| | ALLAN KARDEC - O LIVRO DOS ESPÍRITOS | |
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Autor | Mensagem |
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Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ALLAN KARDEC - O LIVRO DOS ESPÍRITOS Ter Out 19, 2010 8:48 pm | |
| II — Sucessão e Aperfeiçoamento das Raças
688. Há neste momento raças humanas que diminuem evidentemente; chegará um momento em que terão desaparecido da Terra? — Isso é verdade; mas é que outras lhes tomaram o lugar, como outras tomarão o vosso, um dia. 689. Os homens de hoje são uma nova criação ou os descendentes aperfeiçoados dos seres primitivos? — São os mesmos Espíritos que voltaram para se aperfeiçoar em novos corpos, mas que ainda estão longe da perfeição. Assim a raça humana atual, que por seu crescimento, tende a invadir toda a Terra e substituir as raças que se extinguiram, terá também o seu período de decrescimento e extinção. Outras raças mais perfeitas a substituirão, descendendo da raça atual, como os homens civilizados de hoje descendem dos seres brutos e selvagens dos tempos primitivos. 690. Do ponto de vista puramente físico, os corpos da raça atual são uma criação especial ou procedem dos corpos primitivos, por via de reprodução? — A origem das raças se perde na noite dos tempos, mas, como todas pertencem à grande família humana, qualquer que seja o tronco primitivo de cada uma, puderam mesclar-se e produzir novos tipos. 691. Qual é, do ponta de vista físico, o caráter distintivo e dominante das raças primitivas? — Desenvolvimento da força bruta, em detrimento da intelectual. Atualmente dá-se o contrário: o homem faz mais pela inteligência do que pela força física, e no entanto faz cem vezes mais, porque colocou a seu serviço as forças da Natureza, o que não fazem os animais. 692. O aperfeiçoamento das raças animais e vegetais pela Ciência é contrário à lei natural? Seria mais conforme a essa lei deixar as coisas seguirem o seu curso normal? — Tudo se deve fazer para chegar à perfeição. O próprio homem é um instrumento de que Deus se serve para atingir os seus fins. Sendo a perfeição o alvo para que tende a Natureza, favorecer a sua conquista é corresponder àqueles fins. 692-a. Mas o homem é geralmente movido, nos seus esforços para o melhoramento das raças, apenas por um interesse pessoal, que não tem outro objetivo senão o aumento de seu bem-estar; isso diminui o seu mérito? — Que importa que o seu mérito seja nulo, contanto que se faça o progresso? Compete a ele tornar meritório o seu trabalho, através da intenção. Demais, por meio desse trabalho ele exercita e desenvolve sua inteligência e é sob esse aspecto que tira maior proveito. | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ALLAN KARDEC - O LIVRO DOS ESPÍRITOS Sáb Out 23, 2010 1:33 pm | |
| III — Obstáculos à Reprodução
693. As leis e os costumes humanos que objetivam ou têm por efeito criar obstáculos à reprodução são contrários à lei natural? — Tudo o que entrava a marcha da Natureza é contrário à lei geral. 693-a. Não obstante, há espécies de seres vivos, animais e plantas, cuja reprodução indefinida seria prejudicial às outras espécies e das quais, em breve, o próprio homem seria vítima. Seria repreensível deter essa reprodução? — Deus deu ao homem, sobre todos os seres vivos, um poder que ele deve usar para o bem, mas não abusar. Ele pode regular a reprodução segundo as necessidades, mas não deve entravá-la sem necessidade. A ação inteligente do homem é um contrapeso posto por Deus entre as forças da Natureza para restabelecer-lhes o equilíbrio, e isso também o distingue dos animais, pois ele o faz com conhecimento de causa. Os animais concorrem, por sua vez, para esse equilíbrio, pois o instinto de conservação que lhes foi dado faz que, ao proverem à própria conservação, detenham o desenvolvimento excessivo e talvez perigoso das espécies animais e vegetais de que se nutrem. 694. Que pensar dos usos que têm por fim deter a reprodução, com vistas à satisfação da sensualidade? — Isso prova a predominância do corpo sobre a alma e o quanto o homem está imerso na matéria. | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ALLAN KARDEC - O LIVRO DOS ESPÍRITOS Seg Out 25, 2010 8:58 pm | |
| IV — Casamento e Celibato
695. O casamento, ou seja, a união permanente de dois seres é contrária à lei da Natureza? — É um progresso na marcha da Humanidade. 696. Qual seria o efeito da abolição do casamento sobre a sociedade humana? — O retorno à vida dos animais. A união livre e fortuita dos sexos pertence ao estado de natureza. O casamento é um dos primeiros atos de progresso nas sociedades humanas porque estabelece a solidariedade fraterna e se encontra entre todos os povos, embora nas mais diversas condições. A abolição do casamento seria, portanto, o retorno à infância da Humanidade e colocaria o homem abaixo mesmo de alguns animais, que lhe dão o exemplo das uniões constantes. 697. A indissolubilidade absoluta do casamento pertence à lei natural ou apenas à lei humana? — É uma lei humana, muito contrária à lei natural. Mas os homens podem modificar as suas leis: somente as naturais são imutáveis. 698. O celibato voluntário é um estado de perfeição, meritório aos olhos de Deus? — Não, e os que vivem assim, por egoísmo, desagradam a Deus e enganam a todos. 699. O celibato não é um sacrifício para algumas pessoas, que desejam devotar-se mais inteiramente ao serviço da Humanidade? — Isso é bem diferente. Eu disse: por egoísmo. Todo sacrifício pessoal é meritório, quando feito para o bem; quanto maior o sacrifício, maior o mérito. Deus não se contradiz nem considera mau o que Ele mesmo fez. Não pode, pois, ver o mérito na violação da sua lei. Mas se o celibato, por si mesmo, não é um estado meritórío, já não se dá o mesmo quando constitui, pela renúncia às alegrias da vida familiar, um sacrifício realizado a favor da Humanidade. Todo sacrifício pessoal visando ao bem e sem segunda intenção egoísta eleva o homern acima da sua condição material. | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ALLAN KARDEC - O LIVRO DOS ESPÍRITOS Qua Out 27, 2010 9:08 pm | |
| V — Poligamia 700. A igualdade numérica aproximada entre os sexos é um indício da proporção em que eles se devem unir? — Sim, pois tudo tem um fim na Natureza. 701. Qual das duas, a poligamia ou a monogamia, é a mais conforme à lei natural? — A poligamia é uma lei humana, cuja abolição marca um progresso social. O casamento, segundo as vistas de Deus, deve fundar-se na afeição dos seres que se unem. Na poligamia não há verdadeira afeição: não há mais do que sensualidade. Se a poligamia estivesse de acordo com a lei natural devia ser universal, o que, entretanto, seria materialmente impossível em virtude da igualdade numérica dos sexos. A poligamia deve ser considerada como um uso ou uma legislação particular, apropriada a certos costumes e que o aperfeiçoamento social fará desaparecer pouco a pouco. | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ALLAN KARDEC - O LIVRO DOS ESPÍRITOS Sex Out 29, 2010 9:08 pm | |
| Capítulo V
IV — Lei de Conservação
I — Instinto de Conservação
702. O instinto de conservação é uma lei da Natureza? — Sem dúvida. Todos os seres vivos o possuem, qualquer que seja o seu grau de inteligência; nuns é puramente mecânico e noutros é racional. 703. Com que fim Deus concedeu a todos os seres vivos o instinto de conservação? — Porque todos devem colaborar nos desígnios da Providência. Foi por isso que Deus lhes deu a necessidade de viver. Depois, a vida é necessária ao aperfeiçoamento dos seres; eles o sentem instintivamente, sem disso se aperceberem. | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ALLAN KARDEC - O LIVRO DOS ESPÍRITOS Sáb Out 30, 2010 7:35 pm | |
| II — Meios de Conservação
