a olhos vistos. Universidades passaram a ser inauguradas com regularidade em Bolonha, Mântua, Pádua, Pisa, Nápoles, Milão, etc...Soldados e guerreiros de aluguel, mercenários de todas as nações, conduzidos por condottiere, prestavam seus serviços a quem melhor lhes pagassem. A burguesia das cidades italianas não tinha afinidades nem gosto para com as armas, preferindo gastar suas energias conquistando novos mercados e obtendo bons lucros, do que desperdiçar sua vida em duelos e aventuras que não levavam a nada. Além do mais, a difusão da pólvora e da bombarda deixava bem pouco lugar para a peleja singular, para as justas de cavalarias, tão ao gosto dos cavaleiros feudais.

A conquista do mundo natural tomou grande impulso com os humanistas que, desde o tempo de Petrarca, davam ênfase cada vez mais crescente na importância do mundo real e não da ordem sobrenatural. As artes imediatamente sentiram o influxo dos novos ares. O rigorismo pétreo e desproporcional das imagens medievais, desde a época da Cimabue e de Giotto, cedeu lugar para a perspectiva e proporção, para o detalhado estudo das paisagens e das figuras humanas em movimento. Arte que terá em Leonardo da Vinci, Botticelli, Rafael e Miguel Ângelo a sua mais extraordinária expressão. A beleza e proporcionalidade do corpo humano voltaram, como nos tempos clássicos greco-romanos, a ser valorizados e admirados na sua plenitude.

Tudo isso veio acompanhado por um sempre ascendente sentimento de amor à vida e às coisas boas que ela pode proporcionar: o conforto, o luxo, a culinária bem temperada, as roupas elegantes, a bela decoração e o conforto, as bem trabalhadas e suntuosas fachadas e portões dos palácios. O empenho do mecenato em apoiar os artistas e os músicos e a idéia de poder perpetuar o momento magnífico que o patriciado vivia contratando pintores, arquitetos, escultores e decoradores para imortalizá-lo.

A liberdade do indivíduo

"Sabei que quem governa ao acaso acabará por se encontrar nas mãos do acaso” Francesco Guicciardini -“Ricordi potilitici e Civili" 1576.

Enaltecer o homem como criatura de Deus, feito à sua imagem e semelhança, foi uma constância na história da cristandade. Havia, porém, senões na medida que todo cristão também acreditava que, devido ao pecado original, o se comum havia perdido muito daquela dignidade primitiva. Também não foi exclusivo do Renascimento a glorificação humana, algo que já havia sido feita em vários momentos da cultura grega antiga. O que de original foi propiciado pelos autores italianos do século XV que é idéia da dignidade humana foi associada com a liberdade.

A dignidade do homem

Em 1486, o jovem filósofo Pico della Mirandola redigiu uma introdução em defesa de 900 tese que pretendia apresentar em Roma. Impedido pela Igreja e detido uns tempos na prisão de Siena, “O Discurso da Dignidade do Homem” (Oratio de Hominis Dignitate) só tornou-se conhecido dez anos depois, em 1496, quando foi publicado justamente na época em que Pico faleceu. O argumento dele era muito simples: Deus não deu ao homem, como as demais espécies, uma natureza fixa. Ao contrário, dotou-o de uma liberdade que torna possível a ele escolher. Podendo vir a inclinar sua natureza em direção às plantas e às bestas, sendo então passivo ou furioso, ou poderá elevá-la numa direção superior, aproximando-o dos anjos e das coisas divinas. Nas próprias palavras do filósofo:

“Eu não te dei” diz Deus a Adão, nem um lugar determinado, nem um aspecto próprio, nem qualquer prerrogativa só tua, para que obtenhas e conserve os aspectos e as prerrogativas que desejares, segundo atua vontade e os teus motivos.
A natureza dos astros está contida dentro das leis por mim escritas. Mas tu determinarás atua sem estar constrito a nenhuma barreira, segundo o teu arbítrio, a cujo o poder eu te entreguei, coloquei-te no meio do mundo. Não te fiz celeste nem terreno, mortal nem imortal, para que, como livre e soberano artificie, tu mesmo te esculpiste, te plasmasse na forma que tiveres, escolhido. Tu poderás degenerar nas coisas inferiores, que são brutas, e poderás, segundo o teu querer, regenerar-te nas coisas superiores, que são divinas”.( Pico della Mirandola – discurso de Deus a Adão in “Discurso sobre a dignidade do homem”, 1496)

Desta forma, o desejo de expandir-se em aventuras, no descobrimento de Novos Mundos, começa a fazer parte do homem renascentista. Nada está previamente determinado na Terra. A o contrário, tudo ainda resta por fazer: é o indivíduo que constrói seu próprio destino.


