| | FEDERICO GARCÍA LORCA - O REVOLUCIONÁRIO HOMOSSEXUAL | |
| | Autor | Mensagem |
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Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: FEDERICO GARCÍA LORCA - O REVOLUCIONÁRIO HOMOSSEXUAL Seg Fev 07, 2011 10:11 pm | |
| Federico García Lorca (Fuente Vaqueros, 5 de junho de 1898 - Granada, 19 de agosto de 1936) foi um poeta e dramaturgo espanhol, e uma das primeiras vítimas da Guerra Civil Espanhola devido ao seus alinhamentos políticos com a República Espanhola e por ser abertamente homossexual.
Biografia Nascido numa pequena localidade da Andaluzia, García Lorca ingressou na faculdade de Direito de Granada em 1914, e cinco anos depois transferiu-se para Madrid, onde ficou amigo de artistas como Luis Buñuel e Salvador Dali e publicou seus primeiros poemas.
Grande parte dos seus primeiros trabalhos baseiam-se em temas relativos à Andaluzia (Impressões e Paisagens, 1918), à música e ao folclore regionais (Poemas do Canto Fundo, 1921-1922) e aos ciganos (Romancero Gitano, 1928).
Concluído o curso, foi para os Estados Unidos da América e para Cuba, período de seus poemas surrealistas, manifestando seu desprezo pelo modus vivendi estadunidense. Expressou seu horror com a brutalidade da civilização mecanizada nas chocantes imagens de Poeta em Nova Iorque, publicado em 1940.
Voltando à Espanha, criou um grupo de teatro chamado La Barraca. Não ocultava suas idéias socialistas e, com fortes tendências homossexuais, foi certamente um dos alvos mais visados pelo conservadorismo espanhol que, sob forte influência católica, ensaiava a tomada do poder, dando início a uma das mais sangrentas guerras fratricidas do século XX.
Intimidado, Lorca retornou para Granada, na Andaluzia, na esperança de encontrar um refúgio. Ali, porém, teve sua prisão determinada por um deputado católico, sob o argumento (que tornou-se célebre) de que ele seria "mais perigoso com a caneta do que outros com o revólver".
Assim, num dia de agosto de 1936, sem julgamento, o grande poeta foi executado com um tiro na nuca pelos nacionalistas, e seu corpo foi jogado num ponto da Serra Nevada. Segundo algumas versões, ele teria sido fuzilado de costas, em alusão a sua homossexualidade. A caneta se calava, mas a Poesia nascia para a eternidade - e o crime teve repercussão em todo o mundo, despertando por todas as partes um sentimento de que o que ocorria na Espanha dizia respeito a todo o planeta. Foi um prenúncio da Segunda Guerra Mundial.
Exílio na morte Assim como muitos artistas durante o longo regime ditatorial do Generalíssimo Franco, suas obras foram consideradas clandestinas na Espanha.
Com o fim do regime, e a volta do país à democracia, finalmente sua terra natal veio a render-lhe homenagens, sendo hoje considerado o maior autor espanhol desde Miguel de Cervantes. Lorca tornou-se o mais notável numa constelação de poetas surgidos durante a guerra, conhecida como "geração de 27", alinhando-se entre os maiores poetas do século XX. Foi ainda um excelente pintor, compositor precoce e pianista. Sua música se reflete no ritmo e sonoridade de sua obra poética. Como dramaturgo, Lorca fez incursões no drama histórico e na farsa antes de obter sucesso com a tragédia. As três tragédias rurais passadas na Andaluzia, Bodas de Sangue (1933), Yerma (1934) e A Casa de Bernarda Alba (1936) asseguraram sua posição como grande dramaturgo. | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: FEDERICO GARCÍA LORCA - O REVOLUCIONÁRIO HOMOSSEXUAL Seg Fev 07, 2011 10:19 pm | |
| E Eu te Beijava
E eu te beijava sem me dar conta de que não te dizia: Oh lábios de cereja!
Que grande romântica eras! Bebias vinagre às escondidas de tua avó. Toda te enfeitaste como um arbusto de primavera. E eu estava enamorado de outra. Vê que pena? De outra que escrevia um nome sobre a areia.
Federico García Lorca, in 'Poemas Esparsos' | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: FEDERICO GARCÍA LORCA - O REVOLUCIONÁRIO HOMOSSEXUAL Qua Fev 01, 2012 12:46 pm | |
| O Poeta Pede a Seu Amor que lhe Escreva
Meu entranhado amor, morte que é vida, tua palavra escrita em vão espero e penso, com a flor que se emurchece que se vivo sem mim quero perder-te.