704. Deus, dando ao homem a necessidade de viver, sempre lhe forneceu os meios para isso? — Sim, e se ele não os encontra, é por falta de compreensão. Deus não podia dar ao homem a necessidade de viver sem lhe dar também os meios. É por isso que faz a Terra produzir, de maneira a fornecer o necessário a todos os seus habitantes, pois só o necessário é útil: o supérfluo jamais o é. 705. Por que a Terra nem sempre produz bastante para fornecer o necessário ao homem? — É que o homem a negligencia, é ingrato, e no entanto é ela uma excelente mãe. Freqüentemente ele ainda acusa a Natureza pelas conseqüências da sua imperícia ou da sua imprevidência. A Terra produziria sempre o necessário se o homem soubesse contentar-se. Se ela não supre a todas as necessidades é porque o homem emprega no supérfluo o que se destina ao necessário. Vede como o árabe no deserto encontra sempre do que viver, porque não cria necessidades fictícias. Mas quando metade dos produtos é desperdiçada na satisfação de fantasias, deve o homem se admirar de nada encontrar no dia seguinte e tem razão de se lastimar por se achar desprevenido quando chega o tempo de escassez? Na verdade eu vos digo que não é a Natureza a imprevidente, é o homem que não sabe regular-se. 706. Como bens da terra devemos entender apenas os produtos do solo? — O solo é a fonte primeira de que decorrem todos os outros recursos, porque esses recursos, em última instância, são apenas uma transformação dos produtos do solo. É por isso que devemos entender por bens da terra tudo quanto o homem pode gozar neste mundo. 707. Os meios de subsistência faltam freqüentemente a certos indivíduos, mesmo em meio da abundância que os cerca; a que se deve ligar esse fato? — Ao egoísmo dos homens, que nem sempre fazem o que devem; em seguida, e o mais freqüentemente, a eles mesmos. Buscai e achareis: estas palavras não querem dizer que seja suficiente olhar para a terra a fim de se encontrar o que se deseja, mas que é necessário procurar com ardor e perseverança, e não com displicência, sem se deixar desanimar pelos obstáculos que muito freqüentemente não passam de meios de pôr à prova a vossa constância, a vossa paciência e a vossa firmeza. (Ver item 534). Se a civilização multiplica as necessidades também multiplica as fontes de trabalho e os meios de vida; mas é preciso convir que nesse sentido ainda muito lhe resta a fazer. Quando ela tiver realizado a sua obra, ninguém poderá dizer que lhe falte o necessário, a menos que o falte por sua própria culpa. O mal, para muitos, é viver uma vida que não é a que a Natureza lhe traçou; é então que lhes falta a inteligência para vencerem. Há para todos um lugar ao Sol, mas com a condição de cada qual tomar o seu e não o dos outros. A Natureza não poderia ser responsável pelos vícios da organização social e pelas conseqüências da ambição e do amor próprio. Seria preciso ser cego, entretanto, para não se reconhecer o progresso que nesse sentido têm realizado os povos mais adiantados. Graças aos louváveis esforços que a filantropia e a Ciência, reunidas, não cessam de fazer para a melhoria da condição material dos homens, e malgrado o crescimento incessante das populações, a insuficiência da produção é atenuada pelo menos em grande parte, e os anos mais calamitosos nada têm de comparável aos de há bem pouco tempo. A higiene pública, esse elemento tão essencial da energia e da saúde, desconhecido por nossos pais, é objeto de uma solicitude esclarecida; o infortúnio e o sofrimento encontram lugares de refúgio; por toda parte a Ciência é posta em ação, contribuindo para o acréscimo do bem-estar. Pode-se dizer que atingimos a perfeição? Oh, certamente que não. Mas o que já se fez dá-nos a medida do que pode ser feito com perseverança, se o homem for bastante sensato para procurar a sua felicidade nas coisas positivas e sérias e não nas utopias que o fazem recuar em vez de avançar. 708. Não há situações em que os meios de subsistência não dependem absolutamente da vontade do homem e a privação do necessário, até o mais imperioso, é uma conseqüência das circunstâncias? — É uma prova freqüentemente cruel que o homem deve sofrer e à qual sabia que seria exposto; seu mérito está na submissão à vontade de Deus, se a sua inteligência não lhe fornecer algum meio de sair da dificuldade. Se a morte deve atingi-lo, ele deverá submeter-se sem murmurar, pensando que a hora da verdadeira liberdade chegou e que o desespero do momento final pode fazê-lo perder o fruto de sua resignação. 709. Aqueles que em situações críticas se viram obrigados a sacrificar os semelhantes para matar a fome cometeram com isso um crime? Se houve crime, é ele atenuado pela necessidade de viver que o instinto de conservação lhes dá? — Já respondi, ao dizer que há mais mérito em sofrer todas as provas da vida com abnegação e coragem. Há homicídio e crime de lesa-natureza, que deve ser duplamente punido. 710. Nos mundos onde a organização é mais apurada os seres vivos têm necessidade de alimentação? — Sim, mas os seus alimentos estão em relação com a sua natureza. Esses alimentos não seriam tão substanciais para os vossos estômagos grosseiros; da mesma maneira, eles não poderiam digerir os vossos. | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ALLAN KARDEC - O LIVRO DOS ESPÍRITOS Dom Out 31, 2010 2:41 pm | |
| III — Gozo dos Bens da Terra
711. O uso dos bens da terra é um direito de todos os homens? — Esse direito é a conseqüência da necessidade de viver. Deus não pode impor um dever sem conceder os meios de ser cumprido. 712. Com que fim Deus fez atrativos os gozos dos bens materiais? — Para instigar o homem ao cumprimento da sua missão e também para o provar na tentação. 712-a. Qual o objetivo dessa tentação? — Desenvolver a razão, que deve preservá-lo dos excessos. Se o homem não fosse instigado ao uso dos bens da terra senão em vista da sua utilidade, sua indiferença poderia ter comprometido a harmonia do Universo. Deus lhe deu o atrativo do prazer que o solicita à realização dos desígnios da Providência. Mas, por meio desse mesmo atrativo, Deus quis prová-lo também pela tentação que o arrasta ao abuso, do qual a sua razão deve livrá-lo. 713. Os gozos têm limites traçados pela Natureza? — Sim, para vos mostrar o termo do necessário; mas pelos vossos excessos chegais até o aborrecimento e com isso vos punis a vós mesmos. 714. Que pensar do homem que procura nos excessos de toda espécie um refinamento dos seus gozos? — Pobre criatura, que devemos lastimar e não invejar, porque está bem próxima da morte! 714-a. É da morte física ou da morte moral que ele se aproxima? — De uma e de outra. O homem que procura, nos excessos de toda espécie, um refinamento dos gozos, coloca-se abaixo dos animais, porque estes sabem limitar-se à satisfação de suas necessidades. Ele abdica da razão que Deus lhe deu para guia e quanto maiores forem os seus excessos maior é o império que concede à sua natureza animal sobre a espiritual. As doenças, a decadência, a morte mesmo, que são a conseqüência do abuso, são também a punição da transgressão da lei de Deus. | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ALLAN KARDEC - O LIVRO DOS ESPÍRITOS Ter Nov 02, 2010 4:25 pm | |
| IV — Necessário e Supérfluo
715. Como pode o homem conhecer o limite do necessário? — O sensato o conhece por intuição e muitos o conhecem à custa de suas próprias experiências. 716. A Natureza não traçou o limite do necessário em nossa própria organização? — Sim, mas o homem é insaciável. A Natureza traçou o limite de suas necessidades na sua organização, mas os vícios alteraram a sua constituição e criaram para ele necessidades artificiais. 717. Que pensar dos que açambarcam os bens da terra para se proporcionarem o supérfluo, em prejuízo dos que não têm sequer o necessário? — Desconhecem a lei de Deus e terão de responder pelas privações que ocasionaram. O limite entre o necessário e o supérfluo nada tem de absoluto. A civilização criou necessidades que não existem no estado de selvageria, e os Espíritos que ditaram esses preceitos não querem que o homem civilizado viva como selvagem. Tudo é relativo e cabe à razão colocar cada coisa em seu lugar. A civilização desenvolve o senso moral e ao mesmo tempo o sentimento de caridade que leva os homens a se apoiarem mutuamente. Os que vivem à custa das privações alheias exploram os benefícios da civilização em proveito próprio; não têm de civilizados mais do que o verniz, como há pessoas que não possuem da religião mais do que a aparência. | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ALLAN KARDEC - O LIVRO DOS ESPÍRITOS Qua Nov 03, 2010 11:55 pm | |
| V — Privações Voluntárias. Mortificações