Os descobridores

Consta que foi na biblioteca do seu sogro, o navegador Bartolomeu Perestelo, que o piloto genovês Cristóforo Colombo, consultando alguns livros e mapas, tomou-se da idéia fixa de uma grande viagem pelo Mar Oceano afora. Ele havia naufragado nas costas de Portugal em 1476 e casando-se, resolveu lá residir. A sua imaginação foi definitivamente incendiada por um exemplar do livro de Marco Polo e pelo suposto encontro com um mapa ou carta de uma possível viagem à China alcançada navegando pelo ocidente. Em 1485 mudou-se para a Espanha e, finalmente, convenceu a rainha Isabel a que financiasse a arriscada empreitada que não lhe saía da mente.

Partindo do Porto de Palos em 1492, enfrentando o imenso azul à sua frente, ele encontrou na atual região caribenha um punhado de ilhas no dia 12 de outubro daquele mesmo ano. Apesar de realizar ainda três outras viagens, a última em 1504, não se deu conta de ter descoberto novas terras, um Novo Mundo. Morreu acreditando que tinha chegado as extremidades da Ásia, daí ter chamar as Índias aqueles arquipélagos por ele desbravadas.

Outro piloto genovês, Giovanni Caboto, que havia se estabelecido na Inglaterra em 1484, igualmente lançou-se pelo Mar Oceano, só que tomou o rumo mais para o Norte. Saindo de Bristol ele explorou as costas da Groenlândia, do Labrador e da Nova Inglaterra, numa grande viagem realizada entre 1497-8. Os seus serviços foram tão prestigiados pelos ingleses que inclusive, agradecidos, resolveram alterar-lhe o nome, anglicanizando-o para John Cabot.

Fascinado pelos primeiros relatos de Cristóvão Colombo, um outro italiano, o florentino Américo Vespucci, um ativo agente de negócios, resolveu embarcar na primeira oportunidade que se oferecesse. Vespucci tinha recebido sólida informação humanista e , como tantos outros homens cultos daquela época, aprofundara-se nos estudos de geografia, astronomia e cosmografia. Em 1491, assumira a importante filial da casa de Médici em Sevilha, justamente o grande porto de onde partiam as grandes navegações espanholas para aventurar-se no oceano. De 1497 a 1502, Vespucci realizou quatro grandes viagens, dando-se logo ciência de que um Novo Mundo e não as Índias havia sido encontrado, Vespucci costeou a América Central, circulou pelo Amazonas e, em 1502, foi um dos que descobriu a baía do Rio de Janeiro. Também foi dele a dominação da região da Venezuela, pois viu que os indígenas construíram suas moradas sobre palafitas assemelhando-se a uma Veneza tropical.

O relato das viagens, publicado em forma de cartas em 1502, intitulado “Mundos Novus”, consagrou-o na Itália. Em Florença, quando chegou a notícia da descoberta das terras ignotas, a cidade festejou calorosamente durante três noites seguidas com todas as tochas acessas celebrando o extraordinário acontecimento.

A dominação do novo continente, dada inicialmente como Amerigem, “terra de Ameringo”, entretanto, não foi feita por ele mas sim pelo cosmógrafo alemão Martin Waldssemüller. Em 1506, quando contratado para fazer um mapa especial para registrar a descoberta daquelas terras, ele, lembrando-se do livro de Vespucci, não demorou em colocar na obra Cosmographiae introductio, que apareceu no ano seguinte, em 1507, o nome do viajante italiano, imprenso sobre a área que se supunha ser a do continente desconhecido.
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