O ar é imortal. A pedra inerte nem a sombra conhece nem a evita. Coração interior não necessita do mel gelado que a lua derrama.
Porém eu te suportei. Rasguei-me as veias, sobre a tua cintura, tigre e pomba, em duelo de mordidas e açucenas.
Enche minha loucura de palavras ou deixa-me viver na minha calma e para sempre escura noite d'alma.
Federico García Lorca, in 'Poemas Esparsos' | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: FEDERICO GARCÍA LORCA - O REVOLUCIONÁRIO HOMOSSEXUAL Sáb Fev 04, 2012 9:41 pm | |
| Tenho Medo de Perder a Maravilha
Tenho medo de perder a maravilha de teus olhos de estátua e aquele acento que de noite me imprime em plena face de teu alento a solitária rosa.
Tenho pena de ser nesta ribeira tronco sem ramos; e o que mais eu sinto é não ter a flor, polpa, ou argila para o gusano do meu sofrimento.
Se és o tesouro meu que oculto tenho se és minha cruz e minha dor molhada, se de teu senhorio sou o cão,
não me deixes perder o que ganhei e as águas decora de teu rio com as folhas do meu outono esquivo.
Federico García Lorca, in 'Poemas Esparsos' | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: FEDERICO GARCÍA LORCA - O REVOLUCIONÁRIO HOMOSSEXUAL Seg Fev 06, 2012 10:40 pm | |
| Confusão
Meu coração é teu coração? Quem me reflexa pensamentos? Quem me presta esta paixão sem raízes? Por que muda meu traje de cores? Tudo é encruzilhada! Por que vês no céu tanta estrela? Irmão, és tu ou sou eu? E estas mãos tão frias são daquele? Vejo-me pelos ocasos, e um formigueiro de gente anda por meu coração.
Federico García Lorca, in 'Poemas Esparsos' | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: FEDERICO GARCÍA LORCA - O REVOLUCIONÁRIO HOMOSSEXUAL Qua Fev 08, 2012 10:39 pm | |
| Sinto
Sinto que em minhas veias arde sangue, chama vermelha que vai cozendo minhas paixões no coração.
Mulheres, por favor, derramai água: quando tudo se queima, só as fagulhas voam ao vento.
Federico García Lorca, in 'Poemas Esparsos' | |
| | | Anarca
Mensagens : 13406 Data de inscrição : 02/06/2009
| Assunto: Re: FEDERICO GARCÍA LORCA - O REVOLUCIONÁRIO HOMOSSEXUAL Qui Fev 16, 2012 9:55 pm | |
| Este é o Prólogo
Deixaria neste livro toda minha alma. Este livro que viu as paisagens comigo e viveu horas santas.
Que compaixão dos livros que nos enchem as mãos de rosas e de estrelas e lentamente passam!
Que tristeza tão funda é mirar os retábulos de dores e de penas que um coração levanta!
Ver passar os espectros de vidas que se apagam, ver o homem despido em Pégaso sem asas.
Ver a vida e a morte, a síntese do mundo, que em espaços profundos se miram e se abraçam.
Um livro de poemas é o outono morto: os versos são as folhas negras em terras brancas,
e a voz que os lê é o sopro do vento que lhes mete nos peitos - entranháveis distâncias. -
O poeta é uma árvore com frutos de tristeza e com folhas murchadas de chorar o que ama.
O poeta é o médium da Natureza-mãe que explica sua grandeza por meio das palavras.
O poeta compreende todo o incompreensível, e as coisas que se odeiam, ele, amigas as chama.
Sabe ele que as veredas são todas impossíveis e por isso de noite vai por elas com calma.
Nos livros seus de versos, entre rosas de sangue, vão passando as tristonhas e eternas caravanas,
que fizeram ao poeta quando chora nas tardes, rodeado e cingido por seus próprios fantasmas.
Poesia, amargura, mel celeste que mana de um favo invisível que as almas fabricam.
Poesia, o impossível feito possível. Harpa que tem em vez de cordas chamas e corações.
Poesia é a vida que cruzamos com ânsia, esperando o que leva nossa barca sem rumo.
Livros doces de versos são os astros que passam pelo silêncio mudo para o reino do Nada, escrevendo no céu as estrofes de prata.
Oh! que penas tão fundas e nunca aliviadas, as vozes dolorosas que os poetas cantam!
Deixaria no livro neste toda a minha alma...
Federico García Lorca, in 'Poemas Esparsos' | |
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