718. A lei de conservação obriga-nos a prover as necessidades do corpo? — Sim, pois sem a energia e a saúde o trabalho é impossível. 719. O homem é censurável por procurar o bem-estar? — O bem-estar é um desejo natural. Deus só proíbe o abuso, por ser contrário à conservação, e não considera um crime a procura do bem-estar, se este não for conquistado às expensas de alguém e se não enfraquecer as vossas forças morais nem as vossas forças físicas. 720. As privações voluntárias, com vistas a uma expiação igualmente voluntária, têm algum mérito aos olhos de Deus? — Fazei o bem aos outros e tereis maior mérito. 720-a. Há privações voluntárias que sejam meritórias? — Sim: a privação dos prazeres inúteis, porque liberta o homem da matéria e eleva sua alma. O meritório é resistir à tentação que vos convida aos excessos e ao gozo das coisas inúteis, é retirar do necessário para dar aos que o não têm. Se a privação nada mais for que um fingimento será apenas uma irrisão. 721. A vida de mortificações no ascetismo tem sido praticado desde toda a Antiguidade e nos diferentes povos; é ela meritória sob algum ponto de vista? — Perguntai a quem ela aproveita e tereis a resposta. Se não serve senão ao que a pratica e o impede de fazer o bem, é egoísta, qualquer que seja o pretexto sob o qual se disfarce. Submeter-se a privacões no trabalho pelos outros é a verdadeira mortificação, de acordo com a caridade cristã. 722. A abstenção de certos alimentos, prescrita entre diversos povos, funda-se na razão? — Tudo aquilo de que o homem se possa alimentar, sem prejuízo para a sua saúde, é permitido. Mas os legisladores puderam interditar alguns alimentos com uma finalidade útil. E para dar maior crédito às suas leis apresentaram-nas como provindas de Deus. 723. A alimentação animal, para o homem, é contrária à lei natural? — Na vossa constituição física, a carne nutre a carne, pois do contrário o homem perece. A lei de conservação impõe ao homem o dever de conservar as suas energias e a sua saúde, para poder cumprir a lei do trabalho. Ele deve alimentar-se, portanto, segundo o exige a sua organização. 724. A abstenção de alimentos animais ou outros, como expiação, é meritória? — Sim, se o hormem se priva em favor dos outros, pois Deus não pode ver mortificação quando não há privação séria e útil. Eis porque dizemos que os que só se privam em aparência são hipócritas. (Ver item 720). 725. Que pensar das mutilações praticadas no corpo do homem ou dos animais? — A que vem semelhante pergunta? Perguntai sempre se uma coisa é útil. O que é inútil não pode ser agradável a Deus e o que é prejudicial lhe é sempre desagradável. Porque, ficai sabendo, Deus só é sensível aos sentimentos que elevam a alma para Ele, e é praticando as suas leis, em vez de violá-las, que podereis sacudir o jugo de vossa matéria terrena. 726. Se os sofrimentos deste mundo nos elevam, conforme os suportamos, poderemos elevar-nos pelo que criarmos voluntariamente? — Os únicos sofrimentos que elevam são os naturais, porque vêm de Deus. Os sofrimentos voluntários não servem para nada, quando nada valem para o bem dos outros. Crês que os que abreviam a vida através de rigores sobre-humanos, como o fazem os bonzos, os faquires e alguns fanáticos de tantas seitas, avançam na sua senda? Por que não trabalham, antes, em favor dos seus semelhantes? Que visitem o indigente, consolem o que chora, trabalhem pelo que está enfermo, sofram privações para o alívio dos infelizes e então sua vida será útil e agradável a Deus. Quando, nos sofrimentos voluntários a que se sujeita, o homem não tem em vista senão a si mesmo, trata-se de egoísmo; quando alguém sofre pelos outros, pratica a caridade: são esses os preceitos de Cristo. 727. Se não devemos criar para nós sofrimentos voluntários que não são de nenhuma utilidade para os outros, devemos no entanto preservar-nos dos que prevemos ou dos que nos ameaçam? — O instinto de conservação foi dado a todos os seres contra os perigos e os sofrimentos. Fustigai o vosso Espírito e não o vosso corpo, mortificai vosso orgulho, sufocai o vosso egoísmo que se assemelha a uma serpente a vos devorar o coração, e fareis mais pelo vosso adiantamento do que por meio de rigores que não mais pertencem a este século. | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ALLAN KARDEC - O LIVRO DOS ESPÍRITOS Ter Nov 09, 2010 10:36 pm | |
| Capítulo VI
V — Lei de Destruição
I — Destruição Necessária e Abusiva
728. A destruição é uma lei da Natureza? — E necessário que tudo se destrua, para renascer e se regenerar; porque isso a que chamais destruição não é mais que a transformação, cujo objetivo é a renovação e o melhoramento dos seres vivos. 728-a. O instinto de destruição teria sido dado aos seres vivos com fins providenciais? — As criaturas de Deus são os instrumentos de que Ele se serve para atingir os seus fins. Para se nutrirem, os seres vivos se destroem entre si, e isso com o duplo objetivo de manter o equilíbrio da reprodução, que poderia tornar-se excessiva, e de utilizar os réstos do invólucro exterior. Mas é apenas o invólucro que é destruido, e esse invólucro não é mais do que acessório, não a parte essencial do ser pensante, pois este é o princípio inteligente, indestrutível, que se elabora através das diferentes metamorfoses por que passa. 729. Se a destruição é necessária para a regeneração dos seres, por que a Natureza os cerca de meios de preservação e conservação? — Para evitar a destruição antes do tempo necessário. Toda destruição antecipada entrava o desenvolvimento do principio inteligente. Foi por isso que Deus deu a cada ser a necessidade de viver e de se reproduzir. 730. Desde que a morte deve conduzir-nos a uma vida melhor, e que nos livra dos males deste mundo, sendo mais de se desejar do que de se temer, porque a homem tem por ela um horror instintivo que a torna motivo de apreensão? — Já o dissemos. O homem deve procurar prolongar a sua vida para cumprir a sua tarefa. Foi por isso que Deus lhe deu o instinto de conservação e esse instinto o sustenta nas suas provas; sem isso, muito freqüentemente ele se entregaria ao desânimo. A voz secreta que o faz repelir a morte Ihe diz que ainda pode fazer alguma coisa pelo seu adiantamento. Quando um perigo o ameaça ela o adverte de que deve aproveitar o tempo que Deus lhe concede, mas o ingrato rende geralmente graças à sua estrela; em lugar do Criador. 731. Por que, ao lado dos meios de conservação, a Natureza colocou ao mesmo tempo os agentes destruidores? — O remédio ao lado do mal; já o dissemos, para manter o equilibrio e servir de contrapeso. 732. A necessidade de destruição é a mesma em todas os mundos? — E proporcional ao estado mais ou menos material dos mundos e desaparece num estado físico e moral mais apurado. Nos mundos mais avançados que o vosso as condições de existência são muito diferentes. 733. A necessidáde de destruição existirá sempre entre os homens na Terra? — A necessidade de destruição diminui entre os homens à medida em que o Espírito supera a matéria; é por isso que ao horror da destruição vedes seguir-se o desenvolvimento intelstual e moral. 734. No seu estado atual o homem tem dircito ilimitado de destruição sobre os animais? — Esse direito é regulado pela necessidade de prover à sua alimentação e à sua segurança; o abuso jamais foi um direito. 735. Que pensar da destruição que ultrapassa os limites das necessidades e da segurança; da caça, por exemplo, quando não tem por objetivo senão o prazer de destruir, sem utilidade? — Predominância da bestialidade sobre a natureza espiritual. Toda destruição que ultrapassa os limites da necessidade é uma violação da lei de Deus. Os animais não destróem mais do que necessitam, mas o homem, que tem o livre arbítrio, destrói sem necessidade. Prestará contas do abuso da liberdade que lhe foi concedida, pois nesses casos ele cede aos maus instintos. 736. Os povos que levam ao excesso o escrúpulo no tocante à destruição dos animais têm mérito especial? — É um excesso, num sentimento que em si mesmo é louvável, mas que se torna abusivo e cujo mérito acaba neutratizado por abusos de toda espécie. Eles têm mais temor supersticioso do que verdadeira bondade. | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ALLAN KARDEC - O LIVRO DOS ESPÍRITOS Qui Nov 11, 2010 10:38 pm | |
| II — Flagelos Destruidores
737. Com que fim Deus castiga a Humanidade com flagelos destruidores? — Para fazê-la avançar mais depressa. Não dissemos que a destruição é necessária para a regeneração moral dos Espíritos, que adquirem em cada nova existência um novo grau de perfeição? É necessário ver o fim para apreciar os resultados. Só julgais essas coisas do vosso ponto de vista pessoal, e as chamais de flagelos por causa dos prejuízos que vos causam; mas esses transtornos são freqüentemente necessários para fazerem que as coisas cheguem mais prontamente a uma ordem melhor, realizando-se em alguns anos o que necessitaria de muitos séculos. (Ver item 744). 738. Deus não poderia empregar, para melhorar a Humanidade, outros meios que não os flagelos destruidores? — Sim, e diariamente os emprega, pois deu a cada um os meios de progredir pelo conhecimento do bem e do mal. É o homem quem não os aproveita; então, é necessário castigá-lo em seu orgulho e fazê-lo sentir a sua fraqueza. 738-a. Nesses flagelos, porém, o homem de bem sucumbe como os perversos; isso é justo? — Durante a vida o homem relaciona tudo ao seu corpo, mas após a morte pensa de outra maneira. Como já dissemos: a vida do corpo é um quase nada: um século do vosso mundo é um relâmpago na eternidade. Os sofrimentos que duram alguns dos vossos meses ou dias, nada são. Apenas um ensinamento que vos servirá no futuro. Os Espíritos que preexistem e sobrevivem a tudo formam o mundo real. (Ver item 85). São eles os filhos de Deus e o objetivo de sua solicitude; os corpos não são mais que disfarces sob os quais aparecem no mundo. Nas grandes calamidades que dizimam os homens eles são como um exército que, durante a guerra, vê os seus uniformes estragados, rotos ou perdidos. O general tem mais cuidado com os soldados do que com as vestes. 738-b. Mas as vítimas desses flagelos, apesar disso não são vítimas? — Se considerássemos a vida no que ela é, e quanto é insignificante em relação ao infinito, menos importância lhe daríamos. Essas vítimas terão noutra existência uma larga compensação para os seus sofrimentos, se souberem suportá-los sem murmurar. Quer a morte se verifique por um flagelo ou por uma causa ordinária, não se pode escapar a ela quando soa a hora da partida: a única diferença é que no primeiro caso parte um grande número ao mesmo tempo. Se pudéssemos nos elevar pelo pensamento de maneira a abranger toda a Humanidade numa visão única, esses flagelos tão terríveis não nos pareceriam mais do que tempestades passageiras no destino do mundo. 739. Esses flagelos destruidores têm. utilidade do ponto de vista físico; malgrado os males que ocasionam? — Sim, eles inodificam algumas vezes o estado de uma região; mas o bem que deles resulta só é geralmente sentido pelas gerações futuras. 740. Os flagelos não seriam igualmente provas morais para o homem, pondo-o às voltas com necessidades mais duras? — Os flagelos são provas que proporcionam ao homem a ocasião de exercitar a inteligência, de mostrar a sua paciência e a sua resignação ante a vontade de Deus, ao mesmo tempo que lhe permitem desenvolver os sentimentos de abnegação, de desinteresse próprio e de amor ao próximo, se ele não for dominado pelo egoísmo. 741. E dado ao homem conjurar os flagelos que o afligem? — Sim, em parte, mas não como geralmente se pensa. Muitos flagelos são a conseqüência de sua própria imprevidéncia. A medida que ele adquire conhecimentos e experiências pode conjurá-los, quer dizer, preveni-Ios, se souber pesquisar-lhes as causas. Mas entre os males que afligem a Humanidade, há os que são de natureza geral e pertencem aos designios da Providência. Desses, cada indivíduo recebe; em menor ou maior proporção, a parte que lhe cabe, não lhe sendo possivel opor nada mais que a resignação à vontade de Deus. Mas ainda esses males são geralmente agravados pela indolência do homem. Entre os flagelos destruidores, naturais e independentes do homem, devem ser colocados em primeira linha a peste, a fome, as inundações, as intempéries fatais à produção da tena. Mas o homem não achou na Ciencia, nos trabalhos de arte, no aperfeiçoamento da agricultura, nos afolhamentos e nas irrigações, no estudo das condições higiênicas os meios de neutralizar ou pelo menos de atenuar tantos desastres? Algumas regiões antigamente devastadas por terríveis flagelos não estão hoje resguardadas? Que não fará o homem, portanto, pelo seu bem-estar material, quando souber aproveitar todos os recursos da sua inteligência e quando, ao cuidado da sua preservação pessoal souber aliar o sentimento de uma verdadeira caridade para com os semelhantes? (Ver item 707). | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ALLAN KARDEC - O LIVRO DOS ESPÍRITOS Sáb Nov 13, 2010 12:06 am | |
| III — Guerras
742. Qual a causa que leva o homem à guerra? — Predominância da natureza animal sobre a espiritual e satisfação das paixões. No estado de barbárie os povos só conhecem o direito do mais forte, e é por isso que a guerra, para eles, é um estado normal. A medida que o homem progride ela se torna menos freqüente, porque ele evita as suas causas, e quando ela se faz necessária ele sabe adicionar-lhe humanidade. 743. A guerra desaparecerá um dia da face da Terra? — Sim, quando os homens compreenderem a justiça e praticarem a lei de Deus. Então, todos os povos serão irmãos. 744. Qual o objetivo da Providência ao tornar a guerra necessária? — A liberdade e o progresso. 744-a. Se a guerra deve ter como efeito conduzir à liberdade, como se explica que ela tenha geralmente por fim e por resultado a escravização? — Escravização momentânea para sovar os povos, a fim de fazê-los andar mais depressa. 745. Que pensar daquete que suscita a guerra em seu proveito? — Esse é o verdadeiro culpado e necessitará de muitas existências para expiar todos os assassínios de que foi causa, porque responderá por cadá homem cuja morte tenha causado para satisfazer a sua ambição. | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ALLAN KARDEC - O LIVRO DOS ESPÍRITOS Sáb Nov 13, 2010 10:01 pm | |
| IV — Assassínio
746. O assassínio é um crime aos olhos de Deus? — Sim, um grande crime, pois aquele que tira a vida a um semelhante interrompe uma vida de expiação ou de missão, e nisso está o mal. 747. Há sempre no assassínio o mesmo grau de culpabilidade? — Já o dissemos: Deus é justo e julga mais a intenção do que o fato. 748. Deus escusa o assassinio em caso de legítima defesa? — Só a necessidade o pode escusar; mas, se pudermos preservar a nossa vida sem atentar contra a do agressor, é o que devemos fazer. 749. O homem é culpável pelos assassínios que comete na guerra? — Não, quando é constrangido pela força; mas é responsável pelas crueldades que comete: Assim também o seu sentimento de humanidade será levado em conta. 750. Qual é o mais culpável aos olhos de Deus, o parricídio ou o infanticídio? — Um e outro o são igualmente, porque todo crime é crime. 751. Por que entre certos povos, já adiantados do ponto de vista intelectual, o infanticídio é um costume e consagrado pela legislação? — O desenvolvimento intelectual não acarreta a necessidade do bem; o Espírito de inteligência superior pode ser mau; é aquele que muito viveu sem se melhorar: ele o sabe. | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ALLAN KARDEC - O LIVRO DOS ESPÍRITOS Qua Nov 17, 2010 1:14 am | |
| V — Crueldade
752. Podemos ligar o sentimento de crueldade ao instinto de destruição? — E o próprio instinto de destruição no que ele tem de pior, porque, se a destruição é às vezes necessária, a crueldade jamais o é. Ela é sempre a conseqüência de uma natureza má. 753. Por que motivo a crueldade é o caráter dominante dos povos primitivos? — Entre os povos primitivos, como os chamas, a matéria sobrepuja o espírito. Eles se entregam aos instintos animais e como não têm outras necessidades além das corpóreas cuidam apenas da sua conservação pessoal. É isso que geralmente os torna cruéis. Além disso, os povos de desenvolvimento imperfeito estão sob o dominio de Espíritos igualmente imperfeitos que lhes são simpáticos, até que povos mais adiantados venham destruir ou arrefe,cer essa influência. 754. A crueldade não decorre da falta de senso moral? — Dize que o senso moral não está desenvolvido, mas não que está ausente; porque ele existe, em princípio, em todos os homens; é esse senso moral que as transforma mais tarde em seres bons e humanos. Ele existe no selvagem como o princípio do aroma no botão de uma flor que ainda não se abriu. Todas as faculdades existem no homem em estado rudimentar ou latente e se desenvolvem segundo as circunstâncias mais ou menos favoráveis. O desenvolvimento excessivo de umas impede ou neutraliza o de outras. A superexitação dos instintos materiais asfixia, por assim dizer, o senso moral, como o desenvolvirnento deste arrefece pouco a pouco as faculdades puramente animais. 755. Como se explica que nas civilizações mais adiantadas existam criaturas às vezes tão cruéis como os selvagens? — Da mesma maneira que numa árvore carregada de bons frutos existem os temporãos. Elas são, se quiseres, selvagens que só têm da civilização a aparência, lobos extraviados em meio de cordeiros. Os Espíritos de uma ordem inferior, muito atrasados, podem encarnar-se entre homens adiantados com a esperança de também se adiantarem; mas, se a prova for muito pesada, a natureza primitiva reage. 756. A sociedade dos homens de bem será um dia expurgada dos malfeitores? — A Humanidade progride. Esses homens dominados pelo instinto do mal, que se encontram deslocados entre os homens de bem, desaparecerão pouco a pouco como o mau grão é separado do bom quando joeirado. Mas renascerão com outro invólucro. Então, com mais experiência, compreenderão melhor o bem e o mal. Tens um exemplo nas plantas e nos animais que o homem aprendeu como aperfeiçoar, desenvolvendo-lhes qualidades novas. Pois bem: é só depois de muitas gerações que o aperfeiçoamento se torna completo. Esta é a imagem das diversas existências do homem. | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ALLAN KARDEC - O LIVRO DOS ESPÍRITOS Qui Nov 18, 2010 11:08 pm | |
| VI — Duelo
757. O duelo pode ser considerado como um caso de legítima defesa? — Não; é um assassínio e um costume absurdo, digno dos bárbaros. Numa civilização mais avançada e mais moral o homem compreenderá que o duelo é tão ridículo uanto os combates antigamente encarados como "o juízo de Deus". 758. O duelo pode ser considerado como um assassínio por parte daquele que, conhecendo a sua própria fraqueza, está quase certo de sucumbir? — É um suicídio. 758-a. E quanda as probabilidades são iguais, é um assassínio ou um suicídio? — É um e outro. Em todos os casos, mesmo naqueles em que as possibilidades são iguais, o duelista é culpável porque atenta friamente e com propósito deliberado contra a vida de seu semelhante. Em segundo lugar, porque expõe a sua própria vida inutilmente e sem proveito para ninguém. 759. Qual o valor do que se chama o ponto de honra em matéria de duelo? — O do orgulho e da vaidade, duas chagas da Humanidade. 759-a. Mas não há casos em que a honra está verdadeiramente empenhada e a recusa seria uma covardia? — Isso depende dos costumes e dos usos. Cada país e cada século tem a respeito uma maneira diferente de ver. Quando os homens forem melhores e moralmente mais adiantados, compreenderão que o verdadeiro ponto de honra está acima das paixões terrenas e que não é matando ou se fazendo matar que se repara uma falta. Há mais grandeza e verdadeira honra em se reconhecer culpado, quando se erra; ou em perdoar, quando se tem razão; e em todos os casos, em não se dar importância aos insultos que não podem atingir-nos. | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ALLAN KARDEC - O LIVRO DOS ESPÍRITOS Sex Nov 19, 2010 10:55 pm | |
| VII — Pena de Morte 760. A pena de morte desaparecerá um dia da legislação humana? — A pena de morte desaparecerá incontestavelmente e sua supressão assinalará um progresso da Humanidade. Quando os homens forem mais esclarecidos, a pena de morte será completamente abolida na Terra. Os homens não terão mais necessidade de ser julgados pelos homens. Falo de uma época que ainda está muito longe de vós. O progresso social ainda deixa muito a desejar, mas seríamos injustos para com a sociedade moderna se não víssemos um progresso nas restrições impostas à pena de morte entre os povos mais adiantados, e à natureza dos crimes aos quais se limita a sua aplicação. Se compararmos as garantias de que a justiça se esforça para cercar hoje o acusado, a humanidade com que o trata, mesmo quando reconhecidamente culpado, com o que se praticava em tempos que não vão muito longe, não poderemos deixar de reconhecer a via progressiva pela qual a Humanidade avança. 761. A lei de conservação dá ao homem o direito de preservar a sua própria vida; não aplica ele esse direito, quando elimina da sociedade um membro perigoso? — Há outros meios de se preservar do perigo, sem matar. É necessário, aliás, abrir e não fechar ao criminoso a porta do arrependimento. 762. Se a pena de morte pode ser banida das sociedades civilizadas, não foi entretanto uma necessidade em tempos menos adiantados? — Necessidade não é o termo. O homem sempre julga uma coisa necessária quando não encontra nada melhor. Mas, à medida que se esclarece, vai compreendendo melhor o que é justo ou injusto e repudia os excessos cometidos nos tempos de ignorância, em nome da justiça. 763. A restrição dos casos em que se aplica a pena de morte é um índice do progresso da civilização? — Podes duvidar disso? Não se revolta o teu Espírito lendo os relatos dos morticínios humanos que antigamente se faziam em nome da justiça e freqüentemente em honra à Divindade; das torturas a que se submetia o condenado e mesmo o acusado, para lhe arrancar, a peso de sofrimento, a confissão de um crime que ele muitas vezes não havia cometido? Pois bem; se tivesses vivido naqueles tempos acharias tudo natural, e talvez, tivesses feito o mesmo. É assim que o que parece justo numa época parece bárbaro em outra. Somente as leis divinas são eternas. As leis humanas modificam-se com o progresso. E se modificarão ainda, até que sejam colocadas em harmonia com as leis divinas. 764 . Jesus disse: "Quem matar pela espada perecerá pela espada". Essas palavras não representam a consagração da pena de talião? E a morte imposta ao assassino não é a aplicação dessa pena? — Tomai tento! Estais equivocados quanto a estas palavras, como sobre muitas outras. A pena de talião é a justiça de Deus; é ele quem a aplica. Todos vós sofreis a cada instante essa pena, porque sois punidos naquilo em que pecais, nesta vida ou noutra. Aquele que fez sofrer o seu semelhante estará numa situação em que sofrerá o mesmo. É este o sentido das palavras de Jesus. Pois não vos disse também: "Perdoai aos vossos inimigos"? E não vos ensinou a pedir a Deus que perdoe as vossas ofensas da maneira que perdoastes, ou seja, na mesma proporção em que houverdes perdoado? Compreendei bem isso. 765. Que pensar da pena de morte imposta em nome de Deus? — Isso equivale a tomar o lugar de Deus na prática da justiça. Os que agem assim revelam quanto estão longe de compreender a Deus e quanto têm ainda a expiar. É um crime aplicar a pena de morte em nome de Deus, e os que o fazem são responsáveis por esses assassinatos. | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ALLAN KARDEC - O LIVRO DOS ESPÍRITOS Sáb Nov 20, 2010 10:15 pm | |
| Capítulo VII
VI — Lei de Sociedade
I — Necessidade da Vida Social
766. A vida social é natural? — Certamente. Deus fez o homem para viver em sociedade. Deus não deu inutilmente ao homem a palavra e todas as outras faculdades necessárias à vida de relação. 767. O isolamento absoluto é contrário à lei natural? — Sim, pois os homens buscam a sociedade por instinto e devem todos concorrer para o progresso, ajudando-se mutuamente. 768. O homem, ao buscar a sociedade, obedece apenas a um sentimento pessoal ou há também nesse sentimento uma finalidade providencial, de ordem geral? — O homem deve progredir, mas sozinho não o pode fazer porque não possui todas as faculdades: precisa do contato dos outros homens. No isolamento, ele se embrutece e se estiola. Nenhum homem dispõe de faculdades completas e é pela união social que eles se completam uns aos outros, para asseguraren, seu próprio bem-estar e progredirem. Eis porque, tendo necessidade uns dos outros, são feitos para viver em sociedade e não isolados. | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ALLAN KARDEC - O LIVRO DOS ESPÍRITOS Dom Nov 21, 2010 10:17 pm | |
| II — Vida de Isolamento. Voto de Silêncio
769. Concebe-se que, como princípio geral, a vida social esteja nas leis da Natureza. Mas como todos os gostos são também naturais, por que o do isolamento absoluto seria condenável, se o homem encontra nele satisfação? — Satisfação egoísta. Há também homecs que encontrarn satisfação na embriaguez; aprovas isso? Deus não pode considerar agradável uma vida em que o homem se condena a não ser útil a ninguém. 770. Que pensar dos homens que vivem em reclusão absoluta para fugirem ao contato pernicioso do mundo? — Duplo egoísmo. 770-a. Mas se esse retraimento tem por fim uma expiação, com a imposição de penosa renúncia, não é meritório? — Fazer maior bem do que o mal que se tenha feito, essa é a melhor expiação. Com esse retraimento, evitando um mal o homem cai em outro, pois esquece a lei de amor e caridade. 771. Que pensar dos que fogem do mundo para se devotarem ao amparo dos infelizes? — Estes se elevam ao se rebaixarem. Têm o duplo mérito de se colocarem acima dos prazeres materiais e de fazerem o bem pelo cumprimento da lei do trabalho. 771-a. E os que procuram no retiro a tranqüilidade necessária a certos trabalhos? — Esse não é o retiro absoluto do egoísta; eles não se isolam da sociedade, pois trabalham para ela. 772. Que pensar do voto de silêncio prescrito por algumas seitas, desde a mais alta Antigüidade? — Perguntais antes se a palavra é natural e porque Deus a deu. Deus condena o abuso e não o uso das faculdades por ele concedidas. Não obstante, o silêncio é útil porque no silêncio te recolhes. teu espírito se torna mais livre e pode então entrar em comunicação conosco. Mas o voto de silêncio é uma tolice. Sem dúvida, os que consideram essas privações voluntárias como atos de virtude têm boa intenção, mas se enganam por não compreenderem suficientemente as verdadeiras leis de Deus. O voto de silêncio absoluto, da mesma maneira que o voto de isolamento priva o homem das relações sociais que lhe podem fornecer as ocasiões de fazer o bem e de cumprir a lei do progresso. | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ALLAN KARDEC - O LIVRO DOS ESPÍRITOS Seg Nov 22, 2010 8:50 pm | |
| III — Laços de Família
773. Por que pais e filhos não se reconhecem entre os animais, quando os últimos não precisam mais de cuidados? — Os animais vivem a vida material e não a moral. A ternura da mãe pelos filhos tem por princípio o instinto de conservação aplicado aos seres que deu à luz. Quando esses seres podem cuidar de si mesmos sua tarefa está cumprida e a Natureza nada mais lhe exige. É por isso que ela os abandona para se ocupar de outros que chegam. 774. Há pessoas que deduzem, do abandono das crias pelos animais, que os laços de família entre os homens não são mais que o resultado de costumes sociais e não uma lei natural. Que devemos pensar disso? — O homem tem outro destino que não o dos animais; por que, pois, querer sempre identificá-los? Para ele, há outra coisa além das necessidades físicas: há a necessidade de progresso. Os liames sociais são necessários ao progresso e os laços de família resumem os liames sociais: eis porque eles constituem uma lei natural. Deus quis que os homens, assim, aprendessem a amar-se como irmãos. (Ver item 205). 775. Qual seria para a sociedade o resultado do relaxamento dos laços de família? — Uma recrudescência do egoísmo. | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ALLAN KARDEC - O LIVRO DOS ESPÍRITOS Qua Nov 24, 2010 11:30 pm | |
| Capítulo VIII
VII — Lei do Progresso
I — Estado Natural
776. O estado natural e a lei natural são a mesma coisa? — Não; o estado natural é o estado primitivo. A civilização é incompatível com o estado natural, enquanto a lei natural contribui para o progresso da Humanidade. O estado natural é a infância da Humanidade e o ponto de partida do seu desenvoivimento intelectual e moral. O homem, sendo perfectível e trazendo em si o germe de seu melhoramento, não foi destinado a viver perpetuamente no estado natural, como não foi destinado a viver perpetuamente na infância. O estado natural é transitório e o homem o deixa pelo progresso e a civilização. A lei natural, pelo contrário, rege toda a condição humana e o homem progride na medida em que melhor compreende e melhor pratica essa lei. 777. No estado natural, tendo menos necessidades, o homem não sofre todas as tribulações que cria para si mesmo num estado mais adiantado. Que pensar da opinião dos que consideram esse estado como o da mais perfeita felicidade terrena? — Que queres? É a felicidade do bruto. Há pessoas que não compreendem outra. É ser feliz à maneira dos animais. As crianças também são mais felizes que os adultos. 778. O homem pode retrogradar para o estado natural? — Não, o homem deve progredir sem cessar e não pode voltar ao estado de infância. Se ele progride, é que Deus assim o quer; pensar que ele pode retrogradar para a sua condição primitiva seria negar a lei do progresso. | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ALLAN KARDEC - O LIVRO DOS ESPÍRITOS Sex Nov 26, 2010 12:19 am | |
| II — Marcha do Progresso
779. O homem tira de si mesmo a energia progressiva ou o progresso não é mais do que o resultado de um ensinamento? — O homem se desenvolve por si mesmo, naturalmente, mas nem todos progridem ao mesmo tempo e da mesma maneira; é então que os mais adiantados ajudam os outros a progredir, pelo contato social. 780. O progresso moral segue sempre o progresso intelectual? — É a sua conseqüência, mas não o segue sempre imediatamente. (Ver itens 192-365). 780-a. Como o progresso intelectual pode conduzir ao progresso moral? — Dando a compreensão do bem e do mal, pois então o homem pode escolher. O desenvolvimento do livre arbítrio segue-se ao desenvolvimento da inteligência e aumenta a responsabilidade do homem pelos seus atos. 780-b. Como se explica, então, que os povos mais esclarecidos sejam freqüentemente os mais pervertidos? — O progresso completo é o alvo a atingir, mas os povos, como os indivíduos, não chegam â ele senão passo a passo. Até que tenham desenvolvido o senso moral eles podem servir-se de inteligência para fazer o mal. A moral e a inteligência são duas forças que não se equilibram senão com o tempo. (Ver itens 365-751). 781. É permitido ao homem deter a marcha do progresso? — Não, mas pode entravá-la algumas vezes. 781-a. Que pensar dos homens que tentam deter a marcha do progresso e fazer retrogradar a Humanidade? — Pobres seres que Deus castigará; serão arrastados pela torrente que pretende deter. 782. Não há homens que entravam o progresso de boa-fé, acreditando favorecé-lo, porque o vêem segundo o seu ponto de vista e freqüentemente onde ele não existe? — Pequena pedra posta sob a roda de um grande carro sem impedi-lo de avançar. 783. O aperfeiçoamento da Humanidade segue sempre uma marcha progressiva e lenta? — Há o progresso regular e lento que resulta da força das circunstâncias; mas quando um povo não avança bastante rápido, Deus lhe provoca, de tempos a tempos, um abalo físico ou moral que o transforma. Sendo o progresso uma condição da natureza humana ninguém tem o poder de se opor a ele. É uma força viva que as más leis podem retardar, mas não asfixiar. Quando essas leis se tornam de todo incompatíveis com o progresso ele as derruba com todos os que a querem manter, e assim será até que o homem harmonize as suas leis com a justiça divina, que deseja o bem para todos e não as leis feitas para o forte em prejuízo do fraco. O homem não pode permanecer perpetuamente na ignorância, porque deve chegar ao fim determinado pela Providência: ele se esclarece pela própria força das circunstâncias. As revoluções morais, como as revoluçôes sociais se infiltram pouco a pouco nas idéias, germinam ao longo dos séculos e depois explodem subitamente, fazendo ruir o edifício carcomido do passado, que não se encontra mais de acordo com as necessidades novas e as novas aspirações. O homem geralmente não percebe, nessas comoções, mais do que a desordem e a confusão momentâneas que o atingem nos seus interesses materiais, mas aquele que eleva o seu pensamento acima dos interesses pessoais admira os desígnios da Providência, que do mal fazem surgir o bem. São a tempestade e o furacão que saneiam a atmosfera, depois de a haverem revolvido. 784. A perversidade do homem é bastante intensa, e não parece que ele está recuando, em lugar de avançar, pelo menos do ponto de vista moral? — Enganas-te. Observa bem o conjunto e verás que ele avança, pois vai compreendendo melhor o que é o mal, e dia a dia corrige as seus abusos. E preciso que haja excesso do mal, para fazer-lhe compreender a necessidade do bem e das reformas. 785. Qual o maior obstáculo ao progresso? — São o orgulho e o egoísmo. Quero referir-me ao progresso moral, porque o intelectual avança sempre. Este parece, aliás, à primeira vista, duplicar a intensidade daqueles vícios, desenvolvendo a ambição e o amor das riquezas, que por sua vez incitam o homem às pesquisas que lhe esclarecem o Espírito. É assim que tudo se relaciona no mundo moral como no físico e que do próprio mal pode sair o bem. Mas esse estado de coisas durará apenas algum tempo; modificar-se-á à medida que o homem compreender melhor que além do gozo dos bens terrenos existe uma felicidade infinitamente maior e infinitamente mais durável. (Vede Egoísmo, cap. XII). Há duas espécies de progresso que mutuamente se apoiam e entretanto não marcham juntos: o progresso intelectual e o progresso moral. Entre os povos civilizados o primeiro recebe em nosso século tados os estímulos desejáveis, e por isso atingiu um grau até hoje desconhecido. Seria necessário que o segundo estivesse no mesmo nível. Não obstante, se compararmos os costumes sociais de alguns séculos atrás com os de hoje teremos de ser cegos para negar que houveprogresso moral. Por que, pois, a marcha ascendente da moral deveria mostrar-se mais lenta que a da inteligência? Por que não haveria entre o século décimo-nono e o vigésimo quarto tanta diferença nesse terreno como entre o décimo quarto e o décimo-nono? Duvidar disso seria pretender que a Humanidade tivesse atingido o apogeu da perfeição, o que é absurdo, ou que ela não é moralmente perfectível, o que a experiência desmente. | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ALLAN KARDEC - O LIVRO DOS ESPÍRITOS Seg Nov 29, 2010 10:16 pm | |
| III — Povos Degenerados
786. A História nos mostra uma multidão de povos que após terem sido convulsionados recaíram na barbárie. Onde está nesse caso o progresso? — Quando tua casa ameaça cair, tu a derrubas para a reconstruir de maneira mais sólida e mais cômoda; mas até que ela esteja reconstruída haverá desarranjos e confusões na tua morada. — Compreende isto também: és pobre e moras num casebre, mas ficas rico e o deixas para morar num palácio. Depois um pobre diabo, como o eras, vem tomar o teu lugar no casebre e se sente muito contente, pois antes não possuía um abrigo. Pois bem! Compreende então que os Espíritos encarnados nesse povo degenerado não são mais os que o constituíam nos tempos do seu esplendor. Aqueles, logo que se tornaram mais adiantados, mudaram-se para habitações mais perfeitas e progrediram, enquanto outros, menos avançados, tomaram o seu lugar, que por sua vez também deixarão. 787. Não há raças rebeldes ao progresso por sua própria natureza? — Sim, mas dia a dia elas se aniquilam corporalmente. 787-a. Qual será o destino futuro das almas que animam essas raças? — Chegarão à perfeição, como todas as outras, passando por várias existências. Deus não deserda a ninguém. 787-b. Então os homens mais civilizados podem ter sido selvagens e antropófagos? — Tu mesmo o foste, mais de uma vez, antes de seres o que és. 788. Os povos são individualidades coletivas que passam pela infância, a idade. madura e a decrepitude, como os indivídúos. Essa verdade constatada pela História não nos permite supor que os povos mais adiantados deste século terão o seu declínio e o seu fim, como os da Antigüidade? — Os povos que só vivem materialmente, cuja grandeza se funda na força e na extensão territorial, crescem e morrem porque a força de um povo se esgota como a de um homem; aqueles cujas leis egoístas atentam contra o progresso das luzes e da caridade, morrem porque a luz aniqüila as trevas e a caridade mata o egoísmo. Mas há para os povos, como para os indivíduos, a vida da alma, e aqueles, cujas leis se harmonizam com as leis eternas do Criador, viverão e serão o farol dos outros povos. 789. O progresso reunirá um dia todos os povos da Terra numa só nação? — Não em uma só nação, o que é impossível, pois da diversidade dos climas nascem costumes e necessidades diferentes, que constituem as nacionalidades. Assim serão sempre necessárias leis apropriadas a esses costumes e a essas necessidades. Mas a caridade não conhece latitudes e não faz distinção dos homens pela cor. Quando a lei de Deus constituir por toda parte a base da lei humana, os povos praticarão a caridade de um para outro, como os indivíduos de homem para homem, vivendo felizes e em paz, porque ninguém tentará fazer mal ao vizinho ou viver às suas expensas. A Humanidade progride através dos indivíduos que se melhoram pouco a pouco e se esclarecem; quando estes se tornam numerosos, tomam a dianteira e arrastam os outros. De tempos em tempos surgem os homens de gênio, que lhes dão um impulso; e depois; homens investidos de autoridade, instrumentos de Deus, que em alguns anos a fazem avançar de muitos séculos. O progresso dos povos faz ainda ressaltar a justiça da reencarnação. Os homens de bem fazem louváveis esforços para ajudar uma nação a avançar moral e intelectualmente; a nação transformada será mais feliz neste mundo e no outro, compreende-se; mas, durante a sua marcha lenta através dos séculos, milhares de indivíduos morrem diariamente, e qual seria a sorte de todos esses que sucumbem durante o trajeto? Sua inferioridade relativa os priva da felicidade reservada aos que chegam por último? Ou também a sua feficidade é relativa? A justiça divina não poderia consagrar semelhante injustiça. Pela pluralidade das existências, o direito à feticidade é sempre o mesmo para todos, porque ninguém é deserdado pelo progresso. Os que viveram no tempo da barbárie, podendo voltar no tempo da civilização, no mesmo povo ou em outro, é claro que todos se beneficiam da marcha ascendente. Mas o sistema da unicidade da existência apresenta neste caso outra dificuldade. Com esse sistema, a alma é criada no momento do nascimento, de maneira que um homem é mais adiantado que outro porque Deus criou para ele uma alma mais adiantada. Por que esse favor? Que mérito tem ele, que não viveu mais do que o outro, e geralmente menos, para ser dotado de uma alma superior? Mas essa não é a principal dificuldade. Uma nação passa, em mil anos, da barbárie à civilização. Se os homens vivessem mil anos poderia conceber-se que, nesse intervalo, tivessem tempo de progredir; mas diariamente morrem criaturas em todas as idades, renovando-se sem cessar, de maneira que dia a dia as vemos aparecerem e desaparecerem. No fim de um milênio não há mais traços dos antigos habitantes; a nação, de bárbara que era tornou-se civilizada: mas quem foi que progrediu? Os indivíduos outrora bárbaros? Esses já estão mortos há muito tempo. Os que chegaram por último? Mas se a sua alma foi criada no momento do nascimento, essas almas não existiriam no tempo da barbárie e é necessário admitir, então, que os esforços desenvolvidos para civilizar um povo têm o poder, não de melhorar as almas imperfeitas, mas de fazer Deus criar outras almas mais perfeitas. Comparemos esta teoria do progresso com a que nos foi dada pelos Espíritos. As almas vindas no tempo da civilização tiveram a sua infância, como todas as outras mas já viveram e chegam adiantadas em conseqüência de um progresso anterior; elas vêm atraídas por um meio que lhes é simpático e que está em relação com o seu estado atual. Dessa maneira, os cuidados dispensados à civilização de um povo não têm por efeito determinar a criação futura de almas mais perfeitas, mas atrair aquelas que já progrediram, seja as que já viveram nesse mesmo povo em tempos de barbárie, seja as que procedem de outra parte. Aí temos ainda a chave do progresso de toda a Humanidade. Quando todos os povos estiverem no mesmo nível quanto ao sentimento do bem, a Terra só abrigará bons Espíritos, que viverão em união fraterna. Os maus, tendo sido repelidos e deslocados irão procurar nos mundos inferiores o meio que lhes convém, até que se tornem dignos de voltar ao nosso meio, transformados. A teoria vulgar tem ainda esta conseqüência: os trabalhos de melhoramento social só aproveitam às gerações presentes e futuras; seu resultado é nulo para as gerações passadas, que cometeram o erro de chegar muito cedo e só avançaram na medida de suas forças, sob a carga dos seus atos de barbárie. Segundo a doutrina dos Espíritos, os progressos ulteriores aproveitam igualmente a essas gerações, que revivem nas condições melhores e podem aperfeiçoar-se no seio da civilização. (Ver item 222). | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ALLAN KARDEC - O LIVRO DOS ESPÍRITOS Ter Nov 30, 2010 11:13 pm | |
| IV — Civilização 790. A civilização é um progresso, ou, segundo alguns filósofos, uma decadência da Humanidade? — Progresso incompleto, pois o homem não passa subitamente da infância à maturidade. 790-a. É razoável condenar-se a civilização? — Condenai antes os que abusam dela e não a obra de Deus. 791. A civilizaçao se depurará um dia, fazendo desaparecer os males que tenha produzido? — Sim, quando a moral estiver tão desenvolvida quanto a inteligência. O fruto não pode vir antes da flor. 792. Porque a civilização não realiza imediatamente todo o bem que ela poderia produzir? — Porque os homens ainda não se encontram em condições, nem dispostos a obter esse bem. 792-a. Não seria ainda porque, criando necessidades novas, ela excita novas paixões? — Sim, e porque todas as faculdades do Espírito não progridem ao mesmo tempo; é necessário tempo para tudo. Não podeis esperar frutos perfeitos de uma civilização incompleta. (751-780). 793. Por que sinais se pode reconhecer uma civilização completa? — Vós a reconhecereis pelo desenvolvimento moral. Acreditais estar muito adiantados por terdes feito grandes descobertas e invenções maravilhosas; porque estais melhor instalados e melhor vestidos que os vossos selvagens; mas só tereis verdadeiramente o direito de vos dizer civilizado quando houveres banido de vossa sociedade os vícios que a desonram e quando passardes a viver como irmãos, praticando a caridade cristã. Até esse momento não sereis mais do que povos esclarecidos, só tendo percorrido a primeira fase da civilização. A civilização tem os seus graus, como todas as coisas. Uma civilização incompleta é um estado de transição que engendra males especiais, desconhecidos no estado primitivo, mas nem por isso deixa de constituir um progresso natural, necessário, que leva consigo mesmo o remédio para aqueles males. A medida que a civilização se aperfeiçoa, vai fazendo cessar alguns dos males que engendrou, e esses males desaparecerão com o progresso moral. De dois povos que tenham chegado ao ápice da escala social, só poderá dizer-se o mais civilizado, na verdadeira acepção do termo, aquele em que se encontre menos egoísmo, cupidez e orgulho; em que os costumes sejam mais intelectuais e morais do que materiais; em que a inteligência possa desenvolver-se com mais liberdade; em que exista mais bondade, boa-fé, benevolêncla e generosidade recíprocas; em que os preconceitos de casta e de nascimento sejam menos enraizados, porque esses pré-juízos são incompatíveis com o verdadeiro amor do próximo; em que as leis não consagrem nenhum privilégio e sejam as mesmas para o último como para o primeiro; em que a justiça se exerça com o mínimo de parcialidade; em que o fraco sempre encontre apoio contra o forte; em que a vida do homem, suas crenças e suas opiniôes sejam melhor respeitadas; em que haja menos desgraçados; e, por fim, em que todos os homens de boa vontade estejam sempre seguros de não lhes faltar o necessário. | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ALLAN KARDEC - O LIVRO DOS ESPÍRITOS Sex Dez 03, 2010 12:01 am | |
| V — Progresso da Legislação Humana
794. A sociedade poderia ser regida somente pelas leis naturais, sem o recurso das leis humanas? — Poderia, se os homens as compreendessem bem e quisessem praticá-las; então, seriam suficientes. Mas a sociedade tem as suas exigências e precisa de leis particulares. 795. Qual a causa da instabilidade das leis humanas? — Nos tempos de barbárie são os mais fortes que fazem as leis, e as fazem em seu favor. Há necessidade de modificá-las à medida que os homens vão melhor compreendendo a justiça. As leis humanas são mais estáveis à medida que se aproximam da verdadeira justiça,quer dizer, à medida que são feitas para todos e se identificam com a lei natural. A civilização criou novas necessidades para o homem e essas necessidades são relativas à posição social de cada um. Foi necessário regular os direitos e os deveres dessas posiçôes através de leis humanas. Mas, sob a influência das suas paixões, o homem criou, muitas vezes, direitos e deveres imaginários, condenados pela lei natural e que os povos apagam dos seus códigos à proporção que progridem. A lei natural é imutável e sempre a mesma para todos; a lei humana é variável e progressiva: somente ela pode consagrar, na infância da Humanidade, o direito do mais forte. 796. A severidade das leis penais não é uma necessidade, no estado atual da sociedade? — Uma sociedade depravada tem certamente necessidade de leis mais severas. Infelizmente essas leis se destinam antes a punir o mal praticado do que a cortar a raiz do mal. Somente a educação pode reformar os homens, que assim não terão mais necessidades de leis tão rigorosas. 797. Como o homem poderia ser levado a reformar as suas leis? — Isso acontecerá naturalmente, pela força das circunstâncias e pela influência das pessoas de bem, que o conduzem na senda do progresso. Há muitas que já foram reformadas e muitas outras ainda o serão. Espera! | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: ALLAN KARDEC - O LIVRO DOS ESPÍRITOS Sex Dez 03, 2010 11:59 pm | |
| VI — Influência do Espiritismo no Progresso
798. O Espiritismo se tornará uma crença comum ou será apenas a de algumas pessoas? — Certamente ele se tornará uma crença comum e marcará uma nova era na História da Humanidade, porque pertence à Natureza e chegou o tempo em que deve tomar lugar nos conhecimentos humanos. Haverá, entretanto, grandes lutas a sustentar, mais contra os interesses do que contra a convicção, porque não se pode dissimular que há pessoas interessadas em combatê-lo, umas por amor-próprio e outras por motivos puramente materiais. Mas os seus contraditores, ficando cada vez mais isolados, serão afinal forçados a pensar como todos os outros, sob pena de se tornarem ridículos. As idéias só se transformam com o tempo e não subitamente; elas se enfraquecem de geração em geração e acabam por desaparecer com os que as professavam e que são substituídos por outros indivíduos imbuídos de novos princípios, como se verifica com as idéias políticas. Vede o paganismo; não há ninguém, certamente, que professe hoje as idéias religiosas daquele tempo; não obstante, muitos séculos depois do advento do Cristianismo ainda havia deixado traços que somente a completa renovação das raças pode apagar. 0 mesmo acontecerá com o Espiritismo; ele faz muito progresso, mas haverá ainda, durante duas ou três gerações, um fenômeno de incredulidade que só o tempo fará desaparecer. Contudo, sua marcha será mais rápida que a do Cristianismo, porque é ó próprio Cristianismo que lhe abre as vias sobre as quais ele se desenvolverá. O Cristianismo tinha que destruir; o Espiritismo só tem que construir. 799. De que maneira o Espiritismo pode contribuir para o progresso? — Destruindo o materialismo, que é uma das chagas da sociedade, ele faz os homens compreenderem onde está o seu verdadeiro interesse. A vida futura, não estando mais velada pela dúvida, o homem compreenderá melhor que pode assegurar o seu futuro através do presente. Destruindo os preconceitos de seita, de casta e de cor ele ensina aos homens a grande solidariedade que os deve unir corno irmãos. 800. Não é de temer que o Espiritismo não consiga vencer a indiferença dos homens e o seu apego às coisas materiais? — Seria conhecer bem pouco os homens, pensar que uma causa qualquer pudesse transformá-los como por encanto. As idéias se modificam pouco a pouco, com os indivíduos, e são necessárias gerações para que se apaguem completamente os traços dos velhos hábitos. A transformação, portanto, não pode operar-se a não ser com o tempo, gradualmente, pouco a pouco. Em cada geração uma parte do véu se dissipa. O Espiritismo vem rasgá-lo de uma vez, mas mesmo que só tivesse o efeito de corrigir um homem de um só dos seus defeitos, isso seria um passo que ele o faria dar, e por isso mesmo um grande bem, porque esse primeiro passo lhe tornaria os outros mais fáceis. 801. Por que os Espíritos não ensinaram desde todos os tempos o que ensinam hoje? — Não ensinais às crianças o que ensinais aos adultos e não dais ao recém-nascido um alimento que ele não possa digerir. Cada coisa tem o seu tempo. Eles ensinaram muitas coisas que os homens não compreenderam ou desfiguraram, mas que atualmente podem compreender. Pelo seu ensinamento, mesmo incompleto, prepararam o terreno para receber a semente que vai agora frutificar. 802. Desde que o Espiritismo deve marcar um progresso da Humanidade, por que os Espíritos não apressam esse progresso através de manifestações tão gerais e patentes que passam levar a convicção aos mais incrédulos? — Desejaríeis milagres, mas Deus os semeia a mancheias nos vossos passos e tendes ainda os homens que os negam. O Cristo, ele próprio, convenceu os seus contemporâneos com os prodígios que realizou? Não vedes ainda hoje os homens negarem os fatos mais patentes que se passam aos seus olhos? Não tendes os que não acreditariam, mesmo quando vissem? Não, não é por meio de prodígios que Deus conduzirá os homens: Na sua bondade ele quer deixar-lhes o mérito de se convencerem através da razão. | |